PIB cresce 2,9% em 2023 – O Globo

PIB cresce 2,9% em 2023 - O Globo

Número foi 3 vezes o projetado no início do ano, mas 2º semestre ficou estagnado

A economia brasileira cresceu pouco mais de três vezes o que o mercado previa no início do ano passado e fechou 2023 com alta de 2,9%; Na primeira semana de janeiro do ano passado, as projeções compiladas pelo Banco Central (BC) apontavam para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 0,8%, mas o número foi subindo à medida que dados mais positivos foram sendo divulgados ao longo do ano.

O resultado no primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi puxado pelo desempenho do agronegócio, que teve expansão recorde,  e pela indústria extrativa, no lado da oferta. No lado da demanda, o consumo das famílias, com alta de 3,1%, e as exportações, com salto de 9,1%, foram os motores.

A agropecuária cresceu 15,1% no ano. A indústria extrativa, que inclui os setores de mineração e petróleo e gás, teve alta de 8,7%. Somados, os dois setores, produtores das principais matérias-primas exportadas pelo país, responderam por metade do crescimento de 2,9%, informou o IBGE. Os serviços, com quase 70% de peso no total da economia, cresceram 2,4%.

Para Gabriel Couto, economista do banco Santander, o resultado de 2023 veio bem acima do que boa parte dos analistas esperavam no início do ano passado por causa do desempenho da agropecuária, mas a atividade econômica como um todo foi mais aquecida do que o previsto.

– O mercado de trabalho mostrou uma resiliência maior do que a gente esperava. Em certa medida, isso gerou algum impulso maior no consumo. Pela ótica de oferta, isso teve um efeito no setor de serviços.

Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria, lembrou que a agropecuária depende menos do ciclo de demanda, associado a emprego, renda e consumo, que é afetado pela política monetária, por meio de altas ou quedas na taxa básica de juros (a Selic, hoje em 11,25% ao ano).

– Obviamente, tem investimento e muita coisa por trás desse desempenho da agropecuária e da indústria extrativa, mas não é aquela coisa que, no ano, é determinada muito pela conjuntura, como juros e aquelas coisas que afetam a atividade econômica – disse Alessandra, concordando que a economia como um todo ficou mais aquecida. – Vimos maior resiliência da atividade econômica. Fomos entendendo isso ao longo do ano. Na nossa avaliação, o que explica essa resiliência é a própria economia global.

Resultado desigual

A atividade mais aquecida se refletiu no avanço de 3,1% do consumo das famílias. Esse componente da demanda foi impulsionado pelo aumento do emprego e da renda no mercado de trabalho, pelo reajuste no salário mínimo, pelo salto no valor dos benefícios do Bolsa Família e pela desaceleração da inflação, principalmente dos alimentos, mas os juros altos evitaram um desempenho melhor.

Vitor Palmieri, de 37 anos, é um exemplo da melhora no mercado de trabalho. Após sete anos em busca da recolocação, em setembro do ano passado ele foi admitido como produtor audiovisual no Instituto Nacional do Câncer (Inca). O novo emprego trouxe um aumento do poder de compra para sua família.

– Tivemos o poder de compra restabelecido para artigos de necessidade em uma quantidade mais confortável. Ou até na escolha de marcas de preferência – disse Palmieri, ressaltando que o emprego trouxe a oportunidade de regularizar pendências financeiras. – O orçamento doméstico sob controle abre brecha para o consumo.

Apesar do crescimento maior do que o inicialmente previsto, o desempenho do PIB foi desigual. O avanço foi todo concentrado no primeiro semestre, enquanto a segunda metade do ano foi marcada pela estagnação. Tanto o terceiro quanto o quarto trimestre tiveram crescimento nulo sobre os três meses imediatamente anteriores.

O crescimento na primeira metade do ano tem a ver com a supersafra de grãos. A produção de soja, principal cultura de grãos do país, se concentra no primeiro semestre. Sem ela na conta, o PIB da agropecuária é, geralmente, mais fraco nos segundos semestres.

Com o clima atrapalhando a safra 2023/2024, que deverá ser menor do que a anterior, a agropecuária puxará a economia para baixo neste ano, ainda que pouco. Mas outras atividades vão puxar o PIB. Economistas esperam um aumento de fôlego da atividade neste início de 2024 e já se fala em crescimento de 0,6% no primeiro trimestre, mas a aceleração mesmo deverá vir na segunda metade do ano, quando a atividade começará a sentir os efeitos da redução dos juros, que devem chegar a 9% ao ano, de acordo com as expectativas.

Couto, do Santander, destaca que a retomada do pagamento dos precatórios – como são chamadas as dívidas dos governos com pessoas e empresas cujo pagamento já foi reconhecido em decisões judiciais –, iniciado no fim do ano passado, deverá gerar um aumento na renda das famílias neste início de ano, sustentando o consumo.

Perto de 2%

Alguns bancos e consultorias começam a preparar as revisões das estimativas para este ano. O Itaú informou em relatório que está prevendo 1,8%, mas com viés de alta para a estimativa. Para a economista do banco, Natália Cotarelli, o mercado de trabalho ainda aquecido e o reajuste do salário mínimo impulsionarão a atividade este ano. Nem mesmo a queda de 0.2% no consumo das famílias no quarto trimestre de 2023 ante o terceiro preocupa a economista:

– Tínhamos essa desaceleração na conta. Ela veio um pouco mais forte no fim do ano passado, mas, se olharmos, foi em especial no consumo de bens, nem tanto de serviços. Tem tudo para retomar ao longo deste ano, principalmente no primeiro trimestre.

A XP também está revisando suas projeções. Atualmente, está em 1,5%, mas deve subir para próximo de 2%. 

Na visão de Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), o ritmo da economia neste ano será menor do que em 2023 por causa de uma expansão mais fraca da indústria extrativa, da agropecuária e do setor de serviços:

– A característica do PIB deste ano é diferente: começamos mais devagar e vamos acelerando à medida que os juros caem. Já em 2025, deverá ser o melhor, puxado novamente pela agropecuária e pela indústria extrativa, com novos poços de petróleo entrando na conta.

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