Lula fala de soberania e cobra lealdade de ministros – GloboNews
- Na Mídia
- 29/08/2025
- Tendências

Em entrevista à GloboNews, Rafael Cortez, economista da Tendências Consultoria, comenta as declarações de Lula sobre soberania e destaca a cobrança de lealdade aos ministros
O destaque recente na agenda do presidente Lula foi a segunda reunião ministerial do ano. O presidente discursou em defesa da soberania nacional, cobrou à portas fechadas um posicionamento de ministros do União Brasil e do Progressistas, que já têm candidato e que ameaçam desembarcar do governo, mas manter os cargos ao mesmo tempo.
Preocupações do governo
Cortez acredita que o governo precisa encontrar quem de fato vai estar junto com ele na campanha de reeleição. É muito crível um cenário em que, quem vier do outro lado, venha com apoio de partidos que hoje pertencem, em tese, à base aliada.
Ele diz que vemos sinais disso tudo, com diversos líderes partidários de partidos que têm assento ministerial e que fazem abertamente campanha de oposição, críticas ao governo, sistemáticas inclusive.
Cortez também diz que o presidente Lula e seus assessores precisam mapear os líderes, sobretudo nos estados, que o apoiariam para construir palanques eleitorais e deixar uma campanha de pé.
Essa tarefa, de acordo com Cortez, é ainda mais urgente, porque estamos chegando naquela fase em que a oposição também parece ter, se não encontrado, pelo menos desenvolvido um plano inicial para enfrentar a campanha de reeleição.
Ao ser questionado sobre o porquê de Lula não demitir logo os ministros, Cortez acredita que a ideia era, a partir de uma reunião desse tipo, com um claro caráter eleitoral, fazer a exposição pública desses ministros e, obviamente, em alguma medida, dos seus partidos para justamente a clareza de quem vai ou não vai estar com o presidente.
Entretanto, Cortez diz que Lula não demitiria agora porque muito possivelmente teremos uma sequência de reforma ministerial por conta de legislação eleitoral. E também não faria muito sentido ir quebrando o ministério aos poucos.
Para Cortez, é uma estratégia de submeter esses ministros à exposição pública, passando a imagem de que eles estão com um pé em cada canoa, eventualmente gerando um desgaste para os ministros. Seria uma maneira de dar uma pressionada sem ser tão explícito.
Candidatura de Tarcísio de Freitas para 2026
Cortez diz que a grande novidade dessa conjuntura mais recente, é o “projeto Tarcísio” mais explícito, com o próprio governo eventualmente reconhecendo que ele seria o rival de Lula nas urnas em 2026.
Tanto do ponto de vista do chamado centrão quanto do ponto de vista do governo, começando a dar um foco à figura do governador de São Paulo, esse é o cenário que vai se desenhando. Agora resta saber, de acordo com Cortez, se Tarcisio vai tomar o risco de fazer uma campanha presidencial disputando com um governo que vai ser competitivo, tendo alguma segurança no estado de São Paulo.
De acordo com Cortez, alguns mais otimistas têm um pouco essa linha de interpretação de que poderia se abrir uma possibilidade mais concreta de ganhar no estado de São Paulo algum representante da campanha do presidente Lula. Cortez pontua que é preciso olhar com lupa como Tarcísio vai se comportar de novo diante dessas mudanças.
Outro ponto que Cortez diz ser importante ficar de olho é como que o bolsonarismo vai tratar isso, porque temos visto que, no primeiro momento, tratam como uma ameaça, sobretudo para os filhos do ex-presidente, que olham a candidatura de Tarcísio como uma estratégia de uma parte da elite política de alijá-los dos espaços de poder.
E Cortez acredita que, de fato, é bem crível isso. Uma vez que Tarcísio se torne a figura que vai enfrentar o petismo, se torna também a grande referência no campo da direita. Então, além das questões jurídicas que o ex-presidente enfrenta, tem essa questão política que passa a ser muito urgente.
A força de Lula em 2026
Do ponto de vista das regras do jogo, Cortez diz que a presidência da República hoje é muito mais fraca do que foi no passado. Do ponto de vista político, é uma sociedade muito mais polarizada.
De acordo com Cortez, Lula vai precisar dar alguma novidade em 2026, porque a sua estratégia de campanha quando ele venceu para o terceiro mandato, que era ser o anti-Bolsonaro, parece não ser mais suficiente. Agora ele precisará ser um pouquinho mais.
Tanto é que o governo mudou o lema e Cortez acredita que tem um pouco a ver com uma tentativa de dar uma imagem de novidade, porque se simplesmente só for a defesa da democracia, como parece ter sido a principal bandeira lá atrás, não vai ser suficiente para vencer a eleição de 2026.
Cortez também pontua que a geografia eleitoral de 2026 pode ser mais prejudicial para Lula, uma vez que seria preciso adentrar em regiões que, historicamente, a oposição tem mais domínio.
Além disso, Cortez sinaliza que o ciclo eleitoral no mundo está mais para a direita, mas a grande novidade é qual tipo de direita eventualmente irá começar a ganhar eleição.
Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!