Salário dos mais ricos tem maior alta; parcela mais pobre vê pouco ganho – O Globo

Salário dos mais ricos tem maior alta; parcela mais pobre vê pouco ganho - O Globo

Dados do IBGE mostram que famílias com melhores condições financeiras já conseguiram voltar ao nível pré-pandemia

Os dados divulgados ontem pelo IBGE mostram que os 10% mais ricos da população brasileira tiveram ganhos mais altos no mercado de trabalho, registrando uma alta de 10,4% em 2023 se comparado a 2022 – o equivalente a R$ 12.163 por pessoa da família ao mês. O percentual indica que esse grupo, que tende a ter maior qualificação profissional e escolaridade, conseguiu voltar ao nível em que se encontrava no pré-pandemia. Na base da pirâmide de renda, a fatia mais pobre também teve ganho, mas apenas de 1,8% (R$ 389 por pessoa ao mês).

– Os mais ricos contam com rendimentos do capital financeiro e propriedades, além de lucros e dividendos. Existe ainda uma parcela que depende dos salários, associado à elite do funcionalismo público. Mas são essas outras fontes que garantiram uma forte alta (da renda como um todo em 2023) – explica Lucas Assis, economista da Tendências.

Crescimento desigual

A literatura aponta que, como tendência, a recomposição de salários após a ocorrência de uma crise tende a ocorrer de forma desigual, explica Luiza Nassif-Pires, diretora do Made-USP (Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo):

– O efeito da crise demora mais a passar para os grupos menos favorecidos e passa mais rápido para os mais favorecidos. Este é também um dos elementos pelo qual a gente tem uma exacerbação da desigualdade.

No primeiro ano da crise sanitária, os ganhos dos trabalhadores mais qualificados até subiram, mas por causa de um efeito estatístico – houve redução no número de ocupados no auge da pandemia, e quem continuou trabalhando, em geral, tinha salário mais elevado.

Só que, depois, os ganhos médios caíram em 2021 e 2022. Foi o que aconteceu com a advogada Andrea Vidal, de 52 anos, que mora na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, e trabalha em São João de Meriti, na Baixada Fluminense.  Sua renda foi atingida em cheio pela Covid-19, inclusive em 2020.

– No ano da pandemia (a renda) realmente caiu muito, foi péssimo. O Judiciário ficou fechado por muito tempo, então a gente não tinha sentença, não tinha decisões e não tinha ganhos. E, pós-pandemia, continuou praticamente a mesma coisa – conta Andrea. – Para dizer a verdade, só começou a normalizar ano passado.

Entre os 10% mais pobres, a alta de 1,8% significou um ganho de R$ 389 por pessoa por mês; valor abaixo do salário mínimo (R$1.412). Desde a pandemia, a comparação é mais favorável: alta de 12,4%;

Os cálculos para se chegar aos ganhos no mercado de trabalho consideram os valores recebidos por todas as atividades laborais, formais ou informais, e a renda domiciliar por pessoa, considera cada membro da família, incluindo quem não trabalha, como crianças e idosos.

Para Assis, os números de emprego e renda do IBGE revelam que o mercado de trabalho se recuperou totalmente dos prejuízos causados pela pandemia, tanto em nível de ocupação quanto em termos de rendimento médio. Mas o cenário em 2019, pré-Covid 19, já era marcado por condições deterioradas do mercado de trabalho que o país não conseguiu superar:

– O nível de ocupação, que é o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar, ainda segue abaixo dos que a gente via há uma década, no início da série histórica em 2012.

A expectativa é que em 2024 haja uma forte desaceleração no crescimento da ocupação e do rendimento médio, em linha com a perda de fôlego da atividade, projeta o economista da Tendências.

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