Entrevista com Alessandra Ribeiro, sócia das Tendências Consultoria, sobre o aumento da taxa de juros – BandNews
- Na Mídia
- 13/12/2024
- Tendências
Em entrevista para a BandNews, Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, fala sobre o aumento da taxa de juros e seus impactos econômicos.
Quando questionada sobre o aumento da Selic pelo Banco Central ser demais, Alessandra diz que o mercado, de forma geral, até esperava um compromisso, mas esse, com duas altas seguidas de 100 pontos, foi a verdadeira surpresa
Alessandra acredita e concorda que o Banco Central realmente precisava estancar essa piora das expectativas que observávamos nas últimas semanas, principalmente após o anúncio do plano de corte de gastos, e um ambiente muito delicado de atividade econômica muito forte, com o PIB do terceiro trimestre e a inflação na margem pior. O câmbio também estava muito depreciado, como consequência do anúncio do pacote. Então, o Banco Central precisava conter um pouco essa piora.
A discussão entre os economistas é se a política monetária é o principal motivo, e a resposta de Alessandra é que “não é o principal motivo”. Ela diz que o Banco Central sozinho não vai conseguir estancar todo esse processo, mas acha que foi uma atitude necessária para evitar um cenário ainda pior lá na frente.
Sobre a credibilidade e expectativa, Alessandra acredita que, do lado das expectativas, o que estamos vendo nas últimas semanas mostra que ainda há uma grande dúvida do mercado em relação ao próprio Banco Central.
Tivemos uma mudança importante na condução do Banco, na diretoria, e o mercado já amenizou essa preocupação, até chegou a ser pior, mas houve uma acomodação. No fundo, o mercado fica sempre com o pé atrás. Será que esse Banco Central não vai ser suscetível à pressão política e manter uma política monetária frouxa, que lá na frente vai gerar uma inflação muito mais expressiva? Esse é o medo do mercado. Alessandra acredita que esse sinal foi importante para isso. O Banco Central mostrou: “Olha, estamos aqui, vamos fazer um trabalho duro para garantir a convergência dessa inflação para a meta.”
Alessandra diz que o Banco Central realmente fez o seu papel e, assim, deu esse choque de credibilidade, ajudando a diminuir um pouco as tensões. Entretanto, ela levanta o questionamento de se será suficiente. Ela acha que não e que será necessário enfrentar também a questão fiscal. Alessandra acredita que precisamos evoluir nessa questão fiscal e que a atitude do Banco Central trouxe esse senso de urgência. Enquanto não resolvermos o problema fiscal, o cenário pode piorar bastante.
Já na parte técnica, ela diz que existem algumas questões também. Estamos crescendo mais do que poderíamos crescer, e, com isso, a inflação começa a acelerar. Esse processo de aceleração é super delicado. O Banco Central precisa estancar isso, porque, de repente, perde-se o controle, principalmente quando se tem um fiscal muito atuante. Então, até no aspecto técnico, já há sinais de alerta.
A sensação que fica é que o Banco Central quis fazer algo forte e radical, meio que tentando cortar o mal pela raiz. É uma estratégia que ainda não sabe qual efeito vai ter. A ideia foi: vamos fazer algo radical, um antibiótico pesado, para evitar rapidamente algo pior no futuro.
Ao ser questionada sobre se essa estratégia vai ter um retorno positivo ou vamos precisar acompanhar os efeitos ao longo do tempo, Alessandra rebate questionando o que o Banco Central ganha com essa estratégia de choque e diz que, na verdade, ele ganha tempo para outros agentes, como o governo e o Congresso, reagirem em relação à questão fiscal.
“No fundo, se conseguirmos, minimamente, endereçar a questão do corte, ainda que a gente acredite que seja pouco provável que algo muito estrutural aconteça, o Banco Central consegue segurar um pouco o risco, dando algum sinal de previsibilidade para o mercado.”, explica Alessandra.
Ela reforça que acredita que a estratégia é ganhar tempo para os outros agentes reagirem. Com isso, o Banco Central teria um espaço maior para uma redução gradual de juros no final de 2025 e começo de 2026.
Entretanto, Alessandra também traz o cenário pessimista. E qual seria esse cenário? O tempo não funcionaria, a reação não viria, e haveria uma frustração em relação à questão fiscal. Nesse caso, ela acredita que entraríamos em um cenário mais delicado, porque o Banco Central já estaria com os juros muito altos e teria que reagir de forma mais agressiva. A discussão sobre dominância fiscal se tornaria muito mais presente caso a gente não tenha um avanço mínimo para segurar a situação até 2026.
Alessandra explica que a dominância fiscal ocorre quando a política monetária perde efeito. Quando você sobe os juros, o que acontece é que o mercado já não tem mais espaço e o Tesouro já está pagando muito mais caro para financiar a dívida, mas o fato é que você está mexendo na taxa básica, e uma parte da dívida é indexada a ela. Então está, sim, subindo o custo de financiamento dessa dívida.
Quando olhamos para o déficit nominal, ele vai ser maior, e, no fundo, é a conta inteira que importa para a dívida. Ou seja, não vemos esse sinal de estabilização da dívida. Quando sobem os juros de forma mais forte, existe o risco do impacto dessa dívida. E aí, o mercado olha para ela e pensa: “Nossa, agora está muito mais arriscado”, o que pode gerar uma piora adicional.
Dessa forma, a política monetária se torna ineficiente, perdendo efeito. Alessandra acredita que, nesse cenário mais pessimista que ela está traçando, poderíamos entrar em uma dominância fiscal mais rapidamente, com risco de acontecer, também, uma aceleração inflacionária.
Quando questionada sobre o que é possível fazer para evitar o cenário mais dramático e limpar um pouco esse leite derramado pela frustração com o pacote fiscal, já que esse pacote é menor do que se esperava e do que é necessário, e com o risco da questão do Imposto de Renda que acabou entrando no meio, Alessandra diz que existe um caminho, até porque há uma PEC no Congresso que é muito importante em termos de corte de gastos e que realmente endereça questões estruturais importantes, tratando desde os pisos constitucionais de Saúde e Educação até a questão da vinculação do salário mínimo, que é muito mais incisiva em relação aos gastos.
Alessandra acredita que também é necessário aproveitar esse momento, trazer elementos dessa PEC e sair com um pacote mais robusto em relação ao inicialmente aprovado.
Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!