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PIB cresce 3,4% em 2024 e fecha o ano em R$ 11,7 trilhões – Times Brasil

Em entrevista ao programa Real Time da Times Brasil, Gustavo Loyola, Diretor-Presidente da Tendências Consultoria, falou sobre a previsão de crescimento do PIB de 3,4% em 2024, com o valor final do ano estimado em R$ 11,7 trilhões.

Loyola diz que o fato de que o crescimento está pressionando um pouco menos a inflação mostra que a política monetária está fazendo efeito e que, de fato, está conseguindo conter a demanda.

Portanto, é um sinal que o Banco Central provavelmente não terá que subir os juros tanto assim mais à frente. Isso traz uma certa perspectiva de estabilização dos juros num patamar não tão elevado assim. Loyola diz também que veremos nas próximas semanas uma melhora das expectativas de inflação, dependendo de outros fatores.

Além disso, ele acredita que veremos também uma queda dos juros futuros, em função dessa fraqueza maior do PIB, que era esperada de certa maneira.

Apesar da agricultura ter uma queda por conta das condições climáticas do ano passado, vimos o setor de serviços crescer bem 3,7% e, a indústria, 3,3%. Porém, o setor que mais se destacou foi a construção civil, que cresceu mais de 4%.

Ao ser questionado se esse setor deve desacelerar agora em 2025, por depender muito dos juros, Loyola acredita que sim. Ele explica que devemos ver uma certa redução de atividade, seja na construção habitacional, mas também na construção para indústria, comércio e infraestrutura. A indústria da construção deve sentir, assim como todos os outros segmentos.

Loyola menciona a indústria automobilística, que teve um bom desempenho no ano passado, pode ter suas demandas afetadas pelas condições mais apertadas do crédito. O setor de serviços, que mostrou um crescimento só de 0,1% no último trimestre do ano passado, também deve ser afetado.

Ele acredita que o único setor que deve ter uma reversão positiva é exatamente a pecuária, porque realmente houve um problema de safra e uma série de dificuldades em 2024 e é provável que neste ano esse quadro negativo não se repita. 

Loyola acredita que essa desaceleração vai ser suficiente para diminuir a curva futura de juros, mas que existem outras questões em jogo. Ele cita, por exemplo, os juros americanos, que provavelmente devem cair, ao contrário das expectativas de que poderiam até ser mantidos no patamar atual.

Isso acaba enfraquecendo o dólar e, consequentemente, valorizando o real, o que deve tornar mais baratos os bens comercializáveis aqui no Brasil. Loyola diz que isso pode ter um efeito positivo sobre a inflação brasileira.

Ele explica que um câmbio mais valorizado, como a gente tem visto nas últimas sessões, ajuda a reduzir a inflação aqui no Brasil. Há uma grande dúvida também sobre a questão fiscal, o que pode afetar os juros longos. Tudo vai depender de como o governo vai lidar com a questão fiscal e com o relacionamento com o Congresso.

Considerando todos os outros fatores mais ou menos constantes, Loyola acredita que a desaceleração da economia sinaliza juros mais baixos mais à frente.

Estamos vendo o Banco Central aumentando juros a um patamar bastante alto e, ao mesmo tempo, a área econômica do governo liberando R$ 12 bilhões do FGTS, que é algo que deve aquecer a economia. Loyola diz que esses sinais são totalmente contraditórios. 

Enquanto o Banco Central puxa a economia numa direção, o governo tenta puxar na outra. Isso é um dos fatores que impedem a queda dos juros ou, pelo menos, um dos fatores que fazem com que o Banco Central seja obrigado a praticar um juro mais alto. Loyola explica que o remédio da política monetária perde um pouco da sua eficácia, já que o governo está dando, por exemplo, um “antídoto” – uma injeção de recursos na economia – que vai contra exatamente o objetivo do Banco Central.

Isso faz com que o Banco Central acabe se tornando uma espécie de “cavaleiro solitário” na luta contra a inflação e fique parecendo que não é uma responsabilidade do governo, mas, sim, uma responsabilidade só do Banco Central, o que não é verdade. Loyola acredita ser um certo populismo do governo, preocupado muito com a popularidade do Presidente da República e isso deve prejudicar a política monetária.

Sobre o PIB, Loyola diz que a Tendências está com a previsão de um pouco abaixo de 2%. Ele acredita que o PIB se beneficia um pouco da recuperação da agricultura, além de ter um efeito de carregamento, em que há o impulso do PIB do ano anterior, mas já mostrando bastante desaceleração na margem.

A previsão da Tendências sobre a taxa de juros no final do ano é de uma Selic na casa dos 15% ou 15,5% e uma inflação em torno de 5%, mais ou menos, o que ainda é bastante acima da meta, inclusive do próprio teto que é 4,5%. 

Mas há uma perspectiva para 2026 de queda da inflação, não ainda para a meta de 3%, mas para números mais palatáveis, em torno de 4% ou 4,5%. E também há a previsão de que a atividade talvez se recupere um pouco melhor em 2026.

Existe a informação de bastidores de que a equipe econômica teria convencido o presidente Lula a fazer um ano de 2025 com um pouco mais de aperto para chegar em 2026, que é o ano da eleição, um pouco melhor.

Loyola acredita que o Presidente Lula e o grupo de auxiliares têm que entender que, se esse ano, o Banco Central por alguma razão não conseguir baixar a inflação,vai pesar contrariamente aos interesses eleitorais do governo, seja Lula candidato ou não. Isso porque a inflação voltou a ser uma grande preocupação. As pesquisas de opinião recentes mostram isso. A preocupação se estende, principalmente, para essa inflação que atinge as classes de menor renda, que é a inflação de produtos básicos, como os alimentos.

Ao ser questionado sobre como vê a medida do Governo Federal de zerar o imposto de importação de vários produtos alimentícios para tentar conter a inflação, Loyola diz que essas medidas não têm grande eficácia.

Elas não prejudicam, em termos de inflação, mas também não têm grande eficácia. Se tiver efeito, será bastante pequeno.

Confira a entrevista na íntegra no vídeo abaixo!