GloboNews Em Ponto entrevista Gustavo Loyola, economista analisa panorama diante da guerra tarifária de Donald Trump – GloboNews
- Na Mídia
- 15/04/2025
- Tendências

Em entrevista à GloboNews, Gustavo Loyola, diretor-presidente da Tendências Consultoria, analisa o panorama econômico diante da guerra tarifária iniciada por Donald Trump.
Cenário externo
Incerteza pode ser a palavra-chave desse momento da economia. Ao ser questionado sobre como fica a credibilidade da política econômica americana pros aliados, pros agentes econômicos e pro mercado financeiro diante de tantas idas e vindas, Loyola acredita que, realmente, a incerteza é o maior veneno pros mercados e pras empresas, porque é possível tomar nenhuma decisão econômica num ambiente desse tipo.
Loyola pontua que, hoje, a credibilidade da política econômica americana é muito baixa, principalmente falando especificamente do Executivo, nessa parte comercial. Ele diz que as idas e vindas têm realmente atrapalhado muito, além da falta de uma linha bem marcada de onde eles pretendem chegar.
Sabemos que essa política tarifária é errada, pois é baseada em premissas falsas, sendo um retrocesso ao século XIX. Mas, mesmo considerando tudo isso, não há uma justificativa, exceto justificativas bem genéricas, como a necessidade de reindustrializar os Estados Unidos, por exemplo, coisa que já se tentou no passado e não deu certo, não só por lá, como em vários outros países.
Ao ser questionado sobre, caso Donald Trump não recue nessa “guerra” entre China e Estados Unidos, é possível para as economias se adaptarem ou não e se temos no horizonte uma recessão e mais inflação, Loyola acredita que podemos ter uma recessão global, sendo inevitável. É realmente um golpe muito forte na economia global, nas relações comerciais.
Obviamente o mundo se adapta, mas com um custo muito mais alto ao longo do tempo. Só que Loyola pontua que esse será um mundo pior, do ponto de vista de bem-estar dos consumidores e de previsibilidade, por exemplo. Ele diz que é um verdadeiro tiro no pé, tanto dos americanos quanto pros chineses e demais economias, que não estão envolvidas nessa “guerra”, mas que sofrerão os impactos.
Sobre os próximos passos do Fed (Banco Central Americano) e do Banco Central Brasileiro diante do câmbio e da nossa inflação, Loyola diz que o Fed está num dilema pior, uma vez que a economia deve entrar em recessão e a inflação subir, com os juros de longo prazo subindo também.
E pensando em países como o Brasil, que sofrem de maneira indireta, Loyola acredita que vai depender muito do que acontece, por exemplo, com o dólar. Mas a tendência é o Brasil crescer menos. Talvez não com impacto tão grande quanto nos Estados Unidos ou na própria China, mas sofrer um pouco mais com o comércio internacional.
Loyola pontua que, como muitos analistas estão mencionando, há oportunidades para o Brasil também nesse contexto, além dos desafios, porque o Brasil vai poder substituir os Estados Unidos em muitos mercados que vão estar, de alguma maneira, proibitivos pelas tarifas. O desafio é que países como a China vão desviar comércio para países como o Brasil e aí vão desafiar muito a nossa indústria local.
Ao ser questionado se, com os instrumentos que nós temos, o que dá para fazer para o Brasil de fato conseguir conquistar a oportunidade e ganhar nesse cenário todo, Loyola explica que, historicamente, o Brasil tem tido sucesso com diplomacia. Nós conseguimos, em várias situações, exceções. Loyola acredita que a negociação é o melhor caminho.
Ele reforça que é bom ter um instrumento de negociação adicional, mas que o grande possível sucesso do Brasil no cenário futuro vem da diplomacia.
Cenário doméstico
Sobre o cenário atual do Brasil, Loyola acredita que o Banco Central ainda vai subir os juros um pouco mais, talvez chegando ao patamar de 15% ou mesmo ultrapassando um pouco mais. Há alguns sinais positivos no horizonte e a própria inflação pode se acomodar num patamar mais baixo que o dos alimentos, com uma safra que pode ajudar na queda dos seus preços. A economia está desacelerando também, o que reduz a demanda.
Há alguns sinais que podem ajudar a inflação, mas os próprios números do Banco Central indicam que nós estamos longe ainda de atingir a meta. Isso significa que a política monetária restritiva vai prevalecer por mais tempo.
Loyola explica que a situação do Banco Central é igual à de quase todo o mundo, ou seja, de incerteza. Ele acredita que aumentou muito a incerteza na diretoria do Banco Central sobre os futuros passos de política monetária. E o calcanhar de Aquiles do Brasil continua sendo a questão fiscal, o que gera a maior desconfiança: como é que o Brasil vai entregar um resultado fiscal razoável esse ano?
Ele diz que, no ano passado, conseguimos um resultado até razoavelmente bom, mas foi muito às custas de aumento de receitas. Esse ano não tem essa perspectiva, até pelo próprio comportamento da economia, de que as receitas tributárias cresçam tanto assim. E, o arcabouço fiscal, do modo que está hoje, é frouxo e permissivo por si só, além de ter muitas exceções.
Ao ser questionado sobre os efeitos da política monetária no freio versus a política fiscal no acelerador na economia brasileira, Loyola diz que esse é um grande problema, porque o Banco Central tem sofrido um “combate” dentro do próprio governo. A política fiscal é expansionista e o governo busca recuperar a credibilidade, mas Loyola acredita que há um equívoco de diagnóstico do governo.
As pesquisas mostram claramente que a grande preocupação da população brasileira hoje, ao lado da segurança, é com a inflação. Então, Loyola diz que o Banco Central deveria focar nas prioridades. É importante que o governo dê ao Banco Central todas as condições para atacar a inflação, inclusive do ponto de vista político. Isso seria o mais inteligente, porque você chegaria no ano eleitoral com uma situação inflacionária mais tranquila.
Ao reagir da maneira que está reagindo no ponto fiscal, o governo pode se arriscar a, no ano que vem, termos ainda uma inflação alta com juros altos, o que é um contexto muito pior.
Mercosul
Loyola diz que o Mercosul é uma experiência interessante, mas que falha exatamente pela falta de consenso político. Ele acredita que, sem consenso político, é difícil avançar, porque a força do Mercosul viria justamente de uma política comum entre os países. E cada país tem a sua visão. Loyola vê o Mercosul hoje numa situação de crise, sem poder de barganha até para poder se aproveitar dessa situação da guerra tarifária.
Cenário futuro
Do ponto de vista fiscal, Loyola acredita que precisamos de uma solução estrutural, dependendo do Congresso. Ele diz que não existe uma bala de prata. É preciso ter mecanismos, inclusive inscritos na Constituição, que valham mesmo, que não sejam “para inglês ver” e que levem ao longo do tempo à redução da dívida como proporção do PIB.
Loyola diz que não vamos zerar o déficit da noite pro dia, mas algumas coisas podem ser feitas, inclusive a redução da rigidez fiscal, mas é preciso um consenso político entre Congresso e Executivo. Não é tarefa apenas pro atual mandato do presidente Lula, mas pros futuros também.
Com relação à guerra comercial, Loyola acredita que os Estados Unidos é que vão dar o tom e que o Brasil vai ter que ver caso a caso como cada país está reagindo. A nossa economia não é muito aberta e as tarifas são relativamente altas, apesar de serem muito menores do que já foram historicamente. Vai depender de negociações. Loyola acredita que dá para se fazer um “quiprocó”, obtendo algumas concessões e dando outras concessões.
Sobre os Estados Unidos, Loyola explica que pode ser que estejamos num limiar de uma mudança estrutural. A vantagem do dólar nesse momento é que não existe substituto. A moeda chinesa é manipulada. A Europa tem uma série de problemas entre os seus próprios membros, além das questões geopolíticas. O Japão é uma economia estagnada. Caso o dólar se enfraqueça, o cenário pode mudar.
Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!