O tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos a produtos importados de diversos países já mostra efeitos relevantes tanto no cenário global quanto no cenário nacional. Para o Brasil, entre as consequências diretas e indiretas, o tarifaço tende a reduzir a expansão do PIB, especialmente devido aos impactos para a indústria e investimentos.

Visando discutir os primeiros efeitos do tarifaço e as perspectivas para os setores, bem como o espaço ainda existente para negociação entre os dois governos, a Tendências Consultoria realizou uma live no dia 7 de outubro de 2025. Participaram Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências, e os consultores Gabriela Faria, Yasmin Riveli, Carolina Oliveira e Davi Gonçalves.

Setores mais afetados e impactos regionais

Dentro do setor industrial, segmentos como bens de capital, químicos, siderurgia e automotivo estão entre os mais afetados. Cerca de 55% dos itens exportados estão sujeitos à tarifa de 50%.

Entre as regiões mais afetadas, estão os estados de Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Ceará.

Exportação de bens de capital

No acumulado até setembro, as exportações avançaram 7% na comparação anual, com destaque para as exportações para a Argentina. Enquanto 28,7% das exportações foram destinadas aos Estados Unidos, 17,3% foram para a Argentina.

Para os Estados Unidos, houve o avanço das exportações de aeronaves e máquinas de energia elétrica. Para a Argentina, houve o avanço das exportações de veículos para transporte de mercadorias e veículos rodoviários.

Importação de bens de capital

No acumulado até setembro, as importações avançaram 26,7% na comparação anual, com 24% tendo origem na China e 14,6% tendo origem nos Estados Unidos.

Para a China, houve o avanço das importações de plataforma de petróleo, equipamentos mecânicos e máquinas para a indústria. Para os Estados Unidos, houve o avanço das importações de aeronaves e suas partes, instrumentos de medição e máquinas de processamento de dados.

Setor de siderurgia

No acumulado até setembro, importações de aços laminados planos avançaram 34% na comparação anual, sendo que 68% delas tiveram sua origem na China.

Quanto à exportação de aços semiacabados, houve um avanço de 5,8% na comparação anual, com 77% delas sendo destinadas aos Estados Unidos.

Pensando na produção total, o cenário para curto prazo contempla perda de tração por conta de fatores internos (desempenho mais fraco de alguns setores demandantes) e externos (desafios moderados nas vendas de semiacabados e, sobretudo, elevada competição com aço chinês).

De toda forma, a dificuldade de substituição do semiacabado brasileiro no curto prazo é um fator de alento.

Setor automotivo

México e Canadá representam mais da metade das importações de veículos dos Estados Unidos (considerando leves, caminhões e ônibus).

Brasil e China apresentam uma participação baixa nas importações norte-americanas de veículos. No acumulado do ano até junho, o Brasil registrou uma participação de 0,1%, e a China, de 1,0%. A maior parte das exportações de veículos brasileiros (92,9%) são destinadas ao mercado latino-americano.

A forte expansão em 2025 reflete a normalização das vendas para a Argentina, impulsionada pela recuperação econômica do país e pela eliminação do tributo PAIS.

As exportações enfrentam riscos pela maior concorrência de veículos chineses e mexicanos em mercados tradicionais do Brasil, agravada pelo protecionismo crescente nos Estados Unidos e na União Europeia.

Setor agropecuário

Em 2024, as exportações do agronegócio brasileiro para os Estados Unidos atingiram cerca de US$ 12 bilhões, representando 7,57% do total exportado pelo país. Até agosto de 2025, as exportações somaram US$ 8,45 bilhões.

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