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Trajetória de desaceleração da economia brasileira deve seguir em curso; leia análise

Para o último trimestre de 2023, a expectativa é de retração na margem, mas garantido crescimento do PIB na casa de 3% no ano

Por Alessandra Ribeiro*

O IBGE divulgou o resultado das contas nacionais do 3º trimestre com as costumeiras revisões para o ano e dois trimestres anteriores. O resultado mostrou-se alinhado às expectativas de mercado, enquanto as revisões foram ligeiramente positivas, apontando força mais expressiva do setor agropecuário e resiliência do segmento de serviços e, pelo lado da demanda, do consumo das famílias e investimentos, apesar da retração desse último.

O resultado do terceiro trimestre confirmou a expectativa de perda de tração da economia brasileira em relação aos trimestres anteriores, refletindo a saída sazonal dos efeitos diretos e indiretos do crescimento da produção agropecuária, os efeitos defasados da política monetária doméstica em setores mais sensíveis, o esgotamento do processo de normalização da pandemia e a perda de dinamismo da demanda global.

É fato que, apesar de o resultado geral ter ficado muito próximo ao esperado, a abertura dos dados trouxe surpresas positivas como a observada em consumo das famílias. Nos últimos três trimestres, o consumo das famílias apresentou crescimento na casa de 1% na margem. A junção de resiliência do mercado de trabalho, com destaque para o segmento formal, aumento real do salário mínimo e crescimento de transferências sociais são fatores por trás da expansão, mas, ainda assim, o dado não deixa de surpreender. Outro fator de muita relevância e que ajuda a explicar a surpresa está relacionado aos efeitos da desaceleração da inflação, em especial de alimentação no domicílio, que mostrou deflação entre janeiro e setembro de 2,8%, contribuindo para o aumento de poder de compra das famílias.

Apesar de algumas surpresas, para o final deste ano e início de 2024, a expectativa é de continuidade da perda de tração da economia. Para o último trimestre de 2023, a expectativa é de retração na margem, mas garantido crescimento do PIB na casa de 3% no ano. Os fatores citados devem continuar presentes, como o maior peso da desaceleração da atividade econômica global, os efeitos ainda defasados da política monetária doméstica, a saída dos efeitos sazonais positivos do crescimento do setor agropecuário e a menor ajuda da inflação, em itens mais sensíveis como inflação de alimentos no domicílio. A inflação acumulada dessa rubrica entre outubro e dezembro deve totalizar 3,1%, o item deve fechar o ano em 0,1% e a inflação geral medida pelo IPCA, em 4,6%.

Para 2024, a expectativa de crescimento é de 1,5%, mas com dinâmicas distintas entre a primeira e segunda metades do ano, sendo que o segundo período deve apresentar comportamento mais favorável, captando efeitos da maior estabilização global e da queda de juros em curso no mercado doméstico, com redução da instância contracionista da política monetária. 

*Alessandra Ribeiro é economista e sócia da Tendências Consultoria

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