Tendências Consultoria Econômica

  • Português
  • English
Edit Template

Eleições 2026: Análise com Rafael Cortez – Warren Política

Rafael Cortez, sócio e cientista político da Tendências Consultoria, analisa as eleições de 2026 no Warren Política

No quinto episódio, o economista-chefe da Warren, Felipe Salto, recebe Rafael Cortez para discutir projeções eleitorais, polarização, desafios fiscais do próximo governo, o fortalecimento do Congresso e as perspectivas para a direita brasileira.

Movimentações políticas

Ao ser questionado sobre como está o cenário atual para as eleições do ano que vem, Cortez explica que, para chegar em quem vai ganhar, no cenário final, é preciso dar alguns passos antes para entender o que está acontecendo de relevante nessa conjuntura política. 

Ele diz que existe um ponto importantíssimo a ser observado: se essa eleição vai ser polarizada ou não, principalmente pelo fato da atual incerteza sobre quem será o candidato da oposição. Apesar disso, Cortez acredita que a eleição presidencial de 2026 ainda será marcada pela dualidade “petismo versus antipetismo”.

Cortez traça uma linha do tempo para explicar a origem dessa dualidade. Ele diz que o sistema político brasileiro, nas eleições presidenciais, sempre teve duas grandes forças, pelo menos a partir de 1994, que eram PT e PSDB. Em 2018, acontece uma mudança parcial com a entrada do bolsonarismo no lugar do PSDB. A partir de então, essa é a nova forma de polarizar, só que agora numa versão muito mais radicalizada. Aos olhos de Cortez, a eleição de 2026 será a última com essa dualidade.

Mas, até chegar lá, Cortez acredita que é fundamental ficar de olho na avaliação de governo, porque, fundamentalmente, uma eleição presidencial é o plebiscito do governo. Se o governo está bem, o candidato fica. Se o governo é percebido como uma má administração, troca. É assim que as democracias funcionam. E o Brasil ainda é uma democracia com essas características.

Só que, de acordo com Cortez, para 2026 não está fácil, porque, de acordo com as pesquisas de opinião pública na média, a sociedade está dividida. Então será uma eleição que, por definição, vai ser incerta até chegar o momento de acontecer, mas Cortez imagina que, como ponto de partida, o governo chega favorito. Se vai manter o favoritismo, aí a existem outros elementos que vão aparecer, inclusive o quadro econômico.

Desafios para as próximas eleições

Cortez acredita que há um ponto importante para essa discussão de reformas e essa conexão entre o resultado eleitoral e a agenda econômica do próximo mandato, que tem um pouco a ver com a discussão do presidencialismo de coalizão.

A grosso modo, o presidencialismo de coalizão é um sistema político em que o presidente é percebido como a grande estrela. Ele é, de longe, o que tem mais poder e é ele que toca a agenda.

Aos olhos de Cortez, desde 2013 para 2014, nós viemos passando por um reequilíbrio entre os poderes e o resultado prático é que o presidente tem menos força de agenda, incluindo a pauta econômica. Ou seja, todo presidente vai ter uma dificuldade grande de tocar reformas, independentemente de quem esteja sentado lá e de qual seja o tema dessa reforma, por causa do Congresso e, em parte, por conta dessa relação do Executivo com o Congresso.

O que está acontecendo hoje? O presidente da Câmara e o presidente do Senado chegam nesse status não porque são parceiros da coalizão do Executivo. Eles chegam lá, em geral, fazendo oposição ao chefe do Executivo. Esse modus operandi, de acordo com Cortez, é inaugurado na relação entre Eduardo Cunha e a ex-presidente Dilma, no seu primeiro mandato. Ali começa a gestação desse novo modelo.

E qual é o problema disso? Cortez explica: o Congresso fica sem accountability nenhum. Por quê? O presidente da Câmara e o presidente do Senado não são eleitos nacionalmente, mas, sim, em seus respectivos estados. Então, eles não têm incentivo para fazer isso e agora rivalizam com o Executivo. Ou seja, o custo da governabilidade, sobretudo nos temas mais espinhosos, aumentou no Brasil nos últimos anos.

O nosso país está fragmentando o poder, pelo menos do ponto de vista entre os poderes, porque tem um Judiciário também muito forte. Cortez diz que somos mais fragmentados do que no passado. Esse movimento o preocupa, independentemente de quem vai sentar na cadeira.

Pensando em desafios específicos, de acordo com os resultados das eleições. Se Lula eventualmente ganhar, o desafio específico dele, de acordo com Cortez, parece ser entender uma certa contradição entre a sua agenda econômica e o Congresso. Ou seja, pelo menos do ponto de vista fiscal, tem duas formas de fazer algum tipo de ajuste ou de política fiscal: ou vai pela receita ou vai pelo corte de despesa.

Em tese, governos de esquerda preferem a saída do aumento de arrecadação, e governos de direita tendem a dar um peso maior no corte de despesa. O que o governo Lula demanda politicamente – e fez isso ao longo de todo o terceiro mandato, e o ministro Haddad precisou gerir esse problema – foi dar uma saída de esquerda para cumprir o marco fiscal, só que num Congresso de direita e sem coordenação.

Então, de acordo com Cortez, a pergunta que tentamos fazer nessa ligação entre o resultado eleitoral e a cena fiscal é: como vai ser o equilíbrio, em que momento vai-se chegar a algum tipo de compromisso entre essas duas coisas.

O que a gente vimos em boa parte do Lula 3 é que cria a regra, cria o marco fiscal, que contrata crescimento real do gasto pela sua natureza. Então, já sabemos que o gasto público aumenta com crescimento real no Brasil. Para isso não gerar problema fiscal, ou corta em algum lugar ou busca arrecadação, que é o que o ministro Haddad sistematicamente tentou. Teve até um sucesso relevante, mas não o suficiente para jogar o déficit primário na casa positiva e para reduzir a incerteza, que tende a ser constante e muito alta em 2026.

Contrariando a visão de algumas pessoas, principalmente da direita, Cortez diz que simplesmente a troca de presidentes não vai resolver o problema fiscal. Ele diz que essa visão peca um pouco por um excesso de otimismo, assim como achar que a manutenção também seria o caos. Tomar esses extremos como ponto de partida é perigoso para quem está fazendo alocação de recursos, porque são hipóteses muito fortes e tomadas como uma visão de política que talvez não seja a ideal. Ou seja, a ideia de que os chefes de governo não fazem nada, a despeito dos custos disso.

Pode fazer torto, pode fazer devagar, pode fazer incompleto, pode fazer de uma maneira eficiente, mas imaginar que algum governo não vai responder a um cenário em que a taxa de juros, não só a nominal, mas a taxa de juros de mercado, fica andando em dois dígitos até onde a nossa vista alcança, com a implicação que isso tem para custo da dívida, entre outros pontos, parece muito exagerado do ponto de vista de Cortez. Não tem mínima estabilidade se essa inflação, por exemplo, estiver controlada. Faz sentido, para ele, partir do ponto de alguma visão de que vão tentar fazer.

Cortez diz que, hoje, a política é muito sensível a erros. Lula tem um capital político muito mais efêmero do que teve no passado, com uma rejeição muito maior do que no passado, e qualquer passo errado que ele dá vai por água abaixo a governabilidade. E Cortez acredita que isso se mantenha para 2026.

A tendência, na verdade, é ter um Congresso ainda mais distante das preferências do Lula a partir de 2027, caso ele seja eleito, porque os grandes partidos hoje têm mais dinheiro e, tendo mais dinheiro, têm uma chance maior de fazer deputados e senadores. E quem são esses partidos? A centro-direita. Então, o Congresso de 2027 pode ser ainda mais distante do Executivo de esquerda. Se Lula não fizer o mínimo de governança, não governa, não consegue andar.

Cortez diz que a dominação da ação parlamentar é um problema de coordenação política, um problema de ação coletiva para evitar que grupos consigam capturar privilégios, interesses, a despeito de uma política mais nacional e orientada à responsabilidade, ao bem público.

O Estado moderno precisa fazer duas coisas, de acordo com Cortez: tem que tributar de forma eficiente e tem que garantir os direitos individuais. Se não fizer isso, é um Estado falido. Então, é legítimo que se busque isso, mas o que está acontecendo é que não há coordenação da elite política. Legislativo vai para um lado, Executivo vai para o outro. Ninguém se responsabiliza, porque ninguém disputa eleição nacional, é só o presidente da República. O resto não tem nenhum incentivo para fazer.

Então, existem esses problemas no bojo da elite política, somados com esse verniz na ideia de que não dá mais para aumentar imposto. Mas, ao mesmo tempo, um monte de interesses vão sendo colocados. Então, é uma economia política de fato complexa.

É possível uma reforma orçamentária?

Cortez é partidário da tese de que a elite política tem uma autonomia em relação ao que o eleitorado deseja. Aliás, para ele, é bom às vezes que a elite política não faça o que o eleitorado quer, porque nem sempre é fácil saber qual é o caminho das pedras. Representar é justamente fazer isso. E liderar nem sempre é fazer tudo o que todos querem. Certamente não é e Cortez não tem nenhuma dúvida disso.

Ao ser questionado se a reforma orçamentária tem apelo e se é possível traduzir esse debate para a população, Cortez acredita que vai chegar esse momento, porque a elite política está sentindo os problemas que esse modelo está gerando, sobretudo quem senta na cadeira de presidente.

Tem uma parte que tem um pouco a ver com a política brasileira: ela constitucionaliza muita coisa. É uma espécie de incerteza. Talvez coisa de país em desenvolvimento, com muita volatilidade, e aí precisa constitucionalizar tudo. Gostamos de colocar muita coisa nessa Constituição, inclusive programas de políticas públicas. Isso é uma escolha de política pública. Não é regra fundamental, pelo menos não deveria ser, mas no Brasil acaba sendo. Então esse é um problemão. E não vai ser resolvido de uma hora para outra, de acordo com Cortez.

Se ganhar um nome da direita, ainda que tenha ímpeto reformista, não é um processo que se resolve no curto prazo. A gente está falando de questões de geração. Cortez acredita, sim, que esse é um tema que vai entrar na agenda. Se não por popularidade, vai entrar pelo problema que está gerando para quem toma decisão.

E, na visão de Cortez, o Brasil vai tentar responder a esses dilemas, obviamente com todas as limitações. Agora, uma sociedade com o nível de desigualdade que a gente tem, com as características da economia brasileira, para chegarmos no equilíbrio de um país emergente não é da noite para o dia. Mas Cortez não vê simplesmente a elite política cruzando os braços diante de todos esses desafios que estamos enfrentando.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!