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Grupo que mais acerta vê o desemprego abaixo de 8% no fim do ano – Valor Econômico

Participação baixa e Selic em queda podem ajudar mercado de trabalho em 2024

Ainda que a desaceleração da economia brasileira esteja em curso, economistas que mais acertaram as projeções para a taxa de desocupação no segundo trimestre guardam, no geral, uma visão bastante benigna para o mercado de trabalho no fim de 2023 e, em alguns casos, apostam que esse cenário pode se estender até 2024.

As projeções medianas do Focus, pesquisa do Banco Central com o mercado, para a taxa de desocupação no fim de 2023 e de 2024 estavam, no início do ano, em 8,7% e 8,6%, respectivamente. Agora, a mediana deste ano foi para 8,2% e continua em 8,6% para o próximo, mas, neste último caso, chegou a ficar acima de 9%.

Das cinco instituições do “Top 5” do Focus para taxa de desocupação (grupo que mais acerta), no entanto, três esperam que o desemprego chegue ao fim de 2023, no mínimo, no mesmo patamar de 8% do segundo trimestre.

É o caso da RB Investimentos, mas as consultorias Análise Econômica e Tendências preveem ainda que ela recue a 7,5% e 7,7%, respectivamente, no quarto trimestre de 2023, feitos os ajustes sazonais. “E as projeções têm um viés de baixa”, antecipa Lucas Assis, economista da Tendências.

Segundo ele, dois movimentos se combinaram para permitir o forte recuo do desemprego. De um lado, há menor procura por trabalho. Como a taxa de desocupação considera apenas as pessoas desempregadas, mas em busca ativa por vaga, a baixa participação tem “forçado” automaticamente uma queda na taxa de desemprego.

Economistas têm hipóteses variadas para a taxa de participação historicamente baixa, como a antecipação de aposentadorias na pandemia ou a “turbinada” nos benefícios sociais. “A própria melhora do mercado de trabalho pode gerar menor necessidade de membros de uma mesma família compensarem perdas de rendimento com trabalho”, diz Assis.

Mas a explicação não é apenas estatística. “Depois de um período de relativa acomodação no início do ano, vimos o mercado de trabalho e a ocupação voltarem a apresentar maior dinamismo”, afirma o economista da Tendências.

A alta do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, por causa da agropecuária, gera efeitos positivos para o emprego não apenas no setor, mas também “transbordamentos” em segmentos da indústria e de serviços, mais intensivos em mão de obra, diz Assis.

Além dessa melhora quantitativa, ele aponta, há um avanço qualitativo dos empregos criados, na medida em que se observa dinamismo no mercado de trabalho formal. “Tem uma recomposição de quadros em setores que perderam postos na pandemia”, afirma Assis, citando a construção e a educação como exemplos. Sobre essa formalização, economistas citam ainda possíveis benefícios trazidos pela última reforma trabalhista.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, desde a PEC de Transição, aprovada antes mesmo de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciar seu mandato, a atual gestão indicava que faria um governo com mais gastos, o que, em termos de trabalho, significa mais concursos e vagas na administração pública. Isso, o boom da agropecuária, que já era esperado, e a retomada dos serviços, cuja força foi subestimada, na avaliação de Cruz, são os três pilares que, na sua visão, fizeram a taxa de desemprego continuar caindo neste ano e que, em alguma medida, podem prosseguir ao longo de 2024.

“Até entendo que a taxa de desemprego pode subir um pouco nesse terceiro trimestre, mas no fim do ano deve ‘dar um gás’ [melhorar] de novo e, no ano que vem, ser mais positivo”, diz Cruz.

A RB Investimentos e a Análise Econômica projetam taxas menores de desemprego ao fim de 2024 do que ao fim de 2023, de 7,5% e 7,1%, respectivamente.

Cruz diz que o crescimento do PIB em 2024 será, no mínimo, de 2% – a mediana do Focus está em 1,3%. “Com os juros caindo, vemos que muitas empresas vão estar mais aliviadas em termos de balanço e podendo fazer um planejamento um pouco mais arrojado para o ano que vem”, afirma.

Ao mesmo tempo, diz Cruz, as famílias podem ter melhores condições de consumo. “Na ponta, o endividamento já está começando a cair e a inadimplência também. O Desenrola [programa do governo para renegociação de dívidas] vai gerar um efeito extra. E os juros mais baixos também ajudam, fica mais fácil encaixar parcelas.”

Também no “Top 5” do Focus, mas mais cautelosos, a JGP projeta taxas de desemprego de 9% no fim de 2023 e de 8,9% em 2024, feitos os ajustes sazonais. O BTG Pactual, por sua vez, até melhorou sua projeção para a taxa de desemprego em 2023, que era de 8,7%, mas ainda mantém em 8,4%. Para o fim de 2024, reduziu de 9,1% para 8,8%.

Fernando Rocha, economista-chefe da JGP, diz que chegar a taxas de desemprego mais próximas de 7% não é impossível, mas, no momento, não parece muito provável, porque exigiria, segundo ele, crescimentos do PIB maiores do que os previstos pela gestora e “muito mais altos” do que os imaginados pelo mercado. A JGP projeta crescimentos da atividade de 2,7% em 2023 e de 1,7% em 2024.

“A gente teria de ver ou a população ocupada acelerar, o que é uma possibilidade, mas ainda temos os efeitos da política monetária contracionista atuando, ou a população economicamente ativa teria de cair mais ainda [reduzindo a taxa de participação], o que também não parece o caso, porque ela mudou de patamar, mas estabilizou”, afirma Rocha.

A JGP espera que o desemprego comece a subir, faça um pico entre fevereiro e março de 2024 e, depois, comece a cair de novo, de modo que o número final de 2024 fique bem parecido com o de 2023. Segundo Rocha, por causa da defasagem, o mercado de trabalho começa a sentir só agora o impacto máximo da política monetária bastante apertada que vigorou até agosto, quando o BC começou a cortar os juros. “Vai ser ao longo de 2024 que a política monetária afrouxando vai pegar, e a curva [de desemprego] vai começar a virar novamente”, diz.

Na Tendências, a expectativa é que a população ocupada passe a apresentar crescimentos mais moderados, em linha com o cenário de desaceleração da economia, mas a taxa de participação deve seguir pressionada para baixo, segundo Assis. Ainda que preveja uma aceleração da taxa de desemprego para 8,6% no fim de 2024, feitos os ajustes, “não será suficiente para atingir os níveis de dois dígitos do pré-pandemia”, diz Assis.

“A elevação da taxa de desocupação no ano que vem é mais uma acomodação, considerando que os últimos resultados apresentaram surpresas muito positivas. Não necessariamente reflete uma piora do cenário no mercado de trabalho”, afirma.

Ele pondera, no entanto, que a melhora no emprego não é sentida por todos da mesma forma. “Conforme a gente desagrega a taxa nacional, observamos que para mulheres, pretos e pardos, jovens, pessoas de menor escolaridade, residentes das regiões Norte e Nordeste, isso ainda é bastante desigual”, observa.

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