Restrição ao crédito prejudica economia – O Globo
- Na Mídia
- 19/01/2025
- Tendências

Redução da oferta de empréstimo consignado gera mais risco de inadimplência e menos espaço para o crescimento do consumo
Por Isabela Tavares*
O crédito consignado é uma importante modalidade dentro do crédito livre a pessoas físicas (PFs), com alta participação de tomadores de renda mais baixa. Em 2024, até novembro, somou R$ 212,6 bilhões, com participação de cerca de 7% nas concessões totais a PFs. É composto pelas linhas para pensionistas do INSS (46,5%), para servidores públicos (44,9%) e consignado privado (8,6%).
A carteira total do crédito consignado tem uma participação de 44% de pessoas que ganham até três salários mínimos. Em comparação, no crédito pessoal sem consignado em folha de pagamento essa participação é de 31,7% e, para cartão de crédito, de 38,4% — duas modalidades emergenciais e com juros mais altos por não terem garantias.
Neste ano, além do cenário econômico mais adverso, o crédito consignado deve ser prejudicado ainda mais pelo teto dos juros do INSS em níveis abaixo do custo de captação dos bancos. No começo de janeiro, o Conselho Nacional de Previdência Social aumentou o teto das taxas dos juros do consignado a aposentados e pensionistas do INSS de 1,66% para 1,80% ao mês, após a suspensão desse tipo de empréstimo por parte de algumas instituições financeiras.
Ainda que vá na direção correta para ampliar as concessões e facilitar o custo de financiamento para população de baixa renda, essa medida não deve ser suficiente para incentivar a oferta da modalidade, uma vez que o custo de captação dos bancos continua maior do que os juros finais cobrados, tornando as instituições bancárias mais seletivas justamente para o público que mais necessita.
Com a mudança recente no teto dos juros do consignado do INSS, os juros finais não podem ultrapassar 24% ao ano (ante 22% no teto antigo). Segundo cálculos da Tendências Consultoria com base em informações do Banco Central, em novembro do ano passado, o custo de captação do consignado do INSS estava em 13,1% ao ano. Considerando o limite imposto aos juros finais desse tipo de crédito, o spread máximo que poderia ser cobrado seria de 10,9% ao ano, tornando, portanto, o custo de captação maior do que a margem estabelecida pelos bancos para remunerar sua operação, riscos e outros fatores.
Para o mercado de crédito, essa dinâmica tende a reduzir a oferta da modalidade, o que é prejudicial sobretudo para a população de baixa renda, que não tem alternativas de empréstimos com as mesmas condições financeiras, situação que a obriga a migrar para modalidades de pior qualidade. Os juros para empréstimo pessoal não consignado estão em 5,9% ao mês (ou 99,3% ao ano). Para o comprometimento de renda das famílias com o pagamento do crédito, a modalidade não consignada tem peso duas vezes maior do que o consignado, o que mostra os efeitos adversos que a redução da oferta desse tipo de empréstimo tem na situação financeira das famílias, gerando, consequentemente, maior risco de inadimplência e menor espaço para o crescimento do consumo.
*Isabela Tavares é economista da Tendências Consultoria
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