Reduzir risco político é fundamental para o crescimento econômico

“É a economia, estúpido”. O uso da frase do estrategista de campanha do partido Democrata, James Carville, no início de 1992 tornou-se comum nas análises eleitorais mundo afora. A racionalidade por trás da afirmação é razoavelmente simples: o cenário econômico tem peso no comportamento dos eleitores, tornando a disputa presidencial uma avaliação do desempenho do governo na condução da economia. Uma economia que cresce significaria vitória do candidato à reeleição, independentemente das variáveis políticas, tais como a natureza do sistema de partidos, o perfil dos candidatos ou a estrutura de campanha. A economia seria tão poderosa que, no limite, ela também produziria estabilidade política. 

Os últimos anos, porém, foram marcados pela “redescoberta da política”, invertendo a relação entre economia e política. A análise das regras do jogo e das escolhas dos tomadores de decisão passou a ter impacto decisivo no comportamento das economias. A crise política nos países avançados, decorrente da crise sistêmica de legitimidade das organizações partidárias tradicionais, mostrou, por exemplo, que o risco político não era apenas um problema de países periféricos. A melhor situação econômica não basta para evitar riscos democráticos e episódios de violência política.

Mudanças na paisagem internacional

Os novos tempos requerem a avaliação da articulação entre a cena internacional e as escolhas políticas domésticas como condicionante do desempenho econômico do próximo mandato para o Brasil. As mudanças na paisagem internacional em direção a um mundo menos integrado, resultado das lições da pandemia e dos riscos geopolíticos, devem promover um rebalanceamento entre países emergentes.

Esse contexto de mudança traz vários desafios, mas também oportunidades. Os desafios são vários – inclusive, de curtíssimo prazo, como por exemplo as consequências de fortes estímulos fiscais e monetários para a economia mundial em um ambiente de restrição de oferta. A inflação elevada e a consequente necessidade de aperto rápido da política monetária resultarão em desaceleração da atividade econômica global. Esse quadro pode ser agravado por restrição de oferta de petróleo e gás pela Rússia, evidenciando a vulnerabilidade na questão energética (especialmente no caso europeu), o que alimenta os temores de recessão.

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O desafio de equilibrar economia e política no Brasil

O equilíbrio de economia política no cenário “pós-teto de gastos” basicamente expressa paralisia decisória no tocante às contas públicas. Seja pela dimensão da receita, seja pela dimensão das despesas, existem entraves políticos para a aprovação de medidas que reduzam a percepção de risco, contribuindo para uma menor carga em cima da política monetária no combate à inflação. Esse equilíbrio político na verdade mostra-se mais eficiente em dribles às regras fiscais e ao populismo na concessão de benefícios tributários.

Entenda o cenário político e econômico em 2022.

A gestão do presidencialismo de coalizão é fundamento comum para esses dois dilemas. Há um enfraquecimento político-institucional da Presidência da República. A descentralização da agenda reduz a prestação de contas da elite política e aumenta os riscos de captura por interesses particulares e/ou regionais. 

O Brasil tem quatro grandes desafios: 

  1. A redução da percepção de risco quanto ao ambiente político-institucional; 
  2. O desenho de uma política fiscal crível que garanta a sustentabilidade das contas públicas;
  3. A continuidade da agenda microeconômica para aumentar a produtividade e o crescimento potencial;
  4. A reconfiguração da posição do Brasil no âmbito das relações internacionais, tendo em vista um novo posicionamento diante do redesenho geopolítico global. 

A construção de uma trajetória sustentável de crescimento econômico tem poucas chances de sucesso, entretanto, sem a superação de uma política cada vez mais radicalizada e com horizonte temporal de curto prazo. É a política e a economia, estúpido!

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Alessandra Ribeiro é economista, sócia e diretora da área de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências Consultoria.

Rafael Cortez é cientista político e sócio da Tendências Consultoria.

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