Usiminas, ArcelorMittal e Ternium devem ser as mais afetadas por tarifas de Trump – Folha de S. Paulo
- Na Mídia
- 12/02/2025
- Tendências

Gerdau tende a ser uma das poucas siderúrgicas brasileiras que não sofrerão com sobretaxa, pois exporta pouco para os EUA
As tarifas sobre aço e alumínio anunciadas por Donald Trump podem afetar grande parte das vendas das siderúrgicas brasileiras. O Brasil é o segundo maior exportador de aço para os americanos.
De acordo com analistas ouvidos pela Folha, as empresas mais afetadas devem ser a Ternium, ArcelorMittal Usiminas, que exportam grande fatia de suas produções para os EUA. A primeira controla a terceira, mas também tem fábrica própria de placas de aço no Brasil, com capacidade de produzir até 5 milhões de toneladas anualmente no Rio de Janeiro.
Segundo o relatório anual da Ternium, em 2023 a empresa exportou 486 mil toneladas de aço a partir do Brasil. A siderúrgica não divulga quanto de sua produção anual vai para os Estados Unidos, mas uma fatia considerável atende às indústrias americanas.
Quem conhece o mercado também diz que ela envia parte de sua produção semiacabada no Brasil a suas unidades americanas e mexicanas, onde os produtos de aço são finalizados. O México, aliás, outro país na mira de Trump, é responsável por quase 60% das exportações da Ternium.
Já a Usiminas teve em 2023 a América do Norte como destino de 13% de suas exportações, segundo o release de resultados da empresa do final daquele ano. O relatório não destrincha os nomes de países, mas segundo analistas as empresas americanas são importantes consumidoras da siderúrgica. As exportações, porém, representam apenas 10% das vendas de aço da empresa.
Em 2023, cerca de 300 mil toneladas de aço da CSN foram negociadas pelo braço de distribuição da empresa nos EUA e outras 21 mil toneladas foram exportadas (sem filtro de país). Mas a maioria das negociações da siderúrgica brasileira são no mercado doméstico, que absorveu quase 3 milhões de toneladas de aço naquele ano.
A ArcelorMittal, que tem várias unidades no Brasil, não divulga quanto de sua produção vai para os EUA, mas segundo seu relatório anual, em 2023 produziu 14 milhões de toneladas de aço no país, a grande maioria exportada.
Marco Antônio Castello Branco, ex-presidente da Usiminas e ex-diretor da Vallourec, aponta que a ArcelorMittal, assim como a Ternium, alimenta suas unidades nos EUA com aços semielaborados do Brasil e, por isso, as taxas devem afetar suas operações internas. Ele estima que as siderúrgicas no Brasil podem perder até US$ 5 bilhões (R$ 29 bi) devido às medidas de Trump.
“Os impactos dessa medida são a perda de receita em dólar da siderurgia, aumento de ociosidade das usinas e eventualmente suspensão ou adiantamento de seus investimentos. Dificilmente o Brasil conseguirá reorientar os volumes que deixarem de ser exportados para outros países”, diz. Hoje, as siderúrgicas brasileiras produzem de 60% e 70% (considerada baixa), e as medidas de Trump podem reduzir ainda mais esse percentual.
A dificuldade em reorientar a produção brasileira também é mencionada por Yasmin Riveli, consultora de mineração e siderurgia da Tendências Consultoria. “Como as tarifas vão afetar todo mundo, os demais países também vão tentar realocar suas produções. Vai ser uma corrida para quem vai conseguir negociar flexibilizações primeiramente”, diz.
Segundo ela, o Brasil tem uma vantagem sobre os demais países, porque, como a grande maioria das exportações brasileiras para os Estados Unidos é de aços semiacabados, as siderúrgicas americanas podem ser afetadas se não conseguirem importar o aço brasileiro.
Na lógica da cadeia global de aço, essas siderúrgicas precisam importar aço semiacabado para fabricar produtos para indústrias manufatureiras, como as automotivas. “Com isso, há espaço para defender um tratamento diferenciado para o Brasil”, afirma.
Em 2018, Trump também aplicou tarifa de 25% sobre o aço importado pelos Estados Unidos, mas dois anos depois, reduziu a cota de importação de aço semiacabado do Brasil. Em 2022, sob Joe Biden, os americanos revogaram as medidas restritivas.
Já a Gerdau deve ser uma das poucas siderúrgicas brasileiras que não serão tão afetadas pela medida. Historicamente, menos de 10% das exportações da produção da empresa no Brasil vão para a América do Norte – a siderúrgica prioriza os mercados da América do Sul, América Central e, recentemente, tem ganhado espaço no mercado Europeu.
Além disso, a empresa tem fábricas nos Estados Unidos, que representam grande parte das receitas da empresa – por isso, em primeira análise, a siderúrgica poderia se beneficiar das tarifas. As ações da empresa cresciam 3,77% na B3 na manhã desta segunda, sendo vendidas a R$ 17,33.
Nesta segunda, o BTG publicou uma análise em que diz que é natural enxergar a Gerdau como beneficiária das medidas, mas o banco alertou ser necessário ter mais detalhes do anúncio. “Embora a reação inicial possa ser cobrir posições vendidas ou buscar uma negociação rápida, recomendamos alguma cautela.”