Inflação volta a desacelerar e fica em 0,26% em maio, indica IBGE – O Estado de S. Paulo
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- 11/06/2025
- Tendências

Resultado no mês foi influenciado, principalmente, pelos preços da energia elétrica residencial, devido à mudança na bandeira tarifária; IPCA ficou em 5,32% nos últimos 12 meses
RIO E SÃO PAULO | A inflação oficial no País voltou a perder força em maio, pelo terceiro mês consecutivo. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) registrou alta de 0,26%, ante uma elevação de 0,43% em abril, informou nesta terça-feira, 10, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado ficou em linha com a estimativa mais otimista dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, que projetavam uma mediana de 0,34% para a inflação. Assim, a taxa acumulada em 12 meses arrefeceu a 5,32%, interrompendo três meses de avanços seguidos.
A inflação corrente bem comportada traz algum conforto em relação à expectativa de médio prazo de que o índice de preços convergirá para uma trajetória mais em direção ao centro da meta de inflação, mas não é um fator determinante para a decisão de política monetária, avaliou o economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa.
“O Banco Central está com uma agenda de preocupações em que coloca peso, principalmente, em questões de médio prazo da inflação. O BC está olhando para o horizonte relevante da política monetária, e considerando o que já foi feito até agora, o ciclo claramente já é contracionista”, disse Costa.
Apesar de o IPCA de maio ter ficado abaixo do esperado, as pressões inflacionárias permanecem elevadas, disseminadas e generalizadas, principalmente entre os serviços essenciais, avaliou o diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, em relatório.
“Um cenário de intensas pressões inflacionárias, expectativas de inflação de curto e médio prazos altamente desancoradas, hiato do produto positivo, mercado de trabalho aquecido e medidas recorrentes de estímulo parafiscal e creditício exigem uma calibração conservadora da política monetária”, defendeu Ramos.
Após a divulgação de maio, a Tendências Consultoria Integrada reduziu sua projeção para o IPCA do ano de 2025, de alta de 5,5% para 5,2%. A revisão ocorreu em virtude da redução da gasolina e das perspectivas de altas menores para os preços de bens industrializados e de alimentos, de acordo com Matheus Ferreira, economista da Tendências.
A LCA Consultores manteve sua estimativa de uma alta de 5,3% no IPCA de 2025, diante da robustez do mercado de trabalho e de efeitos defasados da desvalorização cambial registrada no ano passado sobre preços industriais.
Para o mês de junho, o economista Fabio Romão, da LCA Consultores, prevê uma taxa de 0,30%, calculando que a alta esperada para a energia elétrica seja mitigada por deflações em alimentação e transportes.
Quais foram os gastos que mais pesaram
Em maio, os gastos das famílias com habitação subiram 1,19%. A energia elétrica residencial aumentou 3,62%, impulsionada pela entrada em vigor da bandeira tarifária amarela, adicionando R$ 1,885 na conta de luz a cada 100 KWh consumidos. O subitem exerceu a maior pressão individual no IPCA, uma contribuição de 0,14 ponto porcentual, mais da metade da inflação do mês.
“A energia elétrica teve reajuste tarifário em algumas regiões, alta de PIS/Cofins e a bandeira tarifária amarela”, ressaltou Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE. “Lembrando que mês que vem tem novo impacto sobre a energia elétrica, da bandeira vermelha em vigor agora em junho”, acrescentou.
O gás de botijão aumentou 0,51% em maio, e o gás encanado subiu 0,25%. A taxa de água e esgoto avançou 0,77%. Por outro lado, os recuos nos preços das passagens aéreas e dos combustíveis voltaram a impedir uma inflação mais salgada. As passagens aéreas ficaram 11,31% mais baratas em maio, subitem de maior impacto negativo no IPCA do mês, -0,06 ponto porcentual.
“Esse acaba sendo um período de menos demanda de viagens de férias e lazer, em maio e em abril”, justificou Fernando Gonçalves.
Os preços dos combustíveis caíram 0,72%: óleo diesel recuou 1,30%; o gás veicular, -0,83%; o etanol, -0,91%; e a gasolina, -0,66%.
Para o mês de junho, Gonçalves lembra que será incorporada nova redução no preço dos combustíveis, diante do corte de preços nas refinarias da Petrobras.
No entanto, ainda não é possível mensurar se a queda nas bombas será suficiente para compensar o avanço nas contas de luz a partir da entrada em vigor da bandeira tarifária vermelha.
Qual é o impacto da energia elétrica na inflação
Gasolina e energia elétrica estão entre os subitens de maior peso no cálculo do IPCA: o peso da energia elétrica é de 3,78%, e o da gasolina, de 5,24%.
“A energia elétrica, o impacto vai direto na conta do consumidor. A gasolina depende do repasse dos postos ou não (dos cortes de preços nas refinarias). Para chegar efetivamente para o consumidor final, a gente vai ter que esperar”, disse o pesquisador do IBGE.
Quanto ao grupo Alimentação e bebidas, o ritmo de alta foi mais brando em maio, 0,17%.
Os alimentos para consumo no domicílio subiram apenas 0,02% em maio. Houve quedas no tomate (-13,52%), arroz (-4,00%), ovo de galinha (-3,98%) e frutas (-1,67%). Entre as altas, os destaques foram a batata-inglesa (10,34%), cebola (10,28%), café moído (4,59%) e carnes (0,97%).
“Batata e cebola tiveram redução de oferta. Tomate teve aumento de oferta, assim como as frutas de uma forma geral”, disse Gonçalves, citando ainda uma melhora na oferta de arroz e de ovo no mercado doméstico. “Tudo isso acaba trazendo esse alívio para o bolso do consumidor.”
A alimentação fora do domicílio aumentou 0,58% em maio: o lanche subiu 0,51%, e a refeição fora de casa encareceu 0,64%. Segundo Gonçalves, os alimentos fora de casa subiram mais que os alimentos no domicílio porque sofrem pressão também de repasse de outros custos.
Apesar da melhora, as famílias brasileiras gastaram mais com alimentação e bebidas em maio pelo nono mês consecutivo. O grupo Alimentação e bebidas acumulou uma alta de 7,33% nos 12 meses encerrados em maio.
A alta acumulada em 12 meses no preço do café moído alcançou 82,24%, maior variação desde o início do Plano Real, em julho de 1994. Segundo Fernando Gonçalves, gerente do IPCA no IBGE, o clima adverso prejudicou a produção de café.
“Afetou a produção inclusive em outros países produtores, houve escassez mundial. Já tem sinais de aumento na produção no campo, mas até chegar na ponta (varejo) leva tempo”, justificou Gonçalves. “Situação semelhante aconteceu com o chocolate. E também foi por conta de problemas de produção mundial (de cacau). Teve problema de quebra de safra em grandes países produtores, por efeitos climáticos. Tudo isso acabou trazendo pressão de alta no cacau.”
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