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Plano Real 30 anos I Episódio 5 – O Legado e o Real Digital – Exame

Confira a participação de Gustavo Loyola, Diretor-Presidente da Tendências Consultoria e ex-Presidente do Banco Central, em matéria especial da Exame sobre o aniversário de 30 anos do Plano Real.

Desdobramentos

José Serra, que era o candidato do governo nas eleições de 2002, começou a ter dificuldade nas pesquisas. Os mercados ficaram em alerta essencialmente porque viam com muito medo a chegada do PT ao poder. O dólar foi para as alturas, a inflação também disparou na expectativa de que, com o PT entrando no governo, tudo voltaria a como era antes do Plano Real. Começou, então, a haver uma desvalorização do Real, naquele momento, passando de R$4.

Nos seis meses que antecederam a eleição, o risco Brasil passou de 600%/700% para 2400%. Não eram necessariamente coisas que o governo atual estava fazendo, mas, sim, expectativas não destituídas de algum fundamento sobre o que eles poderiam fazer se chegassem ao poder na condução da economia.

Em 2002, o Real já estava bem consolidado. Quando entrou o chamado Lula 1, ele preservou todo o tripé macroeconômico. 

A famosa carta compromisso que Lula assinou firmava o compromisso de fazer o esforço fiscal necessário para estabilizar a relação dívida/PIB, preservar a inflação sob controle e respeitar contratos, que era algo que precisava ser dito. Quando o Lula fez a carta aos brasileiros, o ambiente melhorou.

Lula corretamente observou a importância que os trabalhadores davam para a estabilidade de preços. Com isso, pelo menos os trabalhadores podiam sair em busca de empregos, tendo seu poder de compra estabilizado. O Real virou quase que um bem público. Quem ameaçasse a estabilidade da moeda, seria punido politicamente.

A política macroeconômica do governo Lula foi, em larga medida, uma continuidade da política macroeconômica do governo anterior, o que serviu muito bem ao país.

“O presidente Lula manteve tudo, inclusive indicando Henrique Meirelles para o Banco Central e mantendo o regime de metas”, explica Loyola.

A agenda reformista que ocorreu entre 2002 e 2004 foi muito positiva para o Brasil, com uma política fiscal de superávits primários muito fortes. Com a inflação estabilizada, foi possível criar o crédito rural, que gerou essa explosão de commodities, que são as grandes forças competitivas da economia brasileira hoje.

Com o auge das commodities e a descoberta do pré-sal, a situação externa do Brasil ficou muito tranquila. Foi possível acumular um volume extraordinário de reservas e produzir superávits comerciais.

A crise de 2008, foi um superdesafio, uma crise mundial sem precedentes, com repercussões no mundo inteiro. Bancos americanos grandes quebraram, mas os bancos brasileiros estavam sólidos e se mantiveram operando normalmente. Com ações firmes do governo, a economia voltou a se estabilizar e o Brasil voltou a crescer.

Legado do Plano Real

Hoje talvez a principal defesa para o legado do Real seja a própria população. Se o governo começar a fazer besteira e a inflação começar a subir, vai apanhar, politicamente falando.O Real trouxe essa credibilidade e confiança para a população. O resultado do Plano Real, como o combate à inflação e a estabilidade de preços, é algo que a sociedade brasileira não vai mais abrir mão.

“O legado é justamente a moeda estável. O fato de o país ter uma moeda, nós estamos falando de uma moeda que chegou em 1994, há 30 anos. Qual foi o período histórico em que o Brasil teve uma moeda estável durante 30 anos?”, reflete Loyola. “Desde 1930 para cá, o Brasil não teve nenhuma situação parecida de uma moeda estável desse jeito.”

Tecnologia

Temos uma infraestrutura desenvolvida no tempo da inflação, comunicando com o sistema de pagamentos e com o sistema de liquidação dos cartões de crédito, que quase nenhum outro país tinha. Então, quando surgiu o desafio do digital, o Brasil saiu na frente e continuou na liderança. O Pix é um exemplo claro, que está na frente no mundo.

As inovações no Brasil são aceitas pela população de uma maneira fantástica. Estamos vivendo um momento muito interessante. O dinheiro ainda é base da economia, mas vemos que os meios de pagamento digitais vêm crescendo em termos de uso, notadamente o uso do Pix.

DREX – o Real digital

A ideia é de que o Real pare de ser impresso em cédula e seja impresso digitalmente numa carteira eletrônica. Os saldos são os mesmos, mas, ao invés de estar impresso num papel-cédula, ele estará digitalmente representado.

A proposta do DREX é de gerar mais opções aos usuários. Num primeiro momento, no Brasil, ele estará sendo feito para as grandes transações, como a compra de papéis na bolsa, terrenos, propriedades, veículos e mais.

A tokenização de ativos, a moeda digital, os contratos usando blockchain têm grande chance de serem os trilhos da infraestrutura do mercado financeiro do futuro. A ideia é que o DREX facilite muito a relação de confiança nas transações financeiras. 

O Banco Central é observador de tudo isso que está acontecendo e ainda é muito cedo para tirarmos conclusões sobre o que vai acontecer. É claro que o dinheiro não deve ser erradicado completamente também. Nada tem tanta simbologia e ressonância no imaginário das pessoas quanto o dinheiro, que é o equivalente universal. É tudo que você precisa, é o que te dá liberdade, é o seu poder de compra, é a sua iniciativa, é o Real.

Confira o episódio 5 da série dos 30 anos do Plano Real pela Exame na íntegra abaixo!