Tendências Consultoria Econômica

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Risco crescente para a reeleição do presidente Lula – Jota

Pesquisas de avaliação de governo neste momento apontam para capital líquido negativo do petista

Por Rafael Cortez*

O cenário eleitoral deve ter impacto crescente nas expectativas dos agentes econômicos e, por consequência, nos ativos brasileiros. A despeito do elevado risco fiscal ainda presente, o que sugeriria potencial desvalorização dos ativos financeiros domésticos, a paisagem eleitoral pode promover efeito reverso da cena política.

A rejeição elevada do governo Lula abre janela de oportunidade para a vitória de um nome da oposição, o que anima parte relevante do mercado. Há um nome em especial que levaria a um choque positivo nas expectativas em relação à agenda econômica: Tarcísio de Freitas. O projeto presidencial do governador de São Paulo tem como obstáculo principal a figura do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Nossa leitura é de que qualquer candidatura no campo do antipetismo só será relevante contra a reeleição do presidente Lula se conseguir apoio do ex-presidente. Não por acaso, o governador de São Paulo tem comportamento próximo a Bolsonaro na esperança de se mostrar leal ao seu criador.

O ex-presidente não deve indicar o nome mais competitivo para vencer Lula, mas um que mantenha sua relevância política e, especialmente, se comprometa com uma saída para amenizar seus dilemas jurídicos. Ainda, a candidatura de Tarcísio gera desconfiança entre o bolsonarismo, dado que o projeto é percebido como forma de isolar o ex-presidente do jogo. Aos olhos dos bolsonaristas, o projeto Tarcísio pertence à elite política.

“Não existe direita sem Bolsonaro.” Com essa declaração, o governador de São Paulo não apenas se aproximou do seu criador na retórica, mas também compareceu como testemunha de Bolsonaro no STF. Além disso, Tarcísio tem reforçado suas aparições públicas, inclusive junto aos evangélicos, que representam 29% do eleitorado total.

Essa proximidade pública entre Bolsonaro e Tarcísio não necessariamente representa a definição do candidato. Na verdade, o ex-presidente pode estar usando a popularidade do governador, como parte da sua estratégia de se manter relevante no cenário político. Nas palavras de Bolsonaro: “para o ano que vem, nós dois seremos candidatos. Ele vai para reeleição e eu para presidente. Eu não aparecer para candidato é uma negação à democracia”.

Sem alteração na visão que o eleitorado tem do governo Lula, o campo do antipetismo vence a eleição de 2026. As pesquisas de avaliação de governo neste momento apontam para capital líquido negativo do presidente Lula (desaprovação maior do que rejeição). Algo entre 53% e 55% desaprovam o desempenho do petista, o que, grosso modo, antecipa o potencial eleitoral da oposição. A corrida presidencial é basicamente o plebiscito do governo.

Assim, Bolsonaro não tem uma relação de dependência de Tarcísio. Qualquer nome antipetista tem chance com essa rejeição elevada de Lula. Dessa forma, ele pode escolher o nome mais comprometido com sua agenda pessoal.

Levantamentos recentes apontam a existência de um equilíbrio entre petismo e antipetismo, independentemente do nome simulado pela oposição. A condição necessária para Tarcísio convencer o ex-presidente passa por alguma forma de agenda da anistia.

Em tese, a principal força do projeto Tarcísio é seu potencial de apresentar candidatura com taxa de rejeição significativamente mais baixa do que a desaprovação do governo Lula. Assim, o eleitor descontente com o governo encontraria alguma opção segura como alternativa.

Os números são animadores para eventual candidatura de Tarcísio. Contudo, nossa avaliação é de que esses números menosprezam o efeito da radicalização política na visão do eleitorado de Tarcísio. A campanha eleitoral tende a elevar essa rejeição aos patamares mais próximos do presidente Lula.

Pesquisas apontam que o desempenho de Bolsonaro e Tarcísio nas simulações contra Lula, no segundo turno, por segmento de renda, é bastante próximo. Mesmo com a rejeição muito diferente de Bolsonaro e Tarcísio, quando o eleitor precisa escolher no segundo turno, prevalece o equilíbrio decorrente da taxa de avaliação do governo.

Neste contexto, o projeto de reeleição do governo sustenta risco crescente, não só considerando o contexto atual de desaprovação, mas também pela dificuldade de aprovação das agendas (gratuidade da conta de luz e tributação da renda) junto às casas legislativas que poderiam alterar de forma moderada esse quadro.

*Rafael Cortez é cientista político e sócio da Tendências Consultoria

Reprodução. Confira o original clicando aqui!