PIB cresce 0,8 no primeiro trimestre de 2024 – BandNews TV
- Na Mídia
- 05/06/2024
- Tendências
Em entrevista à BandNews TV, Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da Tendências Consultoria, falou sobre os fatores que contribuíram para o crescimento de 0,8% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2024.
Quando questionada sobre os gastos do governo e se há otimismo para o futuro, Alessandra diz que é preciso ter um otimismo bem cauteloso em relação aos próximos trimestres. Apesar do comportamento muito positivo da economia na primeira parte do ano, ela diz que estamos mais cuidadosos com essa trajetória agora no segundo trimestre e mesmo nos próximos.
“No segundo trimestre, a gente vai ter o efeito mais focalizado da tragédia no Rio Grande do Sul. Então devemos ter uma desaceleração da economia importante em relação a esse primeiro tri. E no terceiro e quarto trimestre, a gente deve observar uma recuperação, inclusive do Rio Grande do Sul, dadas as condições climáticas, esperamos que mais amenas, possibilitando a recuperação de algumas atividades”, aponta Alessandra.
“A gente sabe que nem tudo, porque tivemos, na verdade, uma destruição permanente, seja em indústria, seja em infraestrutura. Então isso vai levar um tempo considerável para ser reconstruído, mas ainda assim algumas atividades, com a normalização das condições climáticas vão ser recuperadas, né. Então, quando a gente fala de uma parte de comércio, de uma parte de serviços e mesmo de uma parte da indústria, isso vai aparecer no PIB do terceiro e quarto.”
Alessandra ainda aponta que agora temos alguns outros elementos que devem também limitar essa performance da economia, como o aumento de percepção de risco visto no mercado nas últimas semanas. Isso tem se traduzido nos preços dos ativos e principalmente nos juros futuros, que são um balizador muito importante para crédito.
“Foi sim um fator que impulsionou o consumo das famílias também no primeiro trimestre. E agora, com essa mudança de percepção de mercado, isso afetando os preços dos ativos, a gente vai ter essa limitação também sobre o crédito para famílias e para empresas também pensando em investimento.”, sinaliza Alessandra.
Ao ser questionada sobre a diferença entre a visão positiva do governo e negativa do mercado financeiro sobre o futuro do Brasil, Alessandra diz que, quando olhamos os dados correntes da economia, temos uma boa situação. “A gente tem uma economia que está crescendo bem, num ritmo interessante. Temos a inflação corrente numa trajetória de desaceleração, um quadro aqui relativamente benigno. Quando a gente olha para o mercado de trabalho também, boas notícias em termos de geração de emprego, o próprio crescimento dos salários em termos reais. Então, a situação corrente é positiva.”
“Agora, o problema é que o que a gente faz, economistas, mercado financeiro? A gente já está olhando lá na frente. E é isso que a gente está preocupado, porque eu acho que o governo não tem percebido que todas essas sinalizações mais recentes já estão cobrando esse preço. E é um preço já alto.”
Alessandra explica que, entre essas sinalizações recentes, temos a questão das metas em relação às contas públicas. “Essa revisão baixista que a gente teve de metas, não só para esse ano, mas para os anos seguintes, apontando aí para uma dificuldade do governo fechar as contas, então isso aumentando a percepção de risco em relação ao fiscal.”
Além disso, Alessandra diz que existem sinalizações em relação a empresas importantes como Petrobras e mesmo Vale há um tempo atrás, colocando na cabeça do mercado que pode haver uma mudança na política de condução, principalmente da Petrobras, com talvez alteração na política de preços de combustíveis e uma política de investimento. E nem sempre é um investimento eficiente, como foi visto no passado.
“Então, quando a gente junta essas sinalizações num contexto internacional mais difícil, somente olhando Estados Unidos, inflação ainda alta, Banco Central americano ainda longe de reduzir juros, o que acontece? Os agentes de mercado já começam a colocar esse maior risco no preço. Então a gente vê bolsa caindo, juros futuros muito para cima, câmbio bastante depreciado e é isso que afeta a economia real nos próximos trimestres. Então é por isso que a gente vê esse desencontro de visões, porque uma coisa é olhar a situação ocorrente, outra coisa é projetar a partir dessas movimentações que a gente já observa em confiança e mercado.”, explica Alessandra.
Sobre a queda de juros e as movimentações do Banco Central, Alessandra diz: “Acho que, começando desde o cenário internacional, se o Banco Central Americano tiver condição para reduzir juros já a partir de setembro ou dezembro, que pelo menos tenha uma queda de juros, acho que vai ser importante já para acomodar principalmente juros futuros lá de fora, que são juros que são um balizador importante para a gente aqui. Então esse é o primeiro ponto que pode amenizar.”
Ela diz, também, que o segundo ponto que é super importante é a transição no Banco Central, porque, dentre esses elementos fiscais e da Petrobras, existe também a questão do Banco Central, que tem deixado o mercado muito cético e preocupado com relação à condução técnica da política monetária.
Alessandra acredita que uma indicação, por exemplo, do Paulo Picchetti para a presidência do banco, deve ser bem recebida pelos mercados no primeiro momento e obviamente que o mercado vai olhar as decisões técnicas. “Olhando e percebendo que, de fato, a instituição continua tomando decisões de maneira muito bem fundamentada e técnica, isso sim é importante para reduzir essa percepção de risco. Esses elementos são fundamentais.”
“E um outro ponto, se o governo, a partir de agora ou mesmo em 2025, apresentar alguma agenda que seja relacionada a gasto, principalmente em relação a gasto obrigatório, eu acho que também é um ponto importante para reduzir essa percepção de risco em relação ao fiscal.”, finaliza
Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!