Economistas veem cenário difícil se pacote de cortes for muito restrito – O Estado de S. Paulo
- Na Mídia
- 11/11/2024
- Tendências
Uma política fiscal frouxa, alertam os analistas, levará o País a um ciclo bastante perverso, com impactos diretos sobre a inflação e na condução da política monetária
Medidas de pequeno impacto vão piorar quadro (Alessandra Ribeiro – Sócia e diretora na Tendências Consultoria)
Nas últimas semanas, há uma piora importante na percepção de risco com relação à economia brasileira, devido à junção de elementos externos e domésticos. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos terá efeitos adversos para as economias emergentes, agravando para o Brasil um cenário já marcado por preocupações com a sustentabilidade do arcabouço fiscal e a dinâmica das contas públicas.
Neste contexto, são grandes as expectativas em torno do anúncio, pelo governo, de um pacote de corte de gastos. No entanto, dado o atual nível de deterioração das expectativas e precificação de risco nos ativos financeiros, o ideal é que o pacote seja ambicioso, endereçando questões estruturais como a vinculação do piso previdenciário à política de reajuste do salário mínimo, o Benefício de Prestação Continuada/Loas, pisos constitucionais de Saúde e Educação, atualmente atrelados ao desempenho das receitas federais, e reformulação do abono-salarial.
No momento, o principal risco é de anúncio de medidas de impacto pequeno ou moderado, na linha de um pente-fino de programas já existentes, ou pouco factíveis. Nesse caso, deve ser observada nova onda de piora das expectativas, que deve se traduzir em novos movimentos de depreciação do real, de aumento dos juros futuros e de queda da bolsa. O Banco Central teria de ser ainda mais agressivo no ciclo atual de aperto da política monetária.
A piora precificada pelos ativos financeiros afeta a economia real com alguma defasagem. Assim, esse cenário resultaria em queda da confiança dos agentes econômicos, piora nas condições de crédito às famílias e empresas e menor propensão ao consumo e investimentos, ou seja, menor crescimento econômico e efeitos adversos para o mercado de trabalho.
Para as contas públicas, o cenário desenhado torna o quadro ainda mais desafiador, dados os efeitos negativos para a arrecadação e para o aumento do custo financeiro de rolagem da dívida pública, na medida em que há exigência de juros mais altos para financiar um ativo percebido como mais arriscado. Em suma, se delineia, assim, o caminho para um cenário pessimista para a economia brasileira, que pode ser potencializado por quadro externo ainda mais complicado.