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Rejeição a Donald Trump afeta economia mundial – CNBC

Em entrevista ao programa Real Time da CNBC, a sócia e diretora de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências, Alessandra Ribeiro, comenta o aumento da reprovação do presidente norte-americano em decorrência dos impactos na economia.

A preocupação com a situação fiscal não é só no Brasil. Alessandra acredita que os Estados Unidos estão em situação também muito similar, obviamente sendo um país com outras dimensões, outra taxa de juros, outra maturidade de dívida. Mas existe, sim, essa preocupação fiscal, até porque a dívida pública norte-americana já tem subido e existem vários exercícios, considerando essa política econômica do Trump, apontando para o aumento do déficit nos próximos anos.

Alessandra explica que a curva de endividamento pro país que era projetada e que já era de alta, com a implementação da política Trump, pode ser deslocada mais para cima, ou seja, o resultado ser o endividamento ainda maior dos Estados Unidos. 

Já temos observado vários membros do Banco Central americano (Fed) apontando uma cautela maior em relação à condução da política monetária, dados os reflexos potenciais dessa política econômica.

Tem uma outra política que o governo Trump tem sinalizado, que é de impostos para pessoas físicas e jurídicas, que na verdade até estimula a demanda, junto com desregulamentação dos setores. Então, temos várias políticas que, conjuntamente, não só aumentam o déficit fiscal e o endividamento nos Estados Unidos, mas têm reflexos inflacionários.

Alessandra diz que o Banco Central americano já tem apontado bastante cautela. Tanto é que para esse ano, os mercados e os analistas, de forma geral, já revisaram bem a expectativa para o juros. Havia uma expectativa de que os juros poderiam cair bem nos Estados Unidos nesse ano e, hoje, a aposta majoritária é que tem apenas uma queda de 25 pontos, dada a cautela do Fed em relação aos reflexos dessa política para a inflação.

Ao ser questionada sobre como essas tarifas de importação de Trump estão afetando a inflação e a economia dos Estados Unidos, Alessandra diz que o que temos na prática ainda são poucas tarifas aplicadas. Na verdade, a maior parte do que foi anunciado ainda não entrou efetivamente em operação.

Temos visto o governo Trump negociar esse período para implementação com os principais países, como o Canadá, o México, a China e mesmo países como o Brasil, na sinalização de tarifa para importação do aço. Ainda não vimos a implementação de fato de uma boa parte dessas tarifas, mas o que acontece é que os agentes econômicos já antecipam os efeitos, porque os efeitos tendem a ser no sentido de aumento de preços nos Estados Unidos, porque você nem sempre consegue substituir tão rapidamente a importação por produção doméstica. Isso, quando acontece, leva um bom período de tempo.

Alessandra explica que, diante da ameaça, já vemos os agentes econômicos antecipando os efeitos e com o potencial de repassar isso para o preço hoje, efetivamente. Então, o risco que observamos é de uma inflação muito resiliente.

E obviamente que a antecipação desses efeitos afeta o dia a dia das pessoas, que sentem na prática os preços mais elevados, afetando o seu potencial de consumo.

Ao ser questionada se é razoável dizer que os preços altos favoreceram a eleição do Trump e se vê uma tendência mundial de insatisfação com os preços pós-pandemia, com o eleitorado de vários países está perdendo a paciência com os preços altos, Alessandra acredita que essa questão da inflação impactou muito realmente a população de maneira global.

Isso porque vimos pressões de preços muito expressivas no mundo todo e isso é reflexo de problemas pelo lado da oferta, porque a pandemia afetou várias cadeias de produção, e ao mesmo tempo muito estímulo fiscal e monetário dos países para lidar com os efeitos da pandemia. Então isso aumentou a demanda.

Alessandra explica que foi uma junção de problema de oferta com aumento de demanda e a inflação ficou muito alta, demorando muito tempo para ceder. Até porque os bancos centrais, principalmente dos países desenvolvidos, como o Banco Central americano, não entenderam a situação tão rapidamente. Levou tempo para eles entenderem que o problema inflacionário era muito mais complicado. E aí, o resultado foi uma inflação muito mais resiliente por mais tempo.

Então, sim, as pessoas no mundo todo estão muito mais sensíveis à inflação. E isso foi um fator muito crítico para a potencial eleição do Biden, que sofreu muito na sua popularidade, dados os efeitos disso para a vida dos consumidores.

Alessandra ainda aponta que o grande risco agora, com a implementação dessa política Trump, é a inflação continuar incomodando. Ela acredita que esse é o principal risco: continuar incomodando. E isso certamente afetará a popularidade do presidente Trump.

E nos Estados Unidos, eles têm as eleições para o Congresso no meio do mandato. O risco é o governo e o Partido Republicano já serem bem penalizados nessa eleição de meio de mandato, caso a inflação continue alta. É o que Alessandra acredita ser o risco principal e mais provável desse cenário inflacionário dos Estados Unidos.

Alessandra diz que, aqui no Brasil, também é um cenário bastante sensível. Até porque, quando olhamos não só a inflação total, que fechou o ano passado em 4,8% – lembrando que a meta é 3% – mas os preços de alimentos, eles mostraram uma trajetória bastante complicada no ano passado.


Olhando a alimentação no domicílio, ela mostrou uma alta de 8,2% no ano passado. Em 2023, tinha caído ligeiramente, com uma deflação. Então, claramente, essa pressão nos preços, e principalmente em alimentos, dado o peso dos alimentos na cesta média do consumidor brasileiro, afeta bastante a popularidade.

Então, não é à toa que o governo está tentando sinalizar medidas para conter principalmente os preços dos alimentos, porque ele sabe que isso bate na popularidade. Mas Alessandra diz que, infelizmente, os efeitos dessas medidas sinalizadas, com relação a distribuidores de ovos, de combustíveis, os supermercadistas também entrarando no meio da discussão, são bem cosméticos – Alessandra acredita que é praticamente zero.

Gastou-se bastante do ponto de vista dos gastos públicos, isso aqueceu a demanda e também contribuiu para essa alta de preços. Alessandra explica que é fato que não é só isso, pois temos também na questão dos alimentos os problemas climáticos. A tragédia no Rio Grande do Sul, depois a estiagem que afetou também o ano passado. Tudo isso contribuiu para essa alta. Mas Alessandra também diz que a economia foi inflada e também 

Sobre as projeções da Tendências para o fim desse ano de inflação e PIB, Alessandra diz que eles projetam um IPCA de 5,5%, ou seja, mais forte do que no ano passado, que foi 4,8%, sendo uma aceleração da inflação.

A inflação de alimentos deve ser um pouco menor; com a projecção sendo 6,9% para essa inflação de alimentos no domicílio, ante 8,2% do ano passado, mas, ainda assim, sendo uma inflação de alimentos alta. E a projeção do PIB é de desaceleração, passando de uma alta de 3,4% no ano passado para 1,9% este ano. Uma economia que perde tração, mas ainda sustenta uma inflação elevada.

Reprodução. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!