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Implicações políticas do tarifaço e embate entre Brasil e EUA – Jornal da Gazeta

Em entrevista ao Jornal da Gazeta, Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, analisou as implicações políticas do embate tarifário entre Brasil e Estados Unidos

Houve uma mexida na popularidade e também na avaliação geral de Lula após as tarifas de Trump. O atual presidente vinha em uma fase ruim, mas a questão do nacionalismo, na tentativa de Trump de interferir na justiça brasileira, ajudou o atual presidente.

Popularidade de Lula

Ao ser questionado se Lula consegue manter esse embalo de recuperação e essa união — porque até senadores de direita estão lá tentando negociar também — se a tarifa prevalecer de fato, Cortez vê dois caminhos em que a tendência é beneficiar o governo.

Primeiro, que ajuda a melhorar os debates à luz do governo, e, segundo, porque desgasta o rival, reforçando uma rejeição ao antipetismo, sobretudo aquele mais ligado ao ex-presidente Bolsonaro.

De acordo com Cortez, talvez quem personifique mais esse dilema seja a própria figura do governador de São Paulo, Tarcísio, que acabou, lá atrás, fazendo uma postagem e também essa vinculação em relação ao Trump. Agora, ele tenta amenizar o prejuízo dessa associação.

Cortez destaca que as intervenções da família Bolsonaro acabam dificultando a união da direita, a união do antipetismo, independente de quem seja o candidato. Dificulta também o lançamento de uma candidatura única e, mais do que isso, dos termos dessa candidatura. Do ponto de vista político, não é uma boa fase pra direita. A questão, para Cortez, se isso pode inverter, vai passar pela economia.

Posição política de Trump

Os bolsonaristas tentam jogar parte da responsabilidade no Lula, apontando que ele não buscou antes uma aproximação prévia com Trump por questões ideológicas e teria se aproximado do BRICS. 

Sobre isso ter um peso e como é que se pode avaliar hoje a posição política de Trump, Cortez acredita que sim, não só no BRICS, mas na própria estratégia do presidente Lula. Uma vez eleito Trump, ele não demonstrou nenhum sinal ou desejo de ter uma conversa, independente dessa agenda comercial ou de BRICS, Cortez diz que já sabíamos que potencialmente seria um mandato difícil, essa combinação Lula e Trump, pela própria natureza da agenda de política externa.

A agenda de política externa do governo Lula tem uma direção — e é possível discutir se é certo ou errado, de uma maneira eficiente ou não — de fazer uma aposta no multilateralismo, revisitá-lo para dar mais peso pro chamado Sul Global e, obviamente, o Brasil ser uma liderança nessa direção. Trump é o contrário: a agenda de política externa americana é de quebrar essa institucionalidade supranacional.

Cortez explica que Lula não fez essa aproximação e agora, em alguma medida, paga o preço de não ter essa ponte mais direta com o presidente Trump, o que, de alguma forma, facilitou esse diagnóstico que sustenta, pelo menos do ponto de vista público, as decisões de protecionismo comercial. Toda essa questão político-institucional chega na Casa Branca, e o governo Lula agora paga, em alguma medida, por não ter feito essa ponte lá atrás.

Tarifas de Trump

Sobre a ameaça da tarifa de 50%, Cortez diz que é uma consideração super interessante, porque mostra que, de alguma maneira, o governo americano aprendeu canais em que poderia “atrapalhar” o Brasil ou gerar alguma celeuma, seja por conta do BRICS ou por outra razão. Cortez acredita que aconteceu algo e tudo sugere que foi esse peso dessa agenda que foi chegando mais próximo da Casa Branca e do governo americano, do problema político-institucional.

Cortez aponta dois motivos: o primeiro bate muito com a trajetória de Trump e a figura do ex-presidente Bolsonaro. E o segundo é uma leitura de que existe apoio político, em alguma medida, ou tem gente da elite política brasileira disposta a apoiar ou articular isso tudo, que é o que temos visto, sobretudo na figura do filho e deputado Eduardo Bolsonaro.

Custo para a direita

Cortez diz que esse custo reputacional vai aumentando e vai ser usado na campanha, no mínimo. Por isso, mesmo que fique só num primeiro momento e não vejamos essa rejeição em algumas figuras que estão tentando ser candidatos — ou potencialmente podem ser candidatos — subindo nesse momento, quando chegar o momento eleitoral, da campanha e do debate direto entre petismo e antipetismo, esses temas vão aparecer.

Ele acredita que ainda não se encontrou um caminho que politicamente não rompa com essa direita mais bolsonarista, mas, ao mesmo tempo, que tenha um grau de liberdade para encontrar um eleitor que pode ser decisivo numa campanha contra o presidente Lula.

Confira a entrevista na íntegra abaixo!