Em entrevista para a CNN Brasil, Maílson da Nóbrega, ex-Ministro da Fazenda, comenta sobre como Javier Milei está transformando a Argentina no grande experimento liberal.

A Argentina enfrenta há décadas uma crise econômica generalizada. A disparada da inflação e o câmbio deteriorado, além dos gastos públicos elevados, são fatores que limitaram o crescimento do país nos últimos anos.

Mas, desde dezembro de 2023, com a chegada de Javier Milei à Casa Rosada, a economia argentina passa por uma transformação.

Maílson da Nóbrega diz que se surpreende, não só com a dimensão das medidas, quase todas na direção correta. Ele explica que é preciso livrar a Argentina do peso do populismo, da irresponsabilidade que tem caracterizado o país há 70 anos.

“A Argentina é o único caso no mundo nos últimos três, quatro séculos em que um país rico empobrece. O Milei, portanto, está na direção correta.”, diz Maílson.

O equilíbrio das contas públicas e a valorização do câmbio em termos reais são alguns dos resultados da chamada terapia de choque promovida por Milei desde o início do mandato. Os superávits obtidos pelos cofres públicos já ajudam a estabilizar os preços. A inflação acumulada da Argentina encerrou o ano passado em 117,8% após atingir um pico de 289,4% em abril de 2023.

A Argentina colheu ao longo de 2024 seus primeiros resultados superavitários em anos, graças à política de austeridade fiscal de Milei. O presidente vê uma maior eficiência estatal ao cortar gastos com programas sociais, enxugar ministérios e tentar privatizar empresas públicas.

E a agenda reformista deve continuar. O presidente da Argentina disse nesta semana que está trabalhando num decreto para fechar ou fazer a fusão de 50 agências do governo. 

O estilo de governar de Milei também é alvo de críticas. Apesar dos números positivos na gestão pública, a pobreza e o desemprego cresceram após o corte de financiamento de programas sociais. E os economistas alertam para um outro perigo: a armadilha cambial.

O fortalecimento do peso, a partir da desvalorização controlada do câmbio, deixa os produtos comercializados mais caros na moeda norte-americana, e isso pode resultar em perda de competitividade das exportações. Milei reforçou que deve encerrar as intervenções no câmbio neste ano.

“A política cambial argentina vai ser a mesma do Brasil. E, como a gente sabe, o dólar é quase um fetiche na Argentina. Provavelmente isso vai colocar um fim nessa bolha argentina de adoração do dólar e que veja no dólar a sua segurança. E tinha até certa razão, né? Porque, como mudava muito as regras, o governo, era muito imprevisível, de uma hora para outra tinha um confisco (…), o argentino viu no dólar uma proteção contra os equívocos e as intervenções desastradas do governo.”, explica Maílson.

A empolgação dos liberais com a Argentina esbarra em uma preocupação. Após um início de governo promissor, o maior desafio de Javier Milei agora é garantir a sustentabilidade de seus feitos. 

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