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PIB: impacto das chuvas compensa melhora da atividade no início do ano – Exame

OPINIÃO | Efeitos econômicos das chuvas no Rio Grande do Sul devem reduzir o PIB total do Brasil em 0,3 ponto percentual em 2024, tudo o mais constante

Por Lucas Assis e Gabriela Faria*

Os efeitos econômicos das chuvas no Rio Grande do Sul devem reduzir o PIB total do Brasil em 0,3 ponto percentual em 2024, tudo o mais constante. Dito isso, a atual projeção da Tendências para o crescimento da economia neste ano (1,8%) será mantida por ora, tendo em vista outros elementos que vinham sugerindo um viés de alta para a estimativa. Uma vez que mais informações sobre os impactos da catástrofe sejam conhecidas, e a partir do resultado do PIB do 1º trimestre no início de junho, a projeção deve passar por nova revisão nos componentes pelos lados da oferta e da demanda.

Em termos setoriais, os impactos da calamidade no estado gaúcho devem reduzir o PIB de serviços do Brasil em 0,3 ponto percentual neste ano, considerando a projeção elaborada em abril, de +1,8%. A prestação de serviços no RS foi prejudicada diante dos diversos pontos de enchentes e do colapso na infraestrutura, afetando os transportes, o comércio e a disponibilidade de serviços básicos, como energia e água. A participação do estado no PIB de serviços do Brasil, em 2021, foi de 5,9%, atrás de São Paulo (33,9%), Rio de Janeiro (10,1%) e Minas Gerais (8,3%). Ainda pelo lado de serviços, deve-se destacar o efeito via rubrica intermediação financeira, dados os efeitos em seguros. Além do impacto local, devem ser observados efeitos importantes em nível nacional, tendo em vista a importância dessa rubrica no PIB de serviços do País.

Na mesma proporção, tudo o mais é constante, os efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul devem reduzir o PIB da indústria do Brasil em 0,3 ponto percentual, em 2024 (a projeção, em abril, era de +2,1%). A magnitude e a abrangência dos impactos abrem a possibilidade de danos diretos e indiretos às atividades industriais. Diretamente, há o risco de danos às estruturas dos próprios estabelecimentos industriais, embora a dimensão exata desses impactos seja difícil de se mensurar. Indiretamente, há a impossibilidade de circulação de pessoas, insumos e produtos, que paralisa a produção industrial, com efeitos diretos para a atividade local e em cadeia para demais localidades. A participação do Rio Grande do Sul no PIB da indústria do Brasil, em 2021, foi de 6,0%, atrás de SP (26,9%), RJ (14,6%), MG (12,6%), mas também do Paraná (6,5%).

A relevância do estado na fabricação de produtos alimentícios de origem animal (carnes e laticínios) é significativa. Assim, além dos possíveis impactos no setor agropecuário e na oferta de animais vivos e insumos para a fabricação de ração animal, pode haver redução expressiva na capacidade de abate e processamento de proteína animal e leite. No que diz respeito aos setores ligados às cadeias agropecuárias, o setor de couros e calçados merece destaque pela importância do Rio Grande do Sul no cenário nacional. Dada essa concentração, é provável que a oferta nacional de produtos de couro e calçados seja substancialmente limitada.

Rio Grande do Sul e o agro

Por fim, ceteris paribus, os impactos das chuvas no estado gaúcho devem reduzir o PIB da agropecuária do Brasil em 0,9 ponto percentual neste ano (em abril, a estimativa era de -1,1%). Para 2024, havia uma expectativa de recuperação da pecuária e da produção de grãos, considerando os impactos negativos do fenômeno La Niña em 2022 e 2023.

A participação do Rio Grande do Sul no PIB da agropecuária do Brasil, em 2021, foi de 12,7%. As colheitas de milho, arroz e soja, que estavam na reta final, devem ser paralisadas. A colheita de feijão foi a única finalizada. Com isso, além das perdas nas áreas ainda não colhidas, destaca-se que parte da produção de grãos já colhida pode estar armazenada e ainda não é possível quantificar o quanto foi afetado. Para a produção que está em boas condições, há ainda as dificuldades logísticas para escoamento. Para o trigo, o plantio ainda não começou, e ainda há tempo para que ele seja realizado dentro da janela ideal (maio-julho). Contudo, ainda não é possível identificar como os danos nos solos vão afetar a produtividade da cultura. Na pecuária, há relatos de falta de matéria-prima para ração, bem como paralisação do abate de aves, suínos e bovinos em algumas regiões. A elevação dos preços dos grãos, caso se concretize, também deve afetar a rentabilidade dos produtores na pecuária.

Além dos impactos na atividade econômica, não só restritos ao estado, mas com efeitos em cadeia especialmente para demais estados da região, o choque de oferta em curso deve resultar em efeitos sobre os preços, inclusive em nível nacional, mesmo que parte deles seja transitória. A partir da normalização do fator climático e dos níveis dos rios e lagos, devem ocorrer esforços para reconstrução das áreas atingidas, algo que irá demandar investimentos vultuosos e que pode, ao menos parcialmente, atenuar os impactos econômicos com o fortalecimento de setores como a construção civil. Ao mesmo tempo, implicações para as contas públicas serão inevitáveis, em um contexto de equilíbrio fiscal já delicado.

*Lucas Assis e Gabriela Faria são economistas e analistas da Tendências Consultoria

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