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Investimentos recuam 3%, a maior queda desde 2016 – O Globo

Indústria de transformação tem o pior desempenho de 2023, com recuo de 1,3%. Construção civil também fica negativa

A queda de 3% dos investimentos foi a má notícia do PIB de 2023. Ano passado os investimentos tiveram o pior desempenho desde 2016, quando a economia ainda estava em recessão associada, à crise fiscal e à política que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A redução foi mais forte até mesmo que o recuo de 1,7% de 2020, quando a economia parou de forma inédita por causa da Covid-19.

Economistas chamam a atenção para esse comportamento do PIB porque, além de movimentar a economia no presente, os investimentos aumentam a capacidade de crescer no futuro.

Os juros elevados para conter a inflação – que subiu, mundo afora, na esteira dos impactos atípicos da pandemia – foram citados por economistas como o principal motivo para a derrubada dos investimentos.

As taxas influenciam as decisões de empresas e investidores pelo custo do financiamento e pela atratividade maior dos títulos públicos, pelo retorno alto e garantido.

Na média, juro alto

Segundo o IBGE, embora a taxa básica de juros, a Selic, tenha começado a cair no segundo semestre – hoje, está em 11,25% ao ano –, na média, ela ficou em 13% ao ano em 2023. Em 2022, a média tinha sido de 12,4%.

O efeito foi sentido nos dois principais componentes dos investimentos, a construção civil e os bens de capital. A primeira, que responde por 45% do investimento, caiu 0,5%, depois de ter crescido 6,8% em 2022. As máquinas e equipamentos tiveram um desempenho ainda pior, com queda de 9,4% ano passado, conforme o IBGE.

Isso ajuda a explicar a crise na indústria de transformação, que recuou 1,3%, o pior desempenho entre todas as atividades pela ótica da oferta. No quarto trimestre, a indústria manufatureira atingiu um nível de atividade 18,5% abaixo do pico, registrado no terceiro trimestre de 2008, antes da crise financeira internacional deflagrada naquele ano.

Alguns economistas apontaram para um comportamento conjuntural na queda dos investimentos, que já deverá ser seguida por uma retomada, mesmo que gradual, este ano. Essa recuperação teria sido sinalizada pela alta de 0,9% dos investimentos na comparação do quarto com o terceiro trimestre.

A pesquisadora Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), lembrou que já era esperada uma acomodação após um ciclo de alta em 2021, quando os juros baixos levaram os setores de energia e construção a investir.

A transição de governo no plano federal, com uma guinada na política econômica, também pode ter contribuído para o mau desempenho, mas Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, ressaltou que os indicadores do mercado financeiro que medem o risco-país caíram ao longo do ano passado. 

A economista acha que, ainda que o governo dê sinais contraditórios para o investimento privado, o efeito da transição política também pode ser conjuntural.

Aposta no futuro

Já Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria, vê com mais preocupação a queda dos investimentos. Lembrando que a decisão de investir é uma “aposta no futuro”, o especialista ressaltou que haveria motivos para os investimentos seguirem crescendo. A perspectiva de crescimento do consumo das famílias, exportações “sólidas” e um cenário “de modo geral benigno” justificariam essa aposta, mas os ruídos no governo podem reduzir o apetite por investir:

– A minha percepção é que as declarações de muitos no governo e ações que representam certo retrocesso no âmbito de política econômica geram maior incerteza, que amortece a vontade de investir. Há muito vai e vem, inclusive por força de certas iniciativas do Congresso, além de uma insegurança jurídica que permanece como barreira número um – disse Frischtak.

Com a queda, a parcela do PIB destinada ao investimento caiu de 17,8% para 16,5%.