Juros e endividamento menores favorecem o consumo em 2024 – Exame
- Na Mídia
- 16/02/2024
- Tendências
Em 2024, as vendas devem recuperar maior crescimento, ganhando tração no 2º semestre, em função da melhora das condições financeiras e da ampliação do volume de crédito
Por Isabela Tavares*
O ritmo de crescimento das vendas do comércio varejista (PMC-IBGE) diminuiu no último trimestre de 2023, diante do aumento dos preços de alimentos que afetam diretamente as vendas de supermercados e, de forma indireta, diminuem a renda disponível para o consumo de outros bens. Em 2024, as vendas devem recuperar maior crescimento, ganhando tração no 2º semestre, em função da melhora das condições financeiras e da ampliação do volume de crédito. De toda forma, continuam sendo obstáculos ao maior crescimento neste ano a menor renda disponível das famílias e o menor ímpeto do mercado de trabalho. Neste ano, as vendas do varejo medidas pelo índice restrito devem crescer 2,5%, após alta de 1,7% em 2023. Para o varejo ampliado – que, além dos segmentos do índice restrito, inclui “veículos, motos, partes e peças”, material de construção e atacarejo –, estima-se alta de 2,7% neste ano, após crescer 2,4% em 2023.
Em dezembro, as vendas do varejo reverteram os ganhos registrados em novembro e caíram em comparação ao mês anterior (dados livres de efeitos da sazonalidade). As quedas foram de 1,3% no índice restrito e de 1,1% no índice ampliado. Com isso, as vendas do varejo encerraram o último trimestre de 2023 com queda de 0,4% no varejo restrito e alta de 0,4% no varejo ampliado, ambos em relação ao trimestre anterior (dados dessazonalizados).
Os resultados negativos de dezembro refletiram o recuo na margem em sete das dez atividades pesquisadas. A surpresa negativa foi a magnitude da queda nos segmentos beneficiados em novembro pelas promoções da Black Friday, que reverteu os ganhos em dezembro. As vendas de “móveis e eletrodomésticos” caíram 7,0% (após +5,9% em novembro), as vendas de “tecidos, vestuário e calçados” recuaram 3,5% (ante +2,9%) e as de “outros artigos de uso pessoal” caíram 3,8% (após +0,6%).
Além disso, houve queda de 0,5% para “artigos farmacêuticos” e de 4,5% para “veículos, motos, partes e peças”. Para o varejo ampliado, destaca-se também a desaceleração do segmento de “atacado especializado em alimentos”, cujo crescimento passou de 9,9% em novembro para 2,7% em dezembro, na variação anual.
Para 2024, as vendas do varejo devem apresentar novo crescimento anual, mas a dinâmica entre os segmentos deve se alterar. O ritmo de crescimento das vendas de segmentos de primeira necessidade deve diminuir, diante da continuidade de aumento dos preços e menor desempenho da massa de rendimentos, inclusive, das transferências do governo, o que afeta as classes de menor renda.
As vendas de bens duráveis devem ganhar tração no ano e recuperar maior dinamismo dentro do comércio varejista, levando em conta o cenário mais favorável no mercado de crédito, com menores níveis de juros bancários e arrefecimento do comprometimento com o pagamento de dívidas bancárias.
A renda disponível para consumo após gastos com itens essenciais encerrou 2023 com média de 42,5% (ante 41,3% em 2022). Até o 3º trimestre do último ano, o comportamento benigno da inflação de alimentos favoreceu o crescimento do indicador e contribuiu para a melhora nas vendas de supermercados. Adicionalmente, a renda disponível foi um fator positivo para o consumo de forma geral no último ano, em função das menores pressões dos itens essenciais no orçamento familiar.
No entanto, no último trimestre, a renda disponível desacelerou. A média do 4º trimestre ficou em 42,5%, estável em relação ao trimestre anterior, após subir nos últimos cinco trimestres. O menor dinamismo da renda disponível esteve associado à retomada dos preços de alimentação no domicílio que se iniciaram em outubro e pressionaram o orçamento familiar e o consumo no último trimestre.
Em 2024, a renda disponível ainda deve sentir as pressões da inflação de alimentos, especialmente no 1º semestre, e registrar redução na margem em relação ao final de 2023. No segundo semestre, a renda disponível deve se estabilizar, considerando as menores pressões dos preços de alimentos e melhora em outros itens, como energia elétrica e transportes. Na média deste ano, a renda disponível deve cair para 42,3%.
Do ponto de vista financeiro, o comprometimento de renda das famílias com dívidas bancárias considera todo o serviço da dívida (principal e juros) em relação à massa de renda ampliada. Em 2023, o comprometimento deve fechar o ano com média de 25,9%, sendo o terceiro ano consecutivo de aumento. Os níveis elevados no último ano refletem os patamares mais altos dos juros bancários.
Em 2024, a expectativa é de que o comprometimento de renda caia 1,3 p.p. em relação à média de 2023, chegando em 24,8% na média deste ano. O arrefecimento deve ocorrer de forma gradual durante o ano e beneficiar a situação financeira das famílias, abrindo espaço no orçamento ao consumo de bens mais dependentes do crédito.
*Isabela Tavares – Analista da Tendências Consultoria
Mestre em Macroeconomia Financeira pela FGV-SP, Economista graduada pela Universidade Federal do ABC e Bacharel em Ciências e Humanidades pela UFABC, é analista da Tendências Consultoria.
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