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O impacto econômico da denúncia da PGR e Mauro Cid – CNN Brasil

Rafael Cortez, economista da Tendências Consultoria, analisa o impacto econômico da denúncia da PGR e a situação de Mauro Cid em entrevista para a CNN Brasil.

Ao ser questionado sobre, após 24h, o que muda nas perspectivas da capacidade de governabilidade do governo, especialmente tendo em vista a agenda econômica no Congresso Nacional, Cortez diz que, se a gente tiver que dividir esse desdobramento do caso Bolsonaro entre efeitos de curto prazo, pensando na governabilidade, e o efeito eleitoral, pensando na eleição de 2026, aos olhos de Cortez, o efeito é maior no médio e no longo prazo. Para curto prazo, ou seja, para ajudar o governo a resolver seus problemas, Cortez imagina que o impacto é muito menor do que sugere o tamanho das questões discutidas na entrevista.

Cortez explica que a razão disso é simples: o governo tem um problema de capital político e de contradição dentro da sua agenda, sobretudo na agenda econômica. Ou seja, o governo quer uma coisa e a maioria de centro-direita quer outra no tocante à questão fiscal. Combinadas essas duas vontades, certamente o fiscal não será bem cuidado nesse biênio final de 2025 e 2026.

Esse é o ponto central para Cortez: o governo tem problemas dentro de si, independentemente do destino político e das repercussões políticas, que são grandes, mas os efeitos maiores são pensando na questão eleitoral.

Cortez explica que uma parte da percepção de que o fiscal está ruim tem a ver com o fato de que a métrica que o governo está usando já não é mais suficiente para acalmar os agentes de mercado. O governo vai lá e luta pelo marco fiscal, mas quando o mercado olha esse discurso, ele vê o seguinte: o governo luta pelo marco fiscal, mas desde o lançamento do marco, já houveram alterações nas metas estabelecidas para o primário. Ou seja, quando o governo lançou o marco fiscal, ele já deu um indicativo do resultado que ele queria alcançar, mas desde então já houve mudanças para deixar mais lento o processo rumo ao superávit primário. A partir desse descasamento, pouco a pouco o mercado foi se tornando descrente da métrica do governo.

O que o governo faz para atingir essa meta? Ele faz uma combinação entre ajuste dos gastos de forma muito pontual, sobretudo no final do ano passado, mas também dá ênfase em aumentar a carga tributária e aumentar os canais de arrecadação. Só que o governo não consegue mais ter força para fazer isso. E aí teve um erro estratégico no momento de fazer algo do lado do gasto. O governo foi lá e fez um anúncio de isenção de imposto de renda, o que gerou uma celeuma que vai ser muito difícil para o governo recuperar, por conta desses problemas estruturais.

Então, a maioria de centro-direita é uma maioria que não quer fazer ajuste na despesa e não quer aumentar a arrecadação. O governo, por outro lado, também não sabe para onde vai para enfrentar esse problema fiscal.

Cortez diz que o cenário mais provável para 2025 é o fiscal ser resultado dessas duas fontes de responsabilidade no tratamento da questão fiscal, dada a gravidade dessas diferentes métricas. O governo quer cumprir o marco fiscal, mas não parece que isso tem sido suficiente mais, olhando para o mercado.

Com o governo ficando mais fraco, com uma popularidade mais baixa, as eleições se aproximam, e os partidos têm mais dificuldade de construir seus projetos a partir do apoio ao governo. Eles preferem esperar e ver como o jogo vai se desenrolar. Eles têm mais graus de liberdade, maior independência em relação aos destinos do governo Lula. Esse é um problema estrutural do quadro político atual: um Executivo mais fraco, explica Cortez.

O Congresso, hoje, é muito mais poderoso do que foi no passado. Então, o governo, mesmo que tivesse superpopular e Lula estivesse numa grande fase junto à opinião pública, o Executivo não teria mais a mesma força. Se a gente juntar isso ao fato de que o governo não sabe para onde quer caminhar para responder ao problema fiscal, fica muito difícil enxergar grandes melhorias na governabilidade nesse biênio final do mandato de Lula.

Sobre as eleições de 2026, Cortez acredita que o efeito Bolsonaro é mais forte lá para frente. Bolsonaro é o nome que uniria o campo de oposição, pensando em 2026. O problema é que ele não tem os direitos políticos. Aí tem duas estratégias: ou ele, por algum canal, recuperaria esses direitos. Tem muita gente que compartilha a tese de que eventualmente vai ter uma reversão, seja mudando a ficha limpa, seja com anistia, etc. Se isso der certo, Bolsonaro volta e é o candidato. Se não der certo, a questão é o que Bolsonaro e seu núcleo mais próximo irão fazer.

Cortez diz que não parece ter incentivo para simplesmente apontar quem é o sucessor dele e fazer uma transferência de bastão para outro nome, seja Tarcísio ou qualquer outro nome. A tendência é que ele insista que ele é o candidato até o final, eventualmente até lançando uma candidatura. Isso porque tem muita gente falando que vai aumentar a probabilidade de Tarcísio ser candidato.

Mas Cortez não enxerga dessa maneira. Ele acha que essa situação é tão grande que vai ser muito difícil para Tarcísio ter clareza de como vai ficar esse imbróglio envolvendo o Bolsonaro.

Por outro lado, o que Cortez acredita que pode acontecer não é nem tanto uma força do centro, mas sim uma fragmentação do bolsonarismo. E aí, eventualmente, a vida do governo fica um pouco melhor se a direita vier dividida em 2026.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!