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Lucas Assis comenta sobre desemprego atingir menor taxa no trimestre de 2024 – CNN Brasil

Em entrevista ao programa CNN Brasil, Lucas Assis, economista sênior da Tendências, comenta sobre desemprego atingir menor taxa no trimestre de 2024.

Mercado de trabalho no Brasil

A taxa de desemprego caiu para 6,6% no trimestre encerrado em agosto, atingindo o menor patamar da série histórica para este período, o menor patamar também desde 2014. 

O número total de trabalhadores também bateu recorde: são 102,5 milhões de pessoas empregadas ao redor do país. Os dados mostram um mercado de trabalho aquecido. 

Segundo analistas, esse cenário deve perdurar por algum tempo. O que puxa esse desempenho é uma forte demanda por trabalhadores em diversas atividades econômicas. O comércio foi a área que mais contratou no período, seguido pelo setor público. A renda média das pessoas empregadas também avançou e chegou a R$ 3.228.

O Ministério do Trabalho também divulgou os dados do CAGED. O Brasil abriu 232.000 vagas de empregos formais em agosto. Somente em 2024, foram criados 1.720.000 postos. Os cinco grupos de trabalho registraram saldo positivo, com destaque para os serviços, que admitiram 118.000 funcionários com carteira assinada no período.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o mercado de trabalho está bastante apertado, mas também ressaltou que a atividade econômica surpreende positivamente.

No relatório trimestral de inflação, o BC apontou que a economia brasileira vai crescer 3,2% em 2024. A previsão anterior era de uma alta de 2,3%. Essa nova projeção se alinha com as previsões da Fazenda, que prevê a mesma expansão para o período. Já o mercado, segundo o boletim Focus, estima uma subida de 3%.

Segundo o Banco Central, essa revisão positiva do PIB foi puxada pelo bom desempenho econômico no segundo trimestre, mas a instituição ponderou que espera um menor ritmo na segunda metade deste ano e ao longo de 2025.

Quando questionado sobre sobre separação entre o que está acontecendo no mercado de trabalho do ponto de vista estrutural — ou seja, o que a gente pode determinar ou já assimilar que é uma mudança positiva e que tende a ficar — e aquilo que é uma situação conjuntural, que faz parte desse momento da economia brasileira e, portanto, não tende a continuar, Assis diz:

“Hoje, a gente vê que o mercado de trabalho está apresentando um desempenho bastante favorável nesse início de 2024, com quedas sucessivas da taxa de desocupação e alta do rendimento. Isso se justifica por fatores conjunturais e estruturais (…). Em termos conjunturais, o aquecimento da atividade econômica acaba impulsionando essa geração de novas vagas e a alta do rendimento. E, do ponto de vista estrutural, a gente vê que diferentes fatores acabam influenciando. A aprovação da reforma trabalhista de 2017, por exemplo, gera efeitos defasados no mercado de trabalho hoje, o aumento da escolaridade da força de trabalho também ajuda a elevar a renda média e as novas tecnologias contribuem para essa intermediação e criação de vagas. Então, há um conjunto de fatores conjunturais e estruturais que acabam impulsionando o mercado.”

Assis ainda aponta que “há poucos estudos empíricos hoje que conseguem mensurar de fato o impacto macroeconômico da reforma [tributária], até porque houve uma pandemia no meio do caminho, mas, entre outros aspectos, ela acabou reduzindo a insegurança jurídica nas contratações, o que beneficia a geração de vagas formais, especialmente com carteira assinada. Ao reduzir os custos de demissão, de tempo e de ações trabalhistas, acaba fomentando o avanço do mercado de trabalho formal, especificamente.”

Sobre Assis acreditar que, com essa configuração de recuperação do mercado de trabalho, o setor produtivo, o empregador, está realmente percebendo o colaborador como um ativo, ele diz que é possível fazer essa associação, já que o nível da ocupação, que é o indicador que mede o percentual de pessoas ocupadas na população em idade ativa, atingiu alguns dos seus maiores níveis.

“De fato, o mercado de trabalho está conseguindo absorver essa oferta de mão de obra, e o aquecimento da atividade econômica reflete nessa expansão por demanda por trabalho.

Então, de fato, essa redução da taxa de desemprego hoje se dá muito por conta da alta da ocupação. Se antes, de 2021 até 2022, víamos que a queda do desemprego ocorria por uma menor procura por trabalho, hoje ela acontece muito mais pela geração de emprego. Essa absorção ocorre por parte dos empregadores”

Quando o mercado de trabalho vira um problema?

Ao ser questionado sobre qual é o grau de problema que enxerga no mercado de trabalho, Assis diz que é possível dizer que o mercado de trabalho está bastante apertado e aquecido, mas um sobreaquecimento do mercado de trabalho pode gerar efeitos especialmente inflacionários.

“Hoje, a gente já vê que alguns setores específicos, por exemplo, com essa baixa taxa de desemprego, têm encontrado dificuldade de encontrar mão de obra. Um dos efeitos também é essa escassez de trabalhadores. Mas a gente vê que essas pressões inflacionárias podem ocorrer por duas vias: uma delas é levando ao aumento do consumo das famílias, associado à alta da população ocupada, que expande a massa salarial e permite maior consumo. E o aumento dos custos de produção, que podem ser repassados para o preço final caso não haja um aumento da produtividade, que é o caso.”

Assis ainda aponta que “é difícil dizer em que momento o mercado de trabalho se torna um problema, mas ele já eleva as preocupações por parte do Banco Central e os desafios à frente. A gente sabe que a redução da taxa de desemprego e o aumento da renda são bastante positivos para o trabalhador, mas isso gera algumas preocupações em casos, por exemplo, quando a produtividade não se eleva. Então, é um cenário que precisa de atenção, já que o mercado de trabalho tem apresentado desempenho positivo, acima do esperado, desde meados de 2023, com sucessivas expansões.”

Sobre a taxa de inflação de serviços, principalmente, dar “armas” de um mercado de trabalho superaquecido ou ser uma projeção mais para frente, Assis diz que, “de fato, a gente já tem um quadro de atenção com esses indicadores, com a inflação dos serviços e com o mercado de trabalho. A gente já tem algum viés de alta para as projeções, especialmente por conta das recentes condições climáticas também. Então, isso tudo vai se formando um cenário bastante desafiador.”

“De fato, a gente vê que o aumento da renda, não só do trabalho, mas das outras fontes também, dos programas sociais, isso também gera efeitos fiscais. A gente interpreta que o curto prazo deve apresentar uma desaceleração também por conta dessa conjunção de fatores mais malignos, assim dizemos. Então, de certa forma, é um ponto de atenção, de fato, essa combinação dos indicadores de inflação e mercado de trabalho.”, aponta Assis.

Sobre a questão da produtividade, em que vários estudos estão mostrando que houve algum ganho dela no trabalho, e esse quadro que a gente tem hoje sobre ser sustentável ou não, Assis diz que, de fato, ele não fica sustentável.

“A gente vê que esse ganho da produtividade se dá muito pela ampliação de postos de trabalho de maior qualidade, especialmente os formais. A gente vê que, em momentos de expansão da economia, a oferta de postos de maior qualidade, com uma remuneração maior, é ampliada. Então, isso acaba beneficiando de certa forma. Mas a produtividade da força de trabalho brasileira, em comparação internacional, é relativamente reduzida. Isso pode gerar efeitos de longo prazo para o crescimento da economia como um todo.”

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!