Pressão de preços vem do avanço de itens voláteis – O Estado de S. Paulo
- Na Mídia
- 25/10/2024
- Tendências
Por Matheus Ferreira*
Nos últimos meses, houve aceleração da inflação ao consumidor, que atingiu 4,47% na taxa acumulada em 12 meses pela prévia do IPCA de outubro, próxima ao limite superior da meta (4,50%). O IPCA vem sendo pressionado pelo avanço de itens voláteis, como energia elétrica e alimentos.
Para energia elétrica, a piora do cenário hidrológico vem acarretando redução do nível dos reservatórios fluviais, em contexto de demanda por energia elevada. Diante desse pano de fundo, houve elevação das tarifas de energia elétrica no período recente. Em outubro, foi adotada a bandeira vermelha 2, que eleva as tarifas em aproximadamente 10,8%, comparativamente à bandeira verde.
A prévia da inflação também reforçou as pressões sobre os preços de alimentos, que avançam 7,1% na taxa acumulada em 12 meses, variação mais elevada desde março de 2023. O movimento reflete o forte avanço dos preços de proteína animal, sobretudo da carne bovina, que está associado ao menor ritmo de abates de bovinos, às secas que atingem a maior parte do País e ao bom desempenho da demanda externa no período recente.
Algumas métricas mais correlacionadas com o ciclo econômico, por sua vez, apresentaram comportamento um pouco melhor do que o esperado no período recente, considerando o mercado de trabalho apertado. A inflação de serviços intensivos em trabalho avançou 5,2%, na taxa acumulada em 12 meses, após ter atingido 5,7% em julho.
A nossa projeção é de que o IPCA avance 4,5% em 2024, com risco assimétrico para cima, associado à evolução das condições climáticas, da taxa de câmbio e da inflação de serviços. Nossa projeção tem como premissa certa normalização das precipitações com a chegada do período chuvoso, que permitiria adoção de bandeira vermelha 1 em dezembro para as tarifas de energia elétrica.
Caso as chuvas permaneçam abaixo da média, pode haver manutenção da bandeira vermelha 2, que adicionaria 0,21 ponto porcentual à nossa projeção, e pressão adicional sobre os preços de alimentos, para os quais estimamos avanço de 6,9% em 2024. Caso a taxa de câmbio continue a oscilar em torno de R$ 5,70/US$, também haveria viés de alta para as projeções de preços de alimentos e de alguns bens industriais.
*Matheus Ferreira é economista da Tendências Consultoria