Plano Real 30 anos I Episódio 2 – Como tudo começou – Exame
- Na Mídia
- 24/07/2024
- Tendências
Confira a participação de Gustavo Loyola, Diretor-Presidente da Tendências Consultoria e ex-Presidente do Banco Central, em matéria especial da Exame sobre o aniversário de 30 anos do Plano Real.
O Plano Real foi a conclusão de uma trajetória de 20 anos de muitas dificuldades da economia brasileira, sendo uma obra de um grupo que vinha repensando o Brasil, principalmente quando se tratava da questão do balanço de pagamentos, da dívida externa e da inflação. Tudo isso convergia para o grande tema que era a recessão que o país enfrentava naquela transição.
O Brasil vinha do governo militar, com a abertura vindo em meados dos anos 80, onde uma política econômica totalmente equivocada gerou um período de recessão e inflação. O país era sempre um caso de estudo.
Discutia-se quais planos alternativos poderiam ser pensados para combater a inflação, diferentes daqueles que a ditadura implantou. A ditadura combateu a inflação basicamente através do arrocho monetário e salarial. A política de combate à inflação era altamente impopular.
A experiência do fracasso
O Plano Cruzado foi uma distorção de uma discussão sobre como acabar com a inércia inflacionária. A ideia era de um congelamento que teria uma duração muito curta e outras reformas que precisariam ser feitas. Mas 1986 foi um ano eleitoral. A ideia era fazer um congelamento temporário, seguido de uma transição para algum tipo de acordo social que permitisse uma saída tranquila do congelamento.
Politicamente, não foi isso que aconteceu. O governo se entusiasmou com o sucesso do congelamento e o prolongou até depois das eleições. A primeira passagem para o Banco Central foi muito frustrante, pois era óbvio que era preciso aumentar a taxa de juros, mas por uma decisão política do presidente, decidiu-se não fazer isso. Então, houve um rompimento na equipe do departamento de economia, que saiu do governo em oposição ao uso prolongado do congelamento.
O país aprendeu um pouco com essa experiência. Havia duas coisas fundamentais que enfraqueciam a moeda: a inflação e a ausência de reservas. Não há moeda forte com inflação elevada, e um país que não consegue cumprir suas obrigações externas sofre desvalorizações constantes. Para consolidar a moeda, era importante estabilizar a inflação e construir reservas.
A dívida e as reservas internacionais
Em um momento macroeconômico mundial turbulento. Em 1989, tivemos o Plano Brady, que foi uma reestruturação em bloco de grande parte da dívida do mundo emergente.
Foi um período de trabalho muito intenso durante o começo da década de 1990. A área cambial tinha uma série de questões a serem resolvidas, sendo a principal a saída da moratória do Plano Collor.
Naquele momento, era claro que o Brasil não podia continuar em moratória. Isso era uma vergonha e uma barreira para a credibilidade do país.
O contexto internacional na época do Plano Cruzado, em 1986, era muito menos favorável do que no início dos anos 1990, quando estávamos negociando a dívida. O império soviético havia colapsado, a China estava se integrando à economia mundial e havia um contexto internacional mais favorável do que existia em 86.
“Era um momento em que a economia estava acelerando e que a gente intuía o pensamento de que precisava fazer alguma coisa, mas que, naquele momento, ainda não havia condição política de fazer, e, portanto, a gente ficou um pouco de mãos atadas nesse processo. E aí, depois da saída do Paulo Haddad, houve o curto Ministério do Eliseu Rezende, que era um político mineiro conhecido do Itamar, mas que logo caiu. E aí, sim, veio o convite ao ex-presidente Fernando Henrique para assumir o ministério.”, explica Loyola.
Loyola ainda diz que Fernando Henrique conseguiu montar uma equipe econômica e, principalmente, ter o diálogo necessário com o ex-presidente Itamar para conduzir o plano politicamente.
Confira o episódio 2 da série dos 30 anos do Plano Real pela Exame na íntegra abaixo!