PIB cresce 0,9% no 3º trimestre e avança 4% em um ano – BandNews
- Na Mídia
- 05/12/2024
- Tendências
Em entrevista ao programa Economia pra Você, Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de área de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências, comenta sobre os resultados mais recentes do PIB brasileiro.
Expectativas para o crescimento do PIB
O Produto Interno Bruto do Brasil cresceu 0,9% no terceiro trimestre de 2024, um número bastante positivo. É um crescimento menor se comparado com o do segundo trimestre, que foi de 1,4%, mostrando uma desaceleração, mas que, ainda assim, foi maior que as previsões.
Também chama atenção o fato de que o IBGE revisou o número do crescimento de 2023. Tínhamos o número do PIB do ano passado em 2,9%, que foi corrigido para 3,2%. Então, crescemos em cima de uma base de comparação mais alta, o que também é uma boa notícia.
Quando questionada sobre o quanto a inflação,os juros e o dólar altos podem puxar o freio de mão do PIB, Alessandra diz que, apesar de “olharmos para a foto e ela ser bonita”, a dinâmica é um pouco diferente. Ela explica que é esperado para os próximos trimestres uma tendência de desaceleração, de perda de força da economia, que não vai ser algo muito rápido, mas, sim, um processo tênue, com uma desaceleração maior a partir de meados de 2025.
“Esse ambiente que a gente está vendo na economia brasileira, marcado por uma deterioração muito expressiva das expectativas, uma percepção de risco mais alta, câmbio depreciado, expectativas de inflação subindo, juros de mercado muito mais altos e o Banco Central tendo que necessariamente reagir a isso, vai deixar a situação aí para a economia brasileira mais complicada, porque essas variáveis todas afetam a inflação, afetam o crédito, afetam a própria confiança dos consumidores e dos empresários para consumo e investimento.”, aponta Alessandra.
Cenário do câmbio
Alessandra explica que vimos uma piora muito expressiva na moeda brasileira diante do recebimento do pacote de corte de gastos junto com a isenção, o que gerou uma percepção muito ruim entre os participantes de mercado. Ela acredita que a gente teve, de fato, uma colocação muito equivocada do governo nesse ponto, principalmente no momento em que o mercado esperava corte de custos para colocar as contas públicas do governo nos trilhos em 2025 e 2026.
Ela acredita que isso vai trazer reflexos principalmente para a inflação, que é a que já tem dado notícias mais negativas nas últimas apurações.
“A gente tem observado a inflação corrente pior do que vimos no primeiro semestre do ano. Até o primeiro semestre a gente tinha um quadro até bastante sob controle e agora já estamos vendo um quadro corrente inflacionário mais difícil. E aí, com essa pressão do câmbio, a gente sabe que isso bate em bens industrializados, em preços de alimentos e aí quando bate em preços de alimentos no domicílio, vai bater em preços de alimentos fora do domicílio. Então, o fato é que isso vai se reverter num quadro de inflação mais pressionada. Para o ano que vem nós projetamos um IPCA de 4,7%, ou seja, acima do teto da meta. Diante disso, o Banco Central vai ter que ser mais duro com a política monetária,
com esse processo de subida de juros. Então a gente avalia que ele acelera agora o ritmo de alta a partir dessa reunião de dezembro e deve elevar a Selic para 14% em junho do ano que vem.”, explica Alessandra.
Ela diz que isso significa, principalmente, uma afetação muito importante do canal de crédito para as famílias e para as empresas. Então por isso que ela vê uma tendência de esfriamento mesmo de consumo e investimento, que vai bater na economia como um todo, com defasagem no mercado de trabalho. Ou seja, um desenvolvimento não muito otimista para o futuro.
Quando questionada sobre se é possível reverter a má percepção após as medidas do governo, Alessandra acha que dá tempo de limpar um pouco “do leite derramado”. Ela acredita que, se o governo foi mais enfático na parte do pacote voltada para o corte de gastos. A economia está crescendo muito, e uma parte da história passa sim por aumento de gasto público, que vem de 2023 e agora nesse ano. Alessandra diz que temos um acelerador para a atividade econômica.
Ela explica que, na sua opinião, “o governo ainda tem condição, agora no decorrer dessas próximas semanas, de tentar endereçar esse pacote de gastos e pelo menos garantir que esse corte de despesas fique na casa de R$ 70 bilhões pelo menos para 2025 e 2026, trazer um pouco mais de confiança, porque eu acho que isso ajuda a moderar um pouco as expectativas de mercado. E aí o Banco Central (…) tem que atuar do outro lado para esfriar a economia e conter uma parte desses desequilíbrios e uma parte importante é a inflação. (…) Acho que a gente não vai ver uma grande reversão, uma volta do otimismo como tivemos no ano passado, infelizmente, porque apesar de todo esse ambiente ruim, a gente ainda vê declarações do governo no sentido ainda de estimular a demanda.”
“De um lado você tenta cortar de gastos, mas de outro você está tentando estimular a demanda com outros mecanismos. E o mercado olha isso. E aí, como os sinais são contraditórios, é muito difícil a gente ter um meio de confiança que precisaríamos no momento, com esses sinais trocados.”, finaliza Alessandra.
Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!