Saiba tudo o que rolou na nossa live sobre o tarifaço de Trump
- Macroeconomia e política
- 02/05/2025
- Tendências

O recente aumento das tarifas de importação imposto pelo governo de Donald Trump tem impactos relevantes para o Brasil tanto no plano econômico quanto no plano geopolítico. Há riscos para setores específicos da economia brasileira, especialmente os mais expostos ao comércio internacional, além de impactos via mercados financeiros, com a reprecificação de ativos brasileiros em um contexto de maior aversão ao risco. No campo geopolítico, a medida reforça o clima de protecionismo e tensões comerciais entre Estados Unidos e seus parceiros, pressionando o Brasil a diversificar suas alianças para reduzir sua vulnerabilidade frente às oscilações da política externa norte-americana.
Para debater aspectos políticos e econômicos dessa conjuntura, a Tendências Consultoria realizou uma live exclusiva para clientes e parceiros no dia 29 de abril de 2025. Ela foi conduzida por Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da área de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências, e contou com apresentações de Silvio Campos Neto, sócio da Tendências responsável pela análise de mercados financeiros, e Rafael Cortez, sócio da Tendências responsável pela análise de risco político.
Avaliação política
Rafael Cortez deu início à sua explanação explicando que a coalizão do governo de Donald Trump deve seguir dividida ao longo de 2025. Ele também acredita que a concentração de poder é marca do segundo mandato do presidente norte-americano.
Outra característica marcante, segundo Cortez, é a presença de um discurso anti-institucionalista que guarda proximidade com democracias iliberais, ou seja, com desbalanceamento de poder, como é o caso da Turquia e da Hungria. O cientista político da Tendências explica que a ruptura com o regime de freios e contrapesos ameaça o efeito corretor da democracia.
Ele levanta, então, uma questão: a democracia será capaz de conter eventuais desvios que o presidente dos Estados Unidos venha a cometer? Há algum nível de preocupação a respeito disso, uma vez que a própria candidatura de Trump já demonstrou que a Suprema Corte pode não servir de contraponto a esses regimes.
Cortez também explica que há uma tendência histórica de perda de cadeiras do partido do atual presidente dos Estados Unidos nas eleições de meio de mandato, algo bastante comum na história. Em certa medida, faz parte do estilo político norte-americano.
Entretanto, ele identifica um exagero na leitura de perda de popularidade de Donald Trump, uma vez que ela segue, em 2025, maior do que durante seu primeiro mandato. “Ainda que ocorra uma queda, não vemos um ‘derretimento’, principalmente por conta da polarização e da rejeição do governo Biden, que “ajuda” o Trumpismo”, diz Cortez.
Impactos econômicos
Na sequência, Silvio Campos Neto entrou em cena para explicar mais sobre quais foram e serão os impactos globais do tarifaço de Trump. Ele explica que esse movimento anunciado no início de abril leva a tarifa de importação média dos Estados Unidos de volta a patamares do início do século XX e que não é razoável contar com a efetivação destes níveis.
Além disso, Campos Neto relembra que a guerra comercial desencadeada por Trump a partir de meados de 2018 gerou uma forte desaceleração do comércio e do crescimento global em 2019, pontuando que uma dinâmica similar é esperada para este e, provavelmente, o próximo ano.
Com relação aos impactos para o Brasil, ele diz que, embora a perda de exportações para o território norte-americano deva ser limitada, esse risco não deve ser desprezado. Em 2024, as exportações totais representaram 15% do PIB e, do total exportado (US$ 337 bi), 12% (US$ 40,3 bi) tiveram como destino os Estados Unidos.
Dentre os efeitos indiretos positivos, destacam-se:
- A absorção do efeito desinflacionário gerado pelo excesso de oferta e pela queda dos preços das commodities;
- Menor pressão sobre os juros de mercado em decorrência de uma eventual recessão nos EUA;
- O dólar menos fortalecido globalmente, embora moedas de países emergentes possam não ser beneficiadas;
- Oportunidades de acesso a novos mercados com o rearranjo das cadeias produtivas globais.
Já dentre os efeitos indiretos negativos, destacam-se:
- Maior desaceleração ao PIB mundial, imposta pela redução do comércio global;
- Efeitos relevantes sobre a China, intensificando o impacto sobre os preços das commodities e ativos correlacionados;
- Maior aversão ao risco, o que afeta os fluxos financeiros e desvaloriza ativos de países emergentes;
- Queda dos juros por parte do Fed limitada pelo repique inflacionário nos Estados Unidos;
- A entrada em larga escala de produtos chineses no país.
Sobre a precificação de ativos, Campos Neto diz que a agenda de Trump traz implicações complexas sobre as taxas de juro e de câmbio. Ele explica que, historicamente, períodos de maior aversão ao risco resultam no chamado “flight to quality”, o que leva a uma valorização do dólar e ao recuo dos yields dos treasuries norte-americanos (busca por proteção).
O chamado “Trump trade” envolveu a percepção de que as políticas estimulantes e protecionistas do novo governo manteriam o dólar forte e os juros mais pressionados. Entretanto, Campos Neto pontua que o dólar tem perdido valor na margem, principalmente em relação às moedas de países desenvolvidos.
O risco de recessão se sobrepõe ao temor inflacionário e as especulações de venda de ativos norte-americanos podem explicar em parte a reação confusa, incluindo a dinâmica volátil dos juros longos.
Campos Neto finaliza dizendo que todos esses fatores permanecem condicionados pela sequência da agenda de Trump, em particular pelos impactos sobre a China e o grau de aversão ao risco. Além disso, os efeitos líquidos devem considerar políticas internas.
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