Desemprego tem a segunda alta seguida, mostra IBGE – O Estado de S. Paulo
- Na Mídia
- 28/02/2025
- Tendências

Números ainda mostram um mercado de trabalho forte, mas expectativa é de perda de fôlego ao longo deste ano
A taxa de desemprego ficou em 6,5% no trimestre encerrado em janeiro, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados nesta quinta-feira, 27.No trimestre móvel imediatamente anterior, encerrado em dezembro de 2024, a taxa foi de 6,2%.
O resultado veio dentro do esperado pelo Projeções Broadcast, cujo intervalo variava de 6% a 6,7%. A mediana das previsões era de 6,6%. No trimestre móvel de novembro de 2023 a janeiro de 2024, a desocupação foi de 7,6%.
Calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Pnad Contínua também mostrou que a população ocupada somou 102,969 milhões no trimestre encerrado em janeiro. O contingente de desocupados foi de 7,2 milhões.
Os números do mercado de trabalho revelam um cenário ainda forte para o emprego, que mostrou uma resiliência surpreendente nos últimos anos. Agora, no entanto, deve começar a enfrentar alguma desaceleração na abertura de vagas por causa do cenário econômico mais difícil num momento em que mais brasileiros devem voltar a procurar emprego.
O número de dezembro do ano passado já deu indícios dessa perda de fôlego, dado que a taxa de desemprego de 6,2% representou o primeiro avanço em oito trimestres.
“É um mercado de trabalho em desaquecimento, mas ainda forte. Não vejo um mercado fraco”, afirma Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).
O cenário mais complicado para o emprego vem na esteira do crescimento econômico mais baixo este ano por causa da alta da taxa básica de juros (Selic). As projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2025 estão próximas de 2%. No ano passado, a economia brasileira deve ter crescido cerca de 3,5% – o número será conhecido em 7 de março.
Com a inflação elevada e acima do teto da meta, o Comitê de Política Monetária (Copom) tem aumentado a Selic. Entre setembro de 2024 e janeiro deste ano,ela saiu de 10,50% ao ano para 13,25% ao ano. E a promessa do Banco Central é de mais uma alta na reunião de março, levando a taxa básica para 14,25%.
“Para 2025, a expectativa é de desaceleração no ritmo de crescimento da ocupação, acompanhando a moderação dos setores cíclicos devido ao impacto acumulado da elevação dos juros”, afirma Lucas Assis, economista da consultoria Tendências. “A deterioração das condições financeiras deve reduzir a demanda por mão de obra, à medida que os empregadores demonstram maior cautela ao expandir suas folhas salariais.”
Os juros mais altos devem afetar setores como construção civil e indústria. Um alívio, no entanto, deve vir do setor de serviços e da agropecuária diante da expectativa de uma supersafra de grãos.
“Eu enxergo 2025 muito parecido com 2023, porque também vimos juros elevados e safra recorde″, afirma Bruno Imaizumi, economista da LCA 4intelligence. “Vamos ter alguma restrição do crescimento pelo lado da política monetária, o que pode afetar alguns setores. Já a agropecuária não é muito expressiva na criação de vagas no mercado de trabalho, mas o que chama a atenção é o transbordamento para outros setores.”
Com o desaquecimento esperado para o mercado de trabalho, os analistas estimam um desemprego crescente ao longo deste ano. Nas projeções do Ibre, a taxa de desemprego medida pela Pnad deve chegar a dezembro em 7,3%. “Se alguém me disser que vamos ter uma taxa de desemprego de 7,5% durante muito tempo, eu diria que o mercado de trabalho está próximo do pleno emprego se não acima dele”, afirma Barbosa Filho.
Em 2024, a taxa média de desocupação foi de 6,6%. Em 2025, a LCA 4intelligence projeta 7%.
“Esse crescimento não significa que o mercado de trabalho vai piorar. Tem a ver com o fato de mais gente voltar a procurar emprego”, diz Imaizumi.
Renda em alta
Na leitura do trimestre encerrado em janeiro, o rendimento médio real habitual recebido pelos trabalhadores foi de R$ 3.343, um crescimento de 1,4% em relação ao trimestre encerrado em outubro e de 3,7% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.
“A expectativa é de manutenção da taxa de desocupação em níveis reduzidos em 2025, o que pode intensificar a escassez de mão de obra, gerando ampliação do poder de barganha dos trabalhadores, alta dos custos produtivos e pressões sobre os preços”, diz Assis.
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