Riscos para o Brasil, alertam especialistas – O Estado de S. Paulo
- Na Mídia
- 21/01/2025
- Tendências
‘Diversificar mercados é boa proteção ao Brasil’
Lia Valls Pereira
Professora da UERJ e pesquisadora associada da FGV/Ibre
As incertezas no cenário político e econômico mundial dominam o início de 2025 com o governo Trump 2.0.
A posição da diplomacia brasileira é a de não alinhamento, e a agenda de acordos visa beneficiar os interesses nacionais. No final de 2024, foram assinados 37 acordos entre a China e o Brasil, sendo 11 memorandos de entendimento. Diversificar mercados e a pauta de exportações continua sendo uma boa opção de proteção para o Brasil, além de prosseguir com a agenda de acordos de comércio e investimentos. Trump é, até o momento, um fator de geração de incertezas e imprevisibilidade no cenário mundial.
A imprevisibilidade eleva os custos de transação no comércio. Manter sempre os canais abertos com os Estados Unidos numa visão “pragmática e negociadora” faz parte do cenário de minimização de custos.
‘Precisamos melhorar o ambiente de negócios’
Lucas Ferraz
Coordenador do Centro de Estudos de Negócios Globais da FGV EESP
O novo mandato do presidente Trump tem potencial para impactar significativamente a economia global. Caso venha a implementar tarifas de importação da ordem de 60% sobre as exportações chinesas e de cerca de 20% sobre as exportações do restante do mundo, a geografia do comércio internacional poderá sofrer novo e importante abalo.
Em que pese a complexidade do cenário externo, o Brasil poderia tentar tirar proveito de movimentos de nearshoring (políticas para incentivar empresas a mudarem suas cadeias de fornecedores e logísticas para países próximos) e friendshoring (busca de parcerias estratégicas com países mais amigáveis nas relações diplomáticas), que tenderão a se intensificar.. Para tanto, faz-se necessária a busca contínua por reformas que levem à melhoria do ambiente de negócios e ao aumento da nossa inserção internacional.
‘Brasil deve fortalecer as suas relações bilaterais’
Welber Barral
Consultor e ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil de 2007 a 2011
O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos marca uma nova fase de incertezas para a economia global. Com um foco renovado em políticas protecionistas, como tarifas sobre aço e alumínio, e a ênfase em proteger indústrias americanas, espera-se que a política comercial dos EUA siga uma linha mais agressiva. Ainda assim, o impacto para o Brasil, em comparação a outras nações mais dependentes do mercado norte-americano, tende a ser moderado. Um dos principais desafios virá da possibilidade de uma nova guerra comercial entre EUA e China.
Diante disso, o Brasil deve se preparar para agir com flexibilidade e pragmatismo, fortalecendo suas relações bilaterais, investindo em competitividade e consolidando seu papel como um fornecedor confiável de alimentos, energia e minerais estratégicos. Em um contexto de incerteza, a missão do Brasil será transformar a volatilidade em oportunidades.
‘Novo cenário deve se tornar mais adverso’
Alessandra Ribeiro
Diretora de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria
Os efeitos da agenda sinalizada pelo governo Trump para a economia americana já têm sido, em parte, incorporados nos preços dos ativos financeiros nos Estados Unidos e no restante do globo. A reação tem sido: dólar mais apreciado e juros mais altos. No curto prazo, essa política deve impulsionar a demanda, o que, em conjunto com o aumento de tarifas de importação e a alteração na oferta de mão de obra, deve resultar em inflação mais pressionada.
Em suma, os efeitos da agenda de Trump evidenciam que o contexto internacional deve ser mais adverso para a economia brasileira, o que eleva a necessidade de execução de política econômica doméstica responsável, em especial com continuidade de endereçamento da dinâmica dos gastos obrigatórios, dado o risco de o País ser duramente penalizado em ambiente externo mais hostil e seletivo.
‘Barreira unilateral pode causar estragos’
José Augusto de Castro
Presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)
O comércio exterior do Brasil com os EUA mostrou equilíbrio na balança comercial nos últimos dois anos. Outro ponto que merece atenção é o fato de que, no comércio bilateral, são destaques as operações intercompanhias, realizadas entre matrizes e filiais sediadas nos dois países, com vantagens competitivas.
A ameaça divulgada de possível elevação de tarifas seria um contrassenso. As apregoadas barreiras às operações com países membros dos Brics, para atingir a China, também não devem prosperar.
Por outro lado, a adoção de quaisquer barreiras unilaterais podem afetar o comércio mundial, podendo provocar retração econômica, desemprego, menor comércio exterior, entre outros fatores. Entendo que as ameaças divulgadas até agora não têm força para causar problemas e impactos no cenário mundial.