Rafael Cortez participa do WW: eleições 2024 e a tentativa de baixar preços do arroz – CNN BRASIL
- Na Mídia
- 26/06/2024
- Tendências
Em participação especial na edição de 21/06/2024 do programa WW da CNN Brasil, Rafael Cortez, cientista político e sócio da Tendências, discutiu as eleições de 2024 e a tentativa de baixar os preços do arroz.
Eleições municipais de 2024
Jair Bolsonaro mostrou força nesta sexta-feira ao indicar o candidato a vice de Ricardo Nunes na principal eleição municipal do país, em São Paulo. Trata-se de um desconhecido coronel da Polícia Militar que já foi da temida Rota. O movimento para que a escolha fosse antecipada em um mês foi liderado pelo Governador Tarcísio de Freitas. Foi feito às pressas para evitar uma fuga do eleitor bolsonarista para o empresário Pablo Marçal e explicitou a disputa na direita brasileira pelo eleitor de Bolsonaro.
O governador e o prefeito de São Paulo são vistos com desconfiança pelo eleitor mais fervoroso do ex-presidente. Eles os consideram amenos radicais, moderados demais e, em certo modo, oportunistas demais por quererem o eleitor bolsonarista sem serem bolsonaristas demais e veem em Pablo Marçal alguém com as características de um outsider antissistema de seu líder.
Tarciso Ricardo Nunes, é importante pontuar, resistiram ao vice escolhido por Jair Bolsonaro, mas foi a forma de tentar garantir com eles o bolsonarismo, ainda que com Bolsonaro.
Quando questionado sobre Paulo Marçal ser o grande fator de instabilidade nessa eleição no campo da direita, Cortez responde dizendo que o termo “grande fator” talvez seja um pouco exagerado, mas é certamente um componente importante para esse cenário que parece se desenhar no primeiro turno, com uma candidatura de esquerda bastante consolidada na figura do Guilherme Boulos e uma possível fragmentação da direita.
“Com um nome como Paulo Marçal, que dialoga certamente com potencial eleitorado, sobretudo nessa imagem de ser de fora da política e de ser alguém mais puro que está entrando agora, que bate um pouco com a imagem que o ex-presidente Bolsonaro construiu, sobretudo no momento eleitoral antes de ser governo. O que sabemos é que, quando o eleitor recebe uma oferta ampla de candidaturas, ele tende eventualmente a acompanhar, e podemos ter uma disputa um pouco mais fragmentada do que sugere a estratégia do petismo ou do bolsonarismo, que é nacionalizar essa disputa.”
Sobre a disputa ser nacionalizada ou mais voltada para questões locais da cidade de São Paulo, Cortez acredita que, sim, será uma das eleições municipais mais nacionalizadas até agora.
Ele diz que uma parcela desse conflito, que é o principal no Brasil hoje, nasce e dialoga em São Paulo.Certamente grandes temas da política nacional serão repercutidos, mas isso não significa necessariamente esquecer o que foi administração de Ricardo Nunes, por exemplo, e focar apenas em um debate sobre posicionamentos em relação aos temas nacionais.
“Acho que o ponto de partida, e porque essa candidatura do Bolos é competitiva, é por conta da avaliação de governo do atual prefeito Ricardo Nunes, que é, talvez no melhor do cenário, razoável,mas ele tem uma rejeição relevante. Então, é essa rejeição relevante que está dando esse ponto de partida elevado pro Bolos. Tivéssemos nós falando de um prefeito com 40% ou 50% de avaliação ótimo e bom, a gente não estaria falando de uma chance tão relevante da oposição pensando agora em 2024.”
Sobre a política nacional, Cortez sinaliza que uma das grandes questões que vai ficar mais forte na política brasileira nos dois anos finais do mandato Lula é o quão a coalizão que o elegeu em 2022 vai permanecer em 2026.
“E a gente tem evidências não desprezíveis que temos movimentações importantes nesse sentido de dividir a base que acabou elegendo o Lula lá em 2022. Então, a minha leitura é que agora, salvo alguma coisa muito forte que realmente ganhe muito peso em termos de agenda negativa, ele vai trocar de lado. Hoje ele até mencionou que não faria uma reforma ministerial agora, que ele está muito satisfeito com os ministros.”
Cortez acredita que Lula vai tentar lá na frente começar a entender melhor os movimentos das eleições municipais antes de realizar a troca de ministros, pois seria pouco efetivo realizá-la agora. E parte desses movimentos passa pelo resultado da Capital em São Paulo.
Falcatrua no leilão de arroz
Sobre a tentativa de baixar preços do arroz, o Presidente Lula disse que houve falcatrua no leilão e que haverá outro.
O leilão foi realizado no dia 6 de junho, com 36 mil toneladas compradas pelo governo, mas foi cancelado por suspeita de fraudes. A empresa vencedora do maior lote tem como sede uma loja de queijos em Macapá e alterou o capital social de R$ 80 mil para R$ 5 milhões dez semanas antes do leilão.
Após Lula mencionar a falcatrua, houve a anulação do leilão. A importação de arroz preocupa os produtores, que temem um desequilíbrio no mercado com maior oferta. Um novo leilão estava marcado para 19 de junho, mas foi adiado após negociações com arrozeiros do Rio Grande do Sul. Segundo a associação, o governo concordou em ouvir propostas dos produtores antes de publicar um novo edital, visando equilibrar os preços.
Cortez acredita que, de uma maneira geral, o mercado enxerga isso como uma intervenção clara na economia e que está no bojo de uma preocupação mais ampla, tanto do mercado quanto do governo. Olhando pelo lado do governo, existe a questão inflacionária, com Lula fazendo todo tipo de pressão em relação ao Banco Central.
“O que vem dessa retórica vai batendo nas decisões mais concretas. Acho que não há dúvida que, aos olhos de hoje, tem uma precificação muito alta de risco. A gente olha onde é que está o câmbio (…), isso impacta a inflação e o temor vai aumentando, virando uma bola de neve num momento político delicado pro governo.”
Ao ser questionado sobre essa operação toda do arroz esgarçar uma relação do governo com o agronegócio, Cortez acho que é preocupante, mencionando a possibilidade de ter uma CPI, a partir desse caso. O agro possui uma bancada bastante articulada, principalmente no momento em que o governo vai precisar de bastante apoio para outras agendas que não têm a ver diretamente com a questão da alimentação, mas que o apoio dessa base pode ser essencial.
“À medida que esses conflitos vão se avolumando, vai ficando mais difícil essa tarefa mais ampla do governo Lula de organizar sua base aliada para fazer frente às agendas que ele está propondo.”, finaliza Cortez.
Reprodução. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!