Potenciais impactos da estiagem neste ano no Brasil – Exame
- Na Mídia
- 04/11/2024
- Tendências
Combinação de fenômenos naturais, como o El Niño, e mudanças climáticas têm causado quedas significativas no nível dos rios, intensificação de queimadas e incêndios, além de graves impactos na produção agropecuária e na geração de energia elétrica
Por Gabriela Faria e Walter De Vitto*
O ano de 2024 já é registrado como o mais seco dos últimos 70 anos no Brasil, com efeitos nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte. A combinação de fenômenos naturais, como o El Niño, e mudanças climáticas têm causado quedas significativas no nível dos rios, intensificação de queimadas e incêndios, além de graves impactos na produção agropecuária e na geração de energia elétrica.
Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), cerca de 58% do território nacional, ou 5 milhões de km², experimentaram condições de seca até agosto de 2024. Só nesse mês, 1.400 municípios brasileiros enfrentaram seca extrema ou severa. Em setembro houve uma piora das condições de seca no País, com aumento no número de municípios em condição de seca extrema, de 201 (em agosto) para 216, com destaque para São Paulo e Minas Gerais.
Impactos no setor agropecuário
Em agosto de 2024, 963 municípios brasileiros tiveram mais de 80% de suas áreas agroprodutivas impactadas pela seca, dados do Cemaden. A situação é particularmente crítica para as pastagens, que sofrem com a baixa qualidade devido à intensidade e duração da estiagem, afetando diretamente a pecuária nessas regiões.
O calor extremo e o tempo seco de agosto favoreceram uma onda de incêndios, em que foram registrados mais de 109 mil focos no Brasil até o final do mês. Esse número representa aumento de 78% em relação aos 12 meses de 2023, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Em São Paulo, os incêndios saltaram de 1.104 focos em 2023 para 5.281 em agosto de 2024. O impacto foi particularmente severo na produção de cana-de-açúcar. Segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, os incêndios em agosto atingiram quase 480 mil hectares em 8.049 propriedades rurais. Um levantamento da UNICA indicou que 231,83 mil hectares de cana-de-açúcar foram afetados.
No caso das culturas de grãos, como soja e milho, os principais desafios têm sido os atrasos no plantio da safra 2024/25. Isso pode comprometer o desenvolvimento inicial das plantas, aumentando o risco de perdas na produtividade e exigindo uma reavaliação das previsões de produção. As projeções iniciais, que indicam uma recuperação robusta após os prejuízos de 2023/24, tornam-se incertas diante da persistência da seca extrema.
Para os próximos meses, as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam que as temperaturas permanecerão acima da média histórica no Brasil. No entanto, há expectativa de um retorno das chuvas, especialmente nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, com precipitações acima da média. Isso pode melhorar as condições de umidade do solo e mitigar alguns dos impactos da seca prolongada. O retorno das chuvas é crucial para o desempenho da safra de grãos de 2024/25.
Impactos no setor elétrico
Os impactos da estiagem severa também têm afetado o setor elétrico. A redução no volume de chuvas diminuiu as afluências, levando à queda nos níveis de água armazenada nos reservatórios das hidrelétricas. Com exceção da região Sul, a escassez hídrica é alarmante em grande parte do País. No submercado Sudeste/Centro-Oeste, desde maio, as afluências registram os piores índices da série histórica, iniciada em 1931, ficando muito abaixo da média de longo prazo (MLT). No Nordeste e Norte, a situação é igualmente preocupante, com volumes próximos aos mínimos históricos.
A baixa afluência, somada à forte expansão do consumo de eletricidade (+7,0% YoY no acumulado do ano até agosto) – impulsionado pelo bom ritmo da atividade econômica e temperaturas acima da média na maior parte do ano –, vem resultando na redução dos volumes de água armazenados nos reservatórios das hidrelétricas. O quadro só não é mais grave por conta do bom nível de armazenamento alcançado no final do período chuvoso do ciclo 2023/24.
O novo ciclo de chuvas, com início em outubro, torna muito remota a possibilidade de apagões estruturais de energia, ainda que não possam ser descartados inteiramente eventos associados a picos de demanda.
Apesar de o risco de desabastecimento ser baixo, os efeitos da estiagem já são sentidos nas tarifas de energia, que passaram a refletir os custos elevados da geração termelétrica. Além da alta no preço da energia no mercado spot e livre, as tarifas do mercado cativo foram impactadas pelo acionamento das bandeiras tarifárias mais onerosas.
A baixa afluência resultou no acionamento da bandeira amarela em julho, seguida do retorno à bandeira verde em agosto, bandeira vermelha patamar 1 em setembro e patamar 2 em outubro. A perspectiva é de manutenção da bandeira vermelha patamar 2 até novembro ou dezembro, a partir de quando, caso as previsões de chuvas acima da média na maior parte do Sudeste e Centro-Oeste (que respondem por cerca de 70% da capacidade de armazenamento das hidrelétricas do País) se confirmem, espera-se que convirjam nos meses seguintes para o patamar verde.
O ano de 2024 já é registrado como o mais seco dos últimos 70 anos no Brasil, com efeitos nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte. A combinação de fenômenos naturais, como o El Niño, e mudanças climáticas têm causado quedas significativas no nível dos rios, intensificação de queimadas e incêndios, além de graves impactos na produção agropecuária e na geração de energia elétrica.
Segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), cerca de 58% do território nacional, ou 5 milhões de km², experimentaram condições de seca até agosto de 2024. Só nesse mês, 1.400 municípios brasileiros enfrentaram seca extrema ou severa. Em setembro houve uma piora das condições de seca no País, com aumento no número de municípios em condição de seca extrema, de 201 (em agosto) para 216, com destaque para São Paulo e Minas Gerais.
Impactos no setor agropecuário
Em agosto de 2024, 963 municípios brasileiros tiveram mais de 80% de suas áreas agroprodutivas impactadas pela seca, dados do Cemaden. A situação é particularmente crítica para as pastagens, que sofrem com a baixa qualidade devido à intensidade e duração da estiagem, afetando diretamente a pecuária nessas regiões.
O calor extremo e o tempo seco de agosto favoreceram uma onda de incêndios, em que foram registrados mais de 109 mil focos no Brasil até o final do mês. Esse número representa aumento de 78% em relação aos 12 meses de 2023, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Em São Paulo, os incêndios saltaram de 1.104 focos em 2023 para 5.281 em agosto de 2024. O impacto foi particularmente severo na produção de cana-de-açúcar. Segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, os incêndios em agosto atingiram quase 480 mil hectares em 8.049 propriedades rurais. Um levantamento da UNICA indicou que 231,83 mil hectares de cana-de-açúcar foram afetados.
No caso das culturas de grãos, como soja e milho, os principais desafios têm sido os atrasos no plantio da safra 2024/25. Isso pode comprometer o desenvolvimento inicial das plantas, aumentando o risco de perdas na produtividade e exigindo uma reavaliação das previsões de produção. As projeções iniciais, que indicam uma recuperação robusta após os prejuízos de 2023/24, tornam-se incertas diante da persistência da seca extrema.
Para os próximos meses, as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) indicam que as temperaturas permanecerão acima da média histórica no Brasil. No entanto, há expectativa de um retorno das chuvas, especialmente nas regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, com precipitações acima da média. Isso pode melhorar as condições de umidade do solo e mitigar alguns dos impactos da seca prolongada. O retorno das chuvas é crucial para o desempenho da safra de grãos de 2024/25.
Impactos no setor elétrico
Os impactos da estiagem severa também têm afetado o setor elétrico. A redução no volume de chuvas diminuiu as afluências, levando à queda nos níveis de água armazenada nos reservatórios das hidrelétricas. Com exceção da região Sul, a escassez hídrica é alarmante em grande parte do País. No submercado Sudeste/Centro-Oeste, desde maio, as afluências registram os piores índices da série histórica, iniciada em 1931, ficando muito abaixo da média de longo prazo (MLT). No Nordeste e Norte, a situação é igualmente preocupante, com volumes próximos aos mínimos históricos.
A baixa afluência, somada à forte expansão do consumo de eletricidade (+7,0% YoY no acumulado do ano até agosto) – impulsionado pelo bom ritmo da atividade econômica e temperaturas acima da média na maior parte do ano –, vem resultando na redução dos volumes de água armazenados nos reservatórios das hidrelétricas. O quadro só não é mais grave por conta do bom nível de armazenamento alcançado no final do período chuvoso do ciclo 2023/24.
O novo ciclo de chuvas, com início em outubro, torna muito remota a possibilidade de apagões estruturais de energia, ainda que não possam ser descartados inteiramente eventos associados a picos de demanda.
Apesar de o risco de desabastecimento ser baixo, os efeitos da estiagem já são sentidos nas tarifas de energia, que passaram a refletir os custos elevados da geração termelétrica. Além da alta no preço da energia no mercado spot e livre, as tarifas do mercado cativo foram impactadas pelo acionamento das bandeiras tarifárias mais onerosas. A baixa afluência resultou no acionamento da bandeira amarela em julho, seguida do retorno à bandeira verde em agosto, bandeira vermelha patamar 1 em setembro e patamar 2 em outubro. A perspectiva é de manutenção da bandeira vermelha patamar 2 até novembro ou dezembro, a partir de quando, caso as previsões de chuvas acima da média na maior parte do Sudeste e Centro-Oeste (que respondem por cerca de 70% da capacidade de armazenamento das hidrelétricas do País) se confirmem, espera-se que convirjam nos meses seguintes para o patamar verde.
*Gabriela Faria é analista da Tendências Consultoria. Walter De Vitto é sócio e analista da Tendências Consultoria.
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