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Tarifaço: Taxação de 50% entre em vigor amanhã – Times Brasil

Em entrevista ao Jornal Times Brasil, Silvio Campos Neto, sócio e economista da Tendências Consultoria, comenta sobre o “Tarifaço”, a taxação de 50% de Trump

A sobretaxa de 40%, ao entrar em vigor, aumenta a taxação sobre muitos produtos brasileiros para 50%, uma vez somada com os 10% que já existiam. Ao ser questionado sobre qual é a principal preocupação nesse momento e se há alguma expectativa de que possa haver mais alguma negociação, Campos Neto acredita ser algo realmente muito imprevisível, especialmente se tratando do jeito Trump de negociar e de lidar com essa situação.

Ele explica que são situações que surgem, muitas vezes, sem um anúncio prévio, sem aviso. Claro, sempre há possibilidade de algum passo atrás ou mesmo de alguma negociação, muito embora não esteja, pelo menos neste momento, nada previsto. 

Campos Neto relembra, no entanto, que já houve um passo atrás importante na semana passada, que veio a isentar uma parcela de quase 50% das exportações dessa sobretaxa. Mas ainda há uma parcela importante sujeita a esse total de 50%, que, por sua vez, tende a trazer impactos, pelo menos setoriais, relevantes.

Impactos sobre o PIB brasileiro

Campos Neto diz que esperamos também efeitos, de um ponto de vista macroeconômico, a princípio bem limitados sobre o PIB brasileiro. Não só pelo fato de que o Brasil realmente não tem, nas exportações, um componente de grande peso na composição de sua demanda agregada — o total é de cerca de 15% e os Estados Unidos representam uma parcela de 12% desse total — mas também cerca de 1/3 disso é que realmente está sujeito hoje às tarifas de 50%.

Em termos macro, Campos Neto diz que, por ora, nos parece um efeito pequeno, claro que com impactos setoriais relevantes para alguns segmentos. Em termos inflacionários, fica sempre uma dúvida. Claro que, num primeiro momento, até por um excedente de oferta, podemos ter algum impacto desinflacionário de início, mas, primeiro, incertezas em relação ao comportamento do câmbio podem ser um fator de risco mais à frente. Campos Neto destaca que, até aqui, o real e a taxa de câmbio, de forma geral, têm se comportado bem, mesmo com todos esses ruídos e estresses. O dólar a R$ 5,50 é um exemplo disso e não traz problemas inflacionários, por ora.

Pensando no excedente de produção, num período mais à frente, Campos Neto diz que as empresas ou produtores desses itens que estão sendo afetados tendem a reduzir a produção. Então, também esse efeito desinflacionário não tenderia a ser duradouro.

Por isso, o próprio Banco Central foi muito cauteloso ao apontar potenciais impactos macro dessa agenda, porque realmente o ambiente ainda é muito incerto.

Cenário econômico do Brasil

Campos Neto diz que o Brasil vai chegando ao final de 2025 com alguns desequilíbrios importantes a serem atacados, e não só por conta deste ano, mas de uma sequência dos últimos.

Ele sinaliza que temos, de um lado, o Banco Central atuando para conter um importante desequilíbrio, que é a inflação persistentemente acima da meta, um fator relevante, que reflete, de certa forma, o crescimento acima do potencial que temos observado.

Além disso, Campos Neto sinaliza que as taxas de juros estão muito altas — não só a Selic, mas também as taxas de mercado, o que tende a deixar um legado importante, e, nesse caso, negativo, para 2026, no sentido do encarecimento do custo do capital, com implicações para o crédito e para a atividade econômica. É o que se espera à luz de todo esse aperto de política monetária.

Outro ponto destacado por Campos Neto é o desequilíbrio importante na questão fiscal. Entretanto, ele diz que esse será atacado em suas questões estruturais até o final do ano que vem. Estamos vivendo de paliativos, de medidas pontuais visando ao cumprimento de metas, mas que não revertem nem reduzem substancialmente a percepção de risco fiscal, que é muito elevada.

Resumindo: por mais que o Brasil venha tendo bons resultados econômicos nos últimos anos — e 2025 seja uma transição nesse período, porque a economia já está desacelerando e vai crescer menos do que nos últimos dois ou três anos —, chegaremos no final deste ano ainda com alguns desequilíbrios latentes, e parte deles só será efetivamente atenuada ou resolvida mais adiante, principalmente depois do ciclo eleitoral.

Riscos futuros

De acordo com Campos Neto, riscos, ou pelo menos uma parte deles, existem de fato e alguns até talvez para o curto prazo. Trump tem essa característica pouco previsível: de repente, de um dia para a noite, ele anuncia alguma coisa nesse sentido, trazendo, de novo, estresse e impactos nos ativos. O fato é que esse tipo de risco — pelo menos um aumento de sanções — não está precificado.

Campo Neto explica que avanços nessa direção fatalmente se traduziriam em impactos maiores nos preços de ativos brasileiros, em ações perdendo valor e, principalmente, numa taxa de câmbio um pouco mais depreciada. Ainda assim, é importante destacar que o dólar está fraco no mundo todo, até por conta de toda essa confusão criada pelo próprio Trump. Ele está prejudicando a própria moeda do país. Esse é um fator que ajuda a fazer com que a nossa taxa de câmbio real/dólar nem suba tanto, mesmo num cenário mais adverso.

Entretanto, Campos Neto diz que podemos, sim, sofrer outras iniciativas de uma mesma magnitude. Os mercados hoje não precificam isso, talvez pela incerteza que existe. Ele explica que ninguém quer fazer uma aposta de antemão num cenário mais pessimista, mas medidas adicionais podem vir e, conforme forem acontecendo, os mercados terão que ajustar os preços a esses fatos novos.

Sobre a possibilidade de um acordo entre a Europa e o Mercosul ainda neste ano, Campos Neto diz que o prazo não ajuda, apesar de que tudo o que tem acontecido no contexto global favoreceria o avanço desse acordo dos dois lados. 

Campos Neto pontua que vemos restrições no lado europeu, como na questão ligada à parte agrícola, com países sendo muito mais reativos a potenciais termos do acordo. Talvez por isso seja um pouco otimista imaginar que ainda neste ano tenhamos um avanço efetivo.

Entretanto, ele finaliza dizendo que, ainda assim, as condições para que consigamos nos aproximar cada vez mais desse acordo estão colocadas e foram ainda mais estimuladas à luz de toda essa agenda protecionista vinda de Washington.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!