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Os efeitos da Reforma Tributária no setor de transporte rodoviário de cargas

Por: Mário Nazzari Westrup e Fábio Lunardi Tieppo, consultores da Tendências

A aprovação da Reforma Tributária reforça a busca por um sistema mais simples e eficiente, beneficiando diversos setores ao reduzir a complexidade de tributos. No entanto, algumas atividades podem enfrentar desafios específicos durante a adaptação às novas regras. Entre elas, destaca-se o transporte rodoviário de cargas, um dos pilares da logística nacional.

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Custos

Nesse segmento, há receio de um potencial incremento na carga tributária dos insumos e equipamentos, incluindo veículos e componentes essenciais para a movimentação de mercadorias. Embora a unificação dos impostos e a transição para a tributação no destino sejam medidas positivas para evitar bitributação, o setor teme um aumento de custos ao longo da cadeia produtiva. Isso pode pressionar as margens das empresas que atuam nesse mercado e impactar o preço dos fretes.

Outro ponto sensível é o Imposto Seletivo, cuja regulamentação definirá quais produtos e serviços sofrerão incidência adicional. Caso combustíveis ou implementos rodoviários pesados sejam considerados itens suscetíveis a essa tributação, o transporte rodoviário de cargas pode ter suas despesas operacionais ampliadas. Embora exista a justificativa ambiental na criação desse imposto, as transportadoras alertam para a necessidade de cuidado na sua aplicação, dado o peso do modal rodoviário para o país.

Para fabricantes de implementos, o novo modelo tributário pode representar uma reavaliação de processos e margens, uma vez que custos adicionais nos insumos tendem a repercutir na renovação de frotas. Além disso, a adequação ao regime de não cumulatividade exigirá uma gestão tributária ainda mais rigorosa, garantindo que eventuais créditos sejam corretamente aproveitados. Esse aspecto é visto como uma oportunidade de eficiência, embora demande investimentos em tecnologia e capacitação de equipes.

Logística e competitividade

Em termos de logística e competitividade, a consolidação de alíquotas comuns traz maior transparência e poderá impulsionar modelos de transporte mais sustentáveis e integrados. Entretanto, o período de transição exigirá planejamento cauteloso, de modo que as transportadoras não sofram efeitos abruptos no fluxo de caixa e tenham condições de realizar ajustes estratégicos a tempo. Cabe ao setor manter o diálogo com as autoridades para assegurar que as demandas de infraestrutura e mobilidade sejam contempladas.

No médio prazo, também são esperadas mudanças nas rotas logísticas. Com o novo sistema, espera-se o fim da “guerra fiscal” entre os Estados. Assim, diversas rotas que eram sustentadas pelo aproveitamento de incentivos fiscais deixarão de existir. Logo, como consequência da maior padronização das alíquotas e com a sistemática da tributação no destino, espera-se uma nova organização geográfica de hubs logísticos, tendo em vista critérios de redução de custos e otimização da frota. Já no longo prazo, as empresas provavelmente investirão em novos centros de distribuição e buscarão desativar aqueles que perderam competitividade. A escolha das rotas também irá considerar as estradas existentes, ponderando fatores como segurança, tempo de viagem e preço do pedágio.

Avaliação cuidadosa dos impactos em potencial é necessária

Ainda que a Reforma Tributária represente um passo importante para a modernização do sistema fiscal, cabe aos gestores do transporte rodoviário de cargas avaliar cuidadosamente os potenciais impactos. A adoção de estratégias para mitigar custos e aproveitar créditos torna-se essencial, sobretudo diante da possibilidade de tributações seletivas. Com ajustes pontuais e um olhar atento às demandas do mercado, o segmento poderá se beneficiar de um ambiente tributário mais racional, desde que a regulamentação seja conduzida de forma equilibrada.

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