Como será o desempenho do consumo com a redução do auxílio emergencial?

Paralisação de atividades, retração do comércio, queda de demanda e investimentos. A pandemia da covid-19 provocou um tombo sem precedentes na economia global em 2020.

O efeito mais forte foi observado no segundo trimestre do ano passado. Mas desde meados de maio, após a gradual flexibilização das medidas de contenção da covid-19, teve início um processo de recuperação, apoiado em vigorosos estímulos fiscais e monetários por parte dos governos. 

No Brasil, no início deste ano, houve significativa redução desses estímulos, o que, aliado à nova piora do quadro pandêmico, terá forte impacto na economia e, por consequência, no emprego e renda das famílias.

A elaboração de cenários permite entender o que determina a trajetória da economia, e como as variáveis econômicas irão afetar o resultado das empresas e o poder de consumo das pessoas.

Impacto do coronavírus para o mercado brasileiro

Assim como no restante do mundo, os impactos da pandemia na economia brasileira têm sido relevantes. O isolamento social necessário à contenção das infecções restringiu as atividades não essenciais, provocando paralisação da indústria, comércio e serviços.

Esse quadro resultou em imenso ajuste no mercado de trabalho, provocando redução de horas trabalhadas, suspensão de contratos e fechamento de vagas. Entretanto, os trabalhadores mais prejudicados foram os que atuavam no mercado informal, ou seja, sem carteira assinada, sobretudo aqueles cuja atividade dependia muito da circulação de pessoas.

Para 2021, a expectativa é de maior controle do quadro pandêmico no segundo semestre, tendo por base a aceleração no ritmo de vacinação, quando deve haver retomada do mercado de trabalho, mas de forma gradual. A taxa de desemprego deve atingir média de 14,0%.

Como a pandemia afetou as famílias de baixa renda?

Em 2020, as classes D e E devem ter aumentado em cerca de 2,3 milhões de famílias e a classe média deve ser encolhida em 780 mil. O principal fator para o aumento do número de domicílios mais pobres foi o desemprego entre os menos escolarizados — uma vez que, em situações de crise, os trabalhadores mais dispensáveis, na perspectiva dos empregadores, são os menos qualificados —, que dependem mais da renda do trabalho em comparação aos das classes A e B.

O auxílio emergencial fornecido pelo governo federal no ano passado preservou a renda das famílias pobres, garantindo maior reposição do que as perdas registradas por causa da pandemia. Contudo, a redução do auxílio emergencial diante da delicada situação das contas públicas irá pesar sobre a massa de renda dessa classe. A gradual recuperação do emprego não será suficiente para compensar a redução do auxílio. 

Qual é a perspectiva para o consumo após o fim do auxílio emergencial?

Com a redução dos repasses emergenciais às famílias, o Brasil deve apresentar retração da massa de renda total.

A massa de renda total dos domicílios é um cálculo feito pela Tendências, que incorpora a soma do rendimento habitual de todos os trabalhos (IBGE), das transferências do Programa Bolsa Família (Ministério da Cidadania), dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social (Ministério da Economia) e de outras fontes de renda (IBGE e Ministério da Economia).

Neste ano, a massa total deve recuar 3,8% em 2021, após alta de 5,2% em 2020. Essa retração da massa de renda total deve ser sentida especialmente na classe D e E (famílias com renda domiciliar de até R$ 2,6 mil), e deve ser da ordem de 15%, após alta de cerca de 23% em 2020.

Dessa forma, ainda que a Tendências estime aumento do consumo das famílias em 2021, com maior importância das classes de alta renda, inclusive no segmento de serviços a partir do controle da pandemia, os segmentos mais voltados ao consumo de baixa renda devem perder força em relação a 2020. Setores que tiveram sua performance turbinada pelo auxílio emergencial, devem mostrar desaceleração ao longo do ano, com destaque para supermercados, móveis e eletrodomésticos e material de construção.

O que esperar do cenário econômico para 2021?

Após um ano extremamente atípico, marcado pelos efeitos da pandemia, as dúvidas sobre este ano ainda são grandes, dada a piora do quadro pandêmico no País, as incertezas sobre a dinâmica fiscal e a retirada de boa parte dos estímulos fiscais e monetários concedidos pelo governo e Banco Central. 

Além disso, a inflação mais elevada observada nos insumos para a indústria e ao consumidor levou o Banco Central a iniciar o processo de elevação da taxa básica de juros para evitar inflação ainda mais alta neste ano e especialmente em 2022.

Entretanto, considerando a manutenção do pilar fiscal e a hipótese de vacinação de maior parte da população ao longo do segundo semestre do ano, a Tendências projeta um quadro de continuidade de recuperação gradual da economia brasileira em 2021, com expansão do PIB de 4,4%, após queda de 4,1% em 2020.

A Tendências estima aumento do emprego, de 4,0% após queda de 7,9% em 2020, mas que não será suficiente para absorver todo o contingente que voltará a procurar emprego ao longo de 2021, especialmente com a redução significativa do auxílio emergencial. Dessa forma, a taxa de desemprego deve atingir 14,0% na média deste ano.

Mesmo diante das limitações, o consumo das famílias deve ser o principal driver para a expansão do PIB, com expansão de 3,9%, acompanhado pelo maior consumo de serviços a partir do controle do quadro de saúde. Outro driver importante deve ser a formação bruta de capital fixo (FBCF) que deve crescer 9,5% após queda de 0,8% em 2020.

Queremos ouvir a sua opinião: o que você espera da economia no restante deste ano? Compartilhe conosco suas ideias e projeções para os próximos meses, e quem sabe, soluções que possam melhorar a vida de muitas pessoas. 

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