Na Fazenda, postura do BC está correta; expectativa é por queda na inflação – UOL
- Na Mídia
- 16/05/2025
- Tendências

Um importante assessor do Ministério da Fazenda com quem a coluna conversou está confiante de que o cenário externo é deflacionário e vai ajudar o Banco Central.
O Copom elevou a taxa de juros em 0,5 ponto percentual ontem para 14,75% ao ano, maior patamar em quase duas décadas. Mas no comunicado — visto como excessivamente suave por parte do mercado — deixou as portas abertas para interromper o ciclo de aperto monetário ou fazer um último aumento de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, a depender dos dados econômicos.
“Estou convicto que a desinflação já está contratada. A inflação tem dado sinais mais contundentes de acomodação. Quando dados vierem consistentes, as coisas se ajeitam naturalmente”, comentou o assessor de Haddad. “Não está diferente do que o Fed [BC americano] fez, na minha opinião. Achei o comunicado correto”, concluiu. O Banco Central americano manteve os juros ontem entre 4,25% e 4,5% ao ano, enquanto espera por indicadores de emprego e inflação no pós-tarifas de Trump.
O Ministério da Fazenda reconhece que a atividade econômica continua aquecida e não deve mudar sua projeção de crescimento do PIB em torno de 2,5%. Apesar do aumento da produção industrial acima do esperado e do impulso do agro no primeiro trimestre, o assessor de Haddad afirma que tanto a inflação de serviços como de alimentos está parando de subir. “Tem que tomar cuidado quando olha a inflação. Mais que o patamar (fotografia), importa a dinâmica (filme). Acho sinceramente que é de impacto marginal subir ou não subir 0,25 p.p. na próxima reunião. Terá pouco efeito na inflação e na atividade econômica”, vaticina.
Silvio Campos Neto, economista sênior da Tendências Consultoria, diz que “há sinais incipientes de redução no curto prazo, mas o fator sazonal ajuda. Não há como afirmar que a inflação entrará em fase de recuo consistente, ainda mais com o governo colocando estímulos na economia até as eleições”.
Álvaro Frasson, economista do banco BTG Pactual, acha que é precipitada a leitura de que o cenário internacional é deflacionário. “As expectativas de inflação pararam de piorar pelo enfraquecimento do DXY (índice que mede força do dólar contra outras moedas fortes), porque a política comercial americana trouxe uma incerteza muito grande. Logo, o fluxo financeiro saiu dos Estados Unidos.
Quando isso ocorre, você tem relativamente a moeda de todos os países emergentes apreciando muito. E foi esse movimento que trouxe algum alívio nas expectativas de inflação. Não acho que o dólar americano vai ganhar novo ritmo de depreciação como ganhou nos primeiros quatro meses do ano. E se não tivermos mais ajuda do câmbio para desinflacionar as expectativas, quais outras variáveis serão usadas?”, questiona Álvaro. O economista afirma que os serviços intensivos em trabalho — como fisioterapeuta e dentista — sobem em média 1% ao mês. E o mercado de trabalho está próximo ao pleno emprego e salários crescem em ritmo importante.
Já para outro alto assessor do Ministério da Fazenda com quem a coluna conversou, “leitura de comunicado do Copom é tipo leitura de tarô: todo mundo meio que sabe o significado das cartas, mas cada vidente interpreta o conjunto de uma forma diferente”. Foi assim no mercado ontem.
Em mensagem aos investidores, o UBS aposta que o Banco Central vai interromper o ciclo de aperto monetário. “Uma parada antecipada significa juros altos por mais tempo” é o título. O informe lembra outras três ocasiões recentes em que o Copom usou a palavra “vigilante” para interromper a alta da Selic. Para o UBS, manutenção ou aumento de 0,25 p.p. na próxima reunião faz pouca diferença. “O principal ponto é quando começar a cortar. Nas nossas estimativas não há espaço para redução antes de abril do ano que vem”, afirma o banco.
Gabriel Barros, economista-chefe da ARX Investimentos, achou o comunicado do Copom “dovish” (suave, no jargão do mercado). “A expectativa de inflação está desancorada. Eles não deveriam parar de subir juros agora, mas é o que devem fazer. Por isso a inflação jamais converge”, diz.
Reprodução. Confira o original clicando aqui!