Economistas dão pesos distintos a termos usados nos comunicados do BC – O Estado de S. Paulo
- Na Mídia
- 15/05/2025
- Tendências

Para alguns, há sinais claros de que o Copom vê o ciclo de aperto monetário encerrado; outros entendem que a Selic voltará a subir
Antes mesmo do anúncio da trégua na guerra tarifária entre EUA e China, que adicionou um elemento novo a um cenário já complexo, já havia muitas divergências entre as leituras que os economistas fizeram do comunicado após reunião do Copom e da ata divulgada nesta semana.
Na avaliação do economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, o Banco Central utilizou a ata da reunião deste mês para construir um “encadeamento de ideias” em que teria predominado a leitura de encerramento do ciclo de altas da Selic a partir de agora.
O analista destaca que, embora tenha frisado o “incômodo” com a desancoragem das expectativas de inflação, a ata deixou a visão da autoridade monetária de que os principais efeitos do aperto monetário ainda serão sentidos.
“A construção narrativa é de que a política monetária já trouxe impactos, ainda que incipientes, sobre a atividade, mas que isso ainda vai ser sentido em maior magnitude à frente”, diz Sanchez, que, por isso, projeta que a Selic deve ficar estacionada em 14,75% ao menos até meados de 2026.
Tom
Já o economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, segue apostando em uma Selic a 15% em junho. Em sua avaliação, o comunicado da semana passada pedia mais para o fim do ciclo do aperto, enquanto a ata teve um tom mais hawkish (agressivo), indicando um maior equilíbrio entre as duas possibilidades.
Entre os trechos da ata que levariam a essa visão, Salles cita o parágrafo referente ao balanço de riscos.
“Na ata, o comité disse que aparentemente houve uma discussão sem um consenso. Alguns consideraram o balanço (de riscos) como neutro, mas há uma parte do colegiado que ainda o viu como levemente assimétrico”, explica Salles, que entende que a mensagem principal da ata foi a sinalização de que o colegiado não está disposto a cortar o juro básico tão cedo.
“Chama a atenção o comitê o ter enfatizado bastante o termo ‘período prolongado’ para falar do nível contracionista do juro. É uma forma de reduzir essa discussão sobre um corte em breve”, disse.
Em relatório, a equipe econômica do Itaú Unibanco, chefiada pelo economista Mário Mesquita, ressaltou que, embora a porta para uma nova alta na Selic ainda não esteja fechada, a barra colocada pelo BC para que isso aconteça no curto prazo está mais alta.
Entre os destaques do documento, os economistas do banco afirmam que os membros do Copom “parecem operar sob uma convicção muito forte” de que a política monetária está em um nível bastante contracionista e que, por isso, o colegiado está confiante de que a economia já está desacelerando.
EUA e China
Os possíveis efeitos de uma trégua entre americanos e chineses nos movimentos futuros do BC já haviam sido destacados pelo JPMorgan.
Em relatório, o banco destacou que já havia dado bastante peso à questão internacional, partindo do princípio de que haverá uma desaceleração considerável da economia dos EUA, mas que essa visão já pode estar desatualizada.
“Pensamos que uma reversão (mesmo que parcial) nas expectativas do comité para o crescimento global reforçará as chances de um aumento de 0,25 ponto na próxima reunião”, escreveu o JPMorgan no documento.