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O Desenrola e a inadimplência – Estadão

Apesar dos números estarem bem abaixo da projeção inicial do governo, recuo da inadimplência revela que o programa de renegociação de dívidas tem seu êxito, mas o problema precisa ser encarado de outras formas

O Desenrola Brasil, programa de renegociação de dívidas lançado pelo governo Lula, ainda não conseguiu atingir os grandiosos números apresentados pelo ministro Haddad meses atrás quando foi anunciado.

Até o momento, cerca de R$ 50 bilhões em dívidas foram renegociadas, operação que beneficiou 14 milhões de pessoas. A expectativa era de que fossem renegociados cerca de R$ 75 bilhões em dívidas de 70 milhões de consumidores.

Ampliar esses números é uma das razões pela qual o Desenrola ganhou uma sobrevida. Foi prorrogado por mais 50 dias, até o dia 20 de maio, para a Faixa 1 do programa que abrange pessoas com renda bruta mensal de até dois salários mínimos (R$ 2.824,00) ou inscritos no CadÚnico.

Mas ainda não dá para dizer que a iniciativa ficou curta demais ou, então, que não produziu benefícios suficientes para a economia, de maneira a ajudar o consumo e o crescimento econômico.

Um dos seus gargalos foi a dificuldade encontrada pelo público para acessar a plataforma. Quando permitida a integração dos aplicativos de bancos e birôs de crédito ao ecossistema do Desenrola, o programa ganhou tração. A possibilidade de renegociação por meio das agências dos Correios também ajudou.

Outro indicador de certo sucesso do programa foi o recuo da inadimplência. Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que a inadimplência das famílias caiu em fevereiro, pelo quinto mês consecutivo, para os 28,1%. As estatísticas do Banco Central confirmam esse recuo. A inadimplência da carteira de crédito dos bancos com recursos livres para pessoas físicas fechou janeiro em 5,54%, menor valor desde agosto de 2022.

“Esses números parecem comprovar que o Desenrola vem conseguindo atingir a base da pirâmide, formada pelas famílias de baixa renda, as mais suscetíveis à volatilidade do mercado de trabalho. Isso mostra que o programa conseguiu endereçar bem como política voltada para enfrentar a inadimplência do segmento “, avalia Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.

No entanto, focar só as dívidas em atraso não é suficiente para reverter o nível de fragilidade financeira da maioria dos brasileiros. O Desenrola tem de ser entendido apenas como paliativo. São necessárias políticas que melhorem a renda e o emprego no País, o que implica uma estratégia de desenvolvimento sustentável. Sem isso, a inadimplência continuará sendo um problema crônico.

Alessandra Ribeiro, sócia-diretora da Tendências Consultoria, adverte que também são necessárias políticas que reduzam os riscos do crédito e aumentem a competição entre as instituições financeiras de modo a permitir a redução do custo do crédito, do nível de endividamento das famílias e melhores condições de consumo.

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