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Governo apresenta mudanças na estratégia de comunicação – BandNews

Em entrevista para a BandNews, Rafael Cortez, Cientista Político da Tendências Consultoria, discute as mudanças na estratégia de comunicação apresentadas pelo governo.

Ao ser questionado como analisa a reforma ministerial do governo, especialmente na pasta da Saúde, que é tão robusta e tem um grande volume de recursos, com muitos partidos de olho nela, Cortez responde que o volume de recursos dessa pasta é um grande atrativo político e explica que uma pasta com tantos recursos e políticas públicas importantes acaba se tornando uma bandeira para qualquer administração, para o bem ou para o mal.

Ele diz que, na metade final do mandato de Lula, o governo tem a tarefa de não apenas implementar políticas públicas, mas também de construir um projeto eleitoral para 2026. A pasta da Saúde, que tem recursos volumosos, mas talvez não tenha a mesma dimensão política, poderia ser uma das áreas a passar por mudanças. Cortez considera natural a possibilidade de uma substituição, já que o governo Lula busca reconstruir sua base aliada e melhorar a governabilidade para o restante do mandato.

Cortez acredita que uma possível escolha de alguém do centrão pode ser uma estratégia de Lula para ampliar a base de apoio do governo, especialmente pensando nas eleições de 2026.

Ele também menciona que o governo do PT reconhece a necessidade de caminhar mais para o centro e que esse diagnóstico é compartilhado por vários membros do governo. Isso se reflete em uma tentativa de incorporar partidos de centro-direita na base de apoio da administração.

Cortez acrescenta que o PT também disputa internamente o controle da pasta de Relações Institucionais, com figuras como o ministro Rui Costa, da Casa Civil, e o ministro Fernando, da Economia, sendo possíveis nomes para assumir a articulação.

A escolha do próximo nome terá grande impacto na agenda econômica do governo, que tem enfrentado críticas, especialmente devido a questões como a reforma tributária e a popularidade do governo.

Sobre a “nova cara” da comunicação do governo Lula, Cortez diz que o governo já tinha sinalizado que o maior problema seria essa comunicação política, com um diagnóstico apontando que, apesar da recuperação da economia e do crescimento, a comunicação foi mal feita.

Com isso, houve uma mudança na Secom e começamos a ver mais participação de Lula, numa tentativa de fazer dele o protagonista da agenda. Ou seja, o governo não precisaria responder aos pontos trazidos pela oposição ou por outros grupos, mas, sim, criar suas próprias manchetes e dominar o debate.

Cortez explica que o governo está tentando controlar seus próprios destinos em termos de comunicação. A questão é que, embora a comunicação tenha grande impacto nas democracias de massa, é necessário ter algo concreto para comunicar.

Cortez não acredita que a simples mudança na comunicação seja suficiente para recuperar a popularidade de Lula. Existe um problema maior no plano político, que é, de alguma forma, uma decepção com a administração Lula 3, apesar da retomada de alguns programas sociais.

Ao ser questionado sobre quais programas ele acredita que têm o potencial de se tornar as novas grandes bandeiras do governo Lula, Cortez diz que o Pé de Meia, por exemplo, pode ser uma delas. Em breve, virá a tributação da renda, com a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000, que também é uma bandeira anunciada pela atual administração.

Cortez explica que esses são os tipos de programas que podem ser reconhecidos no vocabulário cotidiano dos eleitores, como o Bolsa Família, a Farmácia Popular, o Mais Médicos, o Luz Para Todos, entre outros.

Esses programas sociais, ao longo do tempo, ajudaram a sustentar a imagem do presidente como alguém comprometido com as questões sociais. Isso foi muito bem-sucedido nas administrações anteriores, mas, à luz do que vimos neste mandato, essa bandeira parece não ser mais suficiente para manter a popularidade em alta.

É verdade que a inflação aumentou, mas Cortez diz que, se analisarmos os resultados econômicos do governo Lula, vemos que são bastante positivos: crescimento econômico acima do esperado, mercado de trabalho aquecido e renda crescendo de forma sustentável nos dois primeiros anos. Ou seja, há dados econômicos positivos para o governo.

Então, a questão que fica é: por que ele não está conseguindo gerar capital político a partir desses resultados econômicos? Uma leitura é que isso está relacionado à necessidade de renovação, de trazer algo novo para manter sua base tradicional, mas também para atrair novos eleitores para sua coalizão de sustentação. Ele fez isso nas eleições de 2022, mas não conseguiu manter essa base ao longo deste mandato. Cortez diz que precisamos observar se, com essa reversão na comunicação, o governo terá mais sucesso nessa empreitada.

É natural que o presidente seja utilizado como “garoto-propaganda”. Cortez diz que, certamente, a principal vitrine do PT é uma liderança, e, se tivéssemos que escolher a liderança mais relevante da democracia brasileira nas últimas décadas, Lula certamente seria o nome mais importante. Sua biografia fala por si mesma. 

A questão, para Cortez, é como adaptar esses atributos — seja o desempenho de seus governos, seja suas características pessoais — à atual realidade política. E qual é essa realidade política? Uma rejeição consolidada ao presidente Lula em um patamar elevado, como mostram as pesquisas de opinião pública. A rejeição não diminui, independentemente da situação econômica.

Cortez explica que o mandato de Lula 3 é diferente, tanto do ponto de vista político quanto do contexto de uma sociedade polarizada. A ideia do Lula como uma figura acima do bem e do mal, como aconteceu no auge de seu segundo mandato, quando basicamente nove em cada 10 brasileiros diziam que sua administração era ótima ou boa, já ficou para trás.

Além disso, a economia atual exige outros desafios para crescer de forma sustentável. A grande questão não tem a ver com o reconhecimento do protagonismo de Lula, mas sim com a forma como ele usará esse protagonismo nesse ambiente político diferente.

Uma boa parte das falas e do tipo de discurso já não tem mais o mesmo impacto em determinados setores. Por isso, Cortez acredita que a combinação de um governo performando, ou seja, entregando resultados de qualidade na segunda metade de seu mandato, com uma compreensão de que a realidade política mudou, será o que ajudará Lula e sua equipe a mobilizarem os eleitores de forma mais eficaz.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!