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Entendendo Distressed Assets

Por: Diego Lucchesi, consultor da Tendências

Distressed Assets são ativos financeiros que perderam valor significativamente devido a problemas financeiros, operacionais ou econômicos enfrentados por seus proprietários ou emissores.

Mais especificamente, esse tipo de ativo é caracterizado por ter um valor de mercado abaixo do valor de face.

Enquanto o valor de face de um ativo é o montante originalmente atribuído ou prometido pelo emissor, como o valor nominal de um título ou o custo inicial de um imóvel; o valor de mercado é o preço pelo qual o ativo é negociado no mercado.

Fundamentalmente, isso acontece pois o ativo possui alguma peculiaridade que faz com que seu detentor não usufrua da totalidade de seus fluxos de caixa a serem gerados. Para que ocorra usufruto, deve haver um esforço para o que o mercado denomina como “recuperação”.

Nisso, há uma probabilidade de recuperação desse ativo que corresponde à chance de que o valor do ativo possa ser restaurado após uma reestruturação, recuperação ou outra forma de intervenção. Já o montante a ser recuperado é o valor estimado que um investidor pode recuperar após a liquidação ou reestruturação do ativo, considerando fatores como a gravidade da situação financeira e os esforços para reverter a crise.

Os Distressed Assets chegam a esse ponto geralmente por uma combinação de fatores, como má gestão, inadimplência, crises econômicas ou mudanças no mercado.

Tipos de Distressed Assets

Imóveis Comerciais

Causas: Declínio econômico em determinadas regiões, aumento da vacância, inadimplência de locatários ou mudanças nas dinâmicas de mercado que reduzem a demanda por certos tipos de propriedades.

Títulos de Dívida

Causas: Inadimplência por parte do emissor, deterioração da saúde financeira da empresa/entidade emissora ou mudanças nas condições econômicas que afetam a capacidade de pagamento.

Empresas em Recuperação Judicial

Causas: Má gestão, endividamento excessivo, mudanças no mercado/setor, crises econômicas ou eventos imprevistos que afetam a operação e a lucratividade da empresa.

Empréstimos Inadimplentes

Causas: Incapacidade do devedor de cumprir com as obrigações de pagamento devido a dificuldades financeiras pessoais ou empresariais, perda de emprego, falência ou outras situações que afetam a capacidade de pagamento.

Metodologias de avaliação de Distressed Assets

Árvore de Decisão

A avaliação por Árvore de Decisão é uma técnica usada para modelar decisões em processos sequenciais, em que o valor de um ativo ou projeto é influenciado por eventos incertos e escolhas ao longo do tempo. Ela envolve a construção de uma árvore com diferentes tipos de nós:

Raiz: Início da análise, em que o decisor enfrenta uma escolha ou evento incerto;

Nós de Decisão: Quando o decisor faz uma escolha, como expandir um projeto ou mudar uma estratégia;

Nós de Evento: Representam resultados incertos, com probabilidades associadas;

Nós Finais: Resultados finais com valores ou fluxos de caixa estimados.

Exemplo Simples de Árvore de Decisão:

Imagine que um investidor tem a opção de aceitar um pagamento garantido de $100 ou participar de uma aposta, na qual ele tem 60% de chance de ganhar $200 e 40% de chance de ganhar $50. A Árvore de Decisão seria estruturada da seguinte forma:

Raiz: Aceitar pagamento de $100 ou fazer a aposta;

Nós de Evento: Se o investidor optar pela aposta, ele pode ganhar $200 com 60% de chance ou $50 com 40% de chance;

Nós Finais: Os fluxos de caixa finais seriam os valores ganhos ($200 ou $50) ou os $100 garantidos.

O valor esperado da aposta seria calculado como:

Valor esperado = 0.6 × 200 + 0.4 × 50 = 120 + 20 = 140

O investidor deve optar pela aposta, pois o valor esperado da aposta ($140) é superior ao pagamento garantido ($100).

Simulações de Monte Carlo

A abordagem consiste em:

  • Definição das Condições de Distress: Identificar métricas financeiras ou operacionais (como níveis de fluxo de caixa, margens operacionais ou dívida) que indicariam que a empresa está em situação de falência iminente;
  • Variáveis de Entrada com Distribuições de Probabilidade: Determinar quais variáveis no DCF (exemplo: crescimento de receitas, margens de EBITDA, custo de capital) são incertas e atribuir distribuições de probabilidade para essas variáveis;
  • Execução de Múltiplas Simulações: Rodar milhares de iterações, sendo que em cada uma delas os valores das variáveis são extraídos das distribuições definidas. Se a empresa atingir as condições de distress, seu valor é ajustado como uma venda distressed;
  • Estimativa do Valor Esperado: Após as simulações, calcular o valor médio da empresa, ponderado pelos cenários simulados.

Modelo de Valor Ajustado (APV)

O APV decompõe o valor da empresa distressed em duas partes: o valor como uma empresa sem dívida (unlevered) e o impacto da dívida, incluindo benefícios fiscais e custos esperados de falência.

  • Valor unlevered: Calculado a partir do desconto dos fluxos de caixa operacionais usando o custo de capital para uma empresa sem dívida.

Valor unlevered = ∑ (FCFFt ÷ (1+ risco)^t)

  • Benefícios fiscais da dívida: Estimados como o valor presente dos benefícios tributários gerados pelos pagamentos de juros.

Benefício fiscal = Alíquota tributária × Dívida

  • Custos esperados de falência: Calculados considerando a probabilidade de distress e a diferença entre o valor unlevered e o valor de venda em distress.
  • Fórmula Final: Valor Total = Valor unlevered + Benefício fiscal − Custos de falência

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