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Plano Safra: governo adia lançamento e frustra o agro – Rádio Jovem Pan

Em entrevista à rádio Jovem Pan de São Paulo, o cientista político e sócio da Tendências Rafael Cortez comenta sobre a decisão do governo pelo adiamento do lançamento do Plano Safra e seus impactos para o setor do agronegócio.

O governo adiou o anúncio do Plano Safra, que é a principal política pública voltada para o setor agro. O plano estava previsto para ser anunciado na quarta-feira, dia 25 de junho, e agora está programado para o dia 3 de julho. Segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, o atraso ocorreu porque o governo precisava de tempo para preparar o evento.

A notícia frustrou o agronegócio, que aguardava o anúncio do volume de recursos e taxas de juros. Tradicionalmente, o Plano Safra entra em vigor no dia primeiro de julho e, desta vez, ele será anunciado depois, o que deverá impactar na chegada dos recursos aos bancos.

A Frente Parlamentar da Agropecuária lamentou profundamente o adiamento do Plano Safra. Em comunicado oficial, a bancada do agro no Congresso disse que a medida demonstra desorganização e ineficiência por parte do governo federal.

Quando questionado sobre os sinais políticos que o fato do governo não priorizar o Plano Safra e, por isso, não dar tempo e ter que mudar a data nos dá, Cortez diz que não diria que é uma leitura de não prioridade do Plano Safra, mas, sim, um reflexo dos dilemas orçamentários que o governo vem apresentando. O governo tem uma série de problemas no campo orçamentário.

“A gente tem visto, em paralelo, essa discussão mais voltada para o agro. As dificuldades que o governo encontra, seja para 2024, seja já pensando em 2025, de equilibrar os gastos. Nós estamos falando aqui do governo conseguir cumprir metas fiscais. A gente tem visto o dólar cada vez mais desvalorizado. Uma boa parte dessa desvalorização tem a ver com essa crise na política fiscal e esse é o grande problema do governo. As manifestações desse problema vão aparecendo, como apareceu no caso do Plano Safra, que é basicamente fazer com que o programa caiba no orçamento e dialogue com outras pastas. Eu diria que é mais um reflexo de um problema de governança mais geral do governo, que passa pela questão política e pelo tratamento do tema fiscal.”, explica Cortez.

Sobre uma relação mais “azeda” de Lula com o agro e se isso afeta o Plano Safra, Cortez diz que, “naturalmente, sempre há uma questão política envolvendo onde você vai gastar o recurso escasso ou de quem você vai tributar numa agenda, por exemplo, de recuperação fiscal. Então, de alguma maneira, essas questões estão colocadas.”

“Eu só não acho que é o objetivo do governo olhar para o Plano Safra pensando nessa transição 24/25 e decidir que vão passar o facão no plano porque não enxerga a importância que o plano tem. Acho que o governo é bem consciente da importância. O Agro é um setor bastante organizado e responsável, a grosso modo, (…) por gerar superávit na balança comercial. Isso contribui para várias questões econômicas que o governo é bem consciente.”.

“O problema é que, de fato, o governo está com um problemão na arena fiscal. (…) O governo tinha prometido entregar uma meta de primário zero para 2024, mas adiou essa meta. Isso fez com que o mercado começasse a precificar um risco maior. O Banco Central já alterou sua sinalização em termos de taxa de juro. (…) Se o governo não estancar essa questão fiscal, provavelmente vamos continuar com esse câmbio rodando nesses patamares que estamos vendo agora, sobretudo enquanto os Estados Unidos não mexerem nos juros lá fora.”, explica Cortez.

Ele ainda diz que “o governo não sabe o que fazer. Tentou a MP da PIS/COFINS, está tentando não fazer a desoneração da folha de pagamento e está tentando uma agenda de recuperação fiscal, mas não consegue. E os programas que demandam investimentos volumosos acabam sentindo, uns mais e outros menos, essa situação do governo não tendo base política para fazer a estratégia que a equipe econômica desejaria, E aí as implicações estão aparecendo cada vez mais nesse equilíbrio macroeconômico, em particular na desvalorização da taxa de câmbio.”

Sobre a dúvida entre escaparmos ou não da criação ou majoração de impostos que podem recair sobre o agro, Cortez é categórico ao dizer que não, a menos que seja implementado um programa de revisão de gastos.

“Gasto é travado por questões político-eleitorais. Ninguém quer fazer corte de gastos em ano eleitoral em rubricas como saúde e educação. Isso tem um custo político grande. Sem esse programa de revisão de gastos, a saída para fechar as contas é pela Receita. Ou corta gasto ou aumenta a receita. (…) Era o que o governo se propôs com o novo arcabouço fiscal.”, diz Cortez.

“Em 2024, o governo não está conseguindo ganhar nada, não está conseguindo gerar nova arrecadação. Conseguiu agora no caso das compras online, mas muito voltada à desoneração. E aí voltamos à estaca zero. Se o governo não tiver força, câmbio depreciado e taxa de juros para cima. Se o governo não conseguir algum sucesso, podemos voltar a ter uma flexibilização da Selic. Mas é um dilema político muito espinhoso.”, finaliza Cortez.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!