Incertezas para 2024 – O Globo
- Na Mídia
- 09/01/2024
- Tendências
A possibilidade de retorno de Trump à Casa Branca tende a alimentar a volatilidade nos mercados financeiros
Por Silvio Campos Neto*
O clima benigno dos mercados internacionais ao fim de 2023 será desafiado por diversas fontes de incerteza em 2024, como a consolidação da volta da inflação às metas no mundo avançado, a capacidade da China de sustentar sua economia, os conflitos e as tensões geopolíticas em curso e o conturbado processo eleitoral nos Estados Unidos.
A expectativa é de menor crescimento nas principais regiões, com exceção da Zona do Euro, que tende a manter o desempenho fraco observado em 2023. No caso dos Estados Unidos, que deverá fechar 2023 com ritmo ainda notável de expansão, ao redor de 2,5%, o cenário para 2024 é de variações próximas de zero nos próximos trimestres. A projeção de crescimento de 1,5% conta basicamente com o efeito do carregamento de 2023 e alguma expansão ao final do ano, embora exista o risco de trimestres de contração ao longo de 2024, o que reduziria o resultado do ano.
Na China, a perspectiva é de crescimento de 4,5%, depois do ritmo provavelmente pouco acima de 5% em 2023. Apesar da capacidade de fornecer impulsos a fim de atingir as metas de crescimento, o país exibe tendência estrutural de desaceleração, em contexto de elevado endividamento público e privado, crise persistente no setor imobiliário, excesso de capacidade em diversos setores e pressões para o alcance de metas ambientais.
A questão inflacionária e a condução da política monetária estão ligadas a isso. Apesar da redução das pressões observada nos últimos meses, há dúvidas quanto à preservação do ciclo desinflacionário em contexto de afrouxamento das condições financeiras e resiliência do mercado de trabalho, principalmente nos Estados Unidos. O cenário previsto por nós contempla condução cautelosa da política monetária, com o primeiro corte em junho e redução de 100 pontos-base ao longo do ano, que levaria a taxa de juros americana (Fed Funds) a encerrar 2024 no intervalo entre 4,25% e 4,50%.
Sem perspectiva de desfecho na guerra envolvendo Rússia e Ucrânia e com o conflito entre Israel e Hamas, tais temas devem continuar no radar nos próximos meses. Em outro front, as eleições presidenciais em Taiwan em 13 de janeiro devem reativar as atenções sobre esse importante foco de risco, dadas as pretensões de Pequim de exercer maior controle sobre a ilha.
As eleições presidenciais americanas em novembro podem também causar instabilidade. Persiste, por ora, certo favoritismo das candidaturas do atual presidente, Joe Biden, pelo lado democrata e do ex-presidente Donald Trump, pelo lado republicano. Se Biden exibe baixa aprovação interna, a possibilidade de retorno de Trump à Casa Branca tende a alimentar a volatilidade nos mercados, diante de potenciais implicações em termos geopolíticos e comerciais, num mundo ainda mais complexo e instável em relação ao observado durante seu mandato anterior.
*Silvio Campos Neto é economista sênior e sócio da Tendências Consultoria
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