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Pix: o futuro do dinheiro – Veja

Sucesso mundial é desconhecido por Trump 

Por Maílson Da Nóbrega

Na defesa caótica de supostos interesses dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump determinou uma investigação contra o Brasil com base na seção 301 da Lei de Comércio de 1974. O país foi acusado de más práticas comerciais, o que incluiria o favorecimento do sistema de pagamentos digitais (o Pix, embora não mencionado), em detrimento de serviços de empresas americanas. Caso se comprovem políticas desleais e injustas, novas sanções podem incidir contra o Brasil.

Não é a primeira vez que um governo oferece serviços financeiros antes prestados pelo setor privado. Nos Estados Unidos, a partir de 1895, após pânicos que acarretavam quebras de bancos americanos, o banqueiro J.P. Morgan liderou um grupo de bancos de Nova York numa operação para salvar instituições financeiras. Não havia um banco central para agir como um emprestador de última instância. Em 1836, o presidente Andrew Jackson havia recusado a renovação da licença do Banco dos Estados Unidos. 

O auge desse processo foi o grande pânico de 1907, quando Morgan atuou para salvar bancos, empresas e a cidade de Nova York. O pânico foi contido, mas os danos já haviam provocado uma severa depressão. Discutiu-se, então, a necessidade de criação do banco central. Os banqueiros reivindicaram que a nova instituição fosse controlada pelo setor privado, mas o Congresso rejeitou o pedido. Em 1913, foi instituído o Federal Reserve Bank, o banco central americano.

“A ferramenta promoveu maior concorrência e tornou os meios de pagamento mais acessíveis” 

Quanto ao Pix, três meses depois de lançado, em novembro de 2020, suas transações equivaliam a 50% do PIB. Em cinco meses, ultrapassou os meios de pagamento. Oito meses depois, metade da população adulta já o utilizava. Um ano após, superava a participação dos cartões de crédito e de débito. Hoje, com quase cinco anos de idade, é utilizado por cerca de 95% dos adultos e 84% das empresas. Mais de 90% dos beneficiários do Bolsa Família possuem uma chave Pix. 

Nas regiões Norte e Nordeste, o uso do Pix supera o da carteira de crédito tradicional. Um estudo mostrou que o aumento na sua utilização impulsiona outros serviços financeiros, como depósitos, empréstimos e cartões de crédito. Não aconteceu a temida canibalização. Além disso, o Pix aumentou a inclusão financeira e contribuiu para reduzir o spread bancário e a taxa de juros.

O Pix virou relevante fonte de bem-estar social: promoveu maior concorrência entre instituições financeiras e tornou os meios de pagamento mais acessíveis e igualitários. Sua implementação reduziu custos, ampliou as opções disponíveis ao consumidor e aproximou pequenos bancos das funcionalidades oferecidas pelas grandes instituições. São cada vez mais numerosas as opções de seu uso. O Pix é um sucesso mundialmente reconhecido.

Ninguém melhor realçou o sucesso do Pix do que o economista Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, para quem “o Brasil pode ter inventado o futuro do dinheiro”. Não há razão, pois, para ceder a eventual pressão do governo americano para descontinuá-lo ou privatizá-lo. 

Reprodução. Confira o original clicando aqui!