Lula contradiz seu discurso ao posar sorridente ao lado de ditadores – O Globo
- Na Mídia
- 19/05/2025
- Tendências

A imagem de um presidente confraternizando com líderes autoritários não é apenas incoerente com os valores democráticos, mas também sinal preocupante de desconexão com os dramas internos do país
Numa tirinha da Turma da Mônica, o pai do Cebolinha berra perguntando: “O que está acontecendo?”. E o Cascão responde no mesmo tom: “Eu não sei”. Ambos correm desesperadamente numa sala, acompanhados pelo Floquinho, igualmente aflito.
Isso retrata muito bem o mês de maio até aqui. Em meio a um escândalo bilionário de corrupção dentro do INSS, que tira dinheiro de idosos vulneráveis, o Senado chamou influenciadores digitais para participar da CPI das Bets e, para piorar, o presidente decidiu que era um bom momento para participar de celebrações ao lado de ditadores na Rússia e na China.
Enquanto isso, o povo segue sem melhoria em sua qualidade de vida. Em março, houve mais uma decisão para aumentar a taxa de juros de 13,25% para 14,25%, devido à “continuidade do cenário adverso […], da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso”. No mês passado, o Banco Mundial reduziu a previsão de crescimento do Brasil para 1,8% em 2025, diante de juros altos, guerra comercial, desaceleração chinesa e cortes em ajuda internacional. A economista Isabela Tavares, da Tendências Consultoria, realizou um levantamento para avaliar o impacto da inflação no dia a dia dos brasileiros, estimando quanto resta do orçamento depois do pagamento das despesas essenciais, como alimentação, medicamentos, transporte e moradia. Para as classes D e E, o gasto com itens essenciais comprometeu quase 80% da renda no ano passado — e é justamente esse o grupo de itens que mais subiu nos últimos tempos.
O Brasil está à deriva. Em meio a uma crise bilionária, o debate gira em torno de “em que governo isso começou”, somado à caça do discurso de como é exposta à população. Em vez de buscar soluções concretas ou responsabilizações efetivas, o foco se desloca para a guerra de narrativas — cada grupo político tentando moldar os fatos a sua conveniência, enquanto a população observa uma sucessão de versões e versões da versão. A CPI das Bets parece seguir o curso de outras tantas que deram destaque a alguns parlamentares, sem combate concreto. Assistimos aos memes, a pedidos de selfie e acompanhamos o jogo ao vivo. Mas o fato real não é atacado: não se trata de mera aposta que pode gerar vício, mas sim de tentativa de atrelar a prática a uma forma de investimento, para fazer parte da renda do mais pobre. E aqui está o cerne da questão: que medidas efetivas o Congresso tem elaborado sobre isso, além de cortes para viralizar nas redes sociais?
Por fim, Lula, que se apresentou como símbolo da frente ampla democrática e defensor histórico dos mais pobres, contradiz esse discurso ao posar sorridente ao lado de ditadores na Rússia e na China. A imagem de um presidente brasileiro confraternizando com líderes autoritários não é apenas incoerente com os valores democráticos que diz representar — é também um sinal preocupante de desconexão com os dramas internos do país.
No meio do espetáculo político, quem vive de verdade não está na plateia nem no palco — está do lado de fora, esperando que o notem.
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