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Governo Sofre Derrota: MP Cai e Gera Repercussão no Mercado – Times Brasil

Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, comenta em entrevista ao Times Brasil a derrota do governo com a queda da MP e analisa os possíveis impactos políticos e econômicos dessa decisão

Ao ser questionado sobre as expectativas para o mercado, Campos Neto diz que é um momento um pouco delicado e devemos observar uma reação um tanto instável, mas que existem dois lados nessa história.

De acordo com ele, é claro que há uma preocupação com a questão fiscal, que já vem de longa data e, mais recentemente, foi um tema que ficou um pouco de lado. Mas, conforme essas questões vão ressurgindo e o ciclo eleitoral se aproxima, fatalmente é um tema que voltará ao radar dos investidores.

Por outro lado, foi também uma sinalização negativa para o governo, que vinha se recuperando em termos de popularidade. Na semana passada, houve uma grande vitória no Congresso com a questão do Imposto de Renda, mas, dessa vez, houve um sinal claro de limites para essa agenda.

Nesse contexto, de acordo com Campos Neto, os mercados até podem receber positivamente essa sinalização, que quebra um pouco essa sucessão de eventos positivos para o governo ao longo das últimas semanas.

Situação fiscal

Quando se trata da questão fiscal, Campos Neto diz que o governo terá que tomar algumas decisões. Claro que ele até pode insistir em algumas medidas por outros caminhos, mas fica muito claro — e não só por essas decisões nesses dias, mas por outras também tomadas pelo Congresso ao longo dos últimos tempos — que iniciativas e medidas visando o aumento de arrecadação chegaram ao limite. Claro que também existe a questão eleitoral, partidária, também tendo um peso nessas decisões.

É claro que há também, de acordo com Campos Neto, lobbies que acabam impedindo algumas medidas de prosperarem, que até podem ter seu mérito em termos de lógica econômica ou de correção de distorções.

Mas o fato é: estamos num processo, já há alguns anos, de um novo aumento expressivo do gasto público. No início do governo, tivemos a PEC da Transição, com R$ 200 bilhões com gastos no início do mandato, da retomada de regras de indexação que já, de certa forma, colocaram uma dinâmica de aumento de gastos definida, e de uma série de programas que têm sido implementados e que simplesmente vão ampliando esse buraco fiscal. E o governo busca, de outro lado, fechar esse buraco com mais receitas.

Campos Neto pontua que, em um país com uma carga tributária já tão elevada, onde já se transfere tantos recursos para a União, estados e municípios, é natural que haja uma reação da sociedade, via Congresso, contra esse tipo de saída. Então, também tem esse aspecto, que coloca o governo numa posição difícil, porque ele tem compromissos assumidos que estão, como eu disse, elevando as suas despesas. Isso vai continuar no ano que vem, ainda mais sendo um ano eleitoral.

E, ao mesmo tempo, ele não tem mais mecanismos, salvo algumas poucas possibilidades. O próprio IOF, que é um imposto regulatório e ao qual ele recorreu recentemente — e que foi até a origem de toda essa confusão —, deixa poucas alternativas. E qual deve ser o resultado? Talvez um deles seja a mudança da meta fiscal para o ano que vem.

É fato, de acordo com Campos Neto, que o mercado já não está mais dando tanta importância para o cumprimento ou não de metas, porque o fato é que, até 2026, o governo vai empurrar essa situação com a barriga, como tem feito, e eventualmente até mudando essa meta para o próximo ano.

Campos Neto diz que a preocupação efetiva é estrutural. Todo mundo sabe que, a partir do ano que vem, mais especificamente de 2027, medidas muito mais duras terão que ser tomadas no lado dos gastos. E o que talvez essas derrotas recentes do governo sinalizam é que esse problema fiscal já contratado a partir de 2027 pode chegar um pouco antes e complicar mais o cenário eleitoral para o governo no ano que vem.

Efeitos gerais na economia

Em termos da economia, de forma geral, Campos Neto diz que os efeitos não são tão significativos. Na verdade, a economia vem, agora mais recentemente, num processo de desaceleração, depois de alguns anos de um bom ritmo de crescimento. Claro que parte dessa retomada forte veio graças ao aumento dos gastos, principalmente na parte de rendas das famílias, que estimulou o consumo.

Mas o fato é: dado o próprio desempenho econômico acima do que se estima como potencial e os desequilíbrios que isso tem gerado — inflação, questão fiscal, mercado de trabalho —, os juros subiram e a economia está desacelerando.

Então, de certa forma, em termos econômicos, essa decisão em si, no curto prazo, não terá uma grande implicação, mas atua muito mais no campo das expectativas, dessa avaliação por parte dos mercados em relação, de um lado, ao próprio risco fiscal que isso representa, e, de outro, à confirmação desse panorama de que não há mais caminho suficiente para cobrir buracos com aumento de arrecadação.

Campos Neto também diz que há a questão política — as implicações que isso terá para 2026. Isso fatalmente impacta os ativos, se não agora no curtíssimo prazo, mas é um tema bastante importante para os próximos meses, conforme o período eleitoral for se aproximando.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!