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Economista Silvio Campos Neto comenta sobre crescimento de 3,1% do setor industrial em 2024 – BandNews

Em entrevista à BandNews, o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, comentou sobre o crescimento de 3,1% do setor industrial em 2024.

A produção da indústria brasileira, desde 2010, não crescia tanto – com exceção do ano de 2021, que é sempre excluído dessas comparações porque subiu muito depois do tombo de 2020 na pandemia.

Em 2023, o crescimento foi perto de zero. Portanto, a indústria ter crescido mais de 3% em 2024 é um desempenho altamente favorável. E, olhando por dentro, também é uma recuperação que está bem disseminada. Não foi só pontual, como em 2023, quando tivemos uma recuperação da indústria de mineração e da indústria de petróleo.

Agora, a recuperação é mais ampla. Veículos, produtos da indústria, eletrodomésticos, produtos alimentícios, produtos industriais e produtos ligados a investimentos, como máquinas e equipamentos, mostrando também que há um investimento das empresas para modernizar a produção. Então, foi um resultado bem espalhado de forma favorável.

Entretanto, houve uma queda em dezembro de 2024, segundo o IBGE, de 0,3% na comparação com novembro. É uma queda pequena em relação ao que se esperava, mas já foram três meses seguidos de queda no final do ano.

Isso pode estar apontando para uma economia que vai se enfraquecendo diante de uma perda do poder de compra, que sustentou a economia em 2024, com o desemprego baixo, poder de consumo e o crescimento do crédito. Agora, a expectativa é que a indústria sofra uma perda importante de crescimento. Depois de crescer 3,1% em 2024, a previsão média para 2025 é de um crescimento em torno de 1,8%.

Há uma série de restrições e dificuldades que impõem limitações ao setor da indústria. Para 2024, a Tendências Consultoria espera uma desaceleração do ritmo, embora ainda com algum crescimento adicional.

“A nossa expectativa é de pouco acima de 2% para a produção industrial do ano. É claro que, neste ano, o setor se defronta com questões importantes. O custo do capital está muito mais alto, e não estou falando apenas da taxa Selic, mas da própria estrutura das taxas de juros de mercado, que estão muito pressionadas. Isso vai afetar o crédito. Ao mesmo tempo, temos um ambiente de mais incertezas e instabilidade, não só aqui, mas também no mundo. Isso pode postergar algumas decisões de investimento. E as famílias também estão com mais dificuldades devido ao poder de compra afetado pela inflação.”, explica Silvio Campos Neto.

Campos Neto explica que, olhando o copo meio cheio, é um bom resultado, que deixa uma percepção favorável para os próximos anos. Mas o copo meio vazio é que ainda temos muitas questões estruturais a serem resolvidas, o que impõe desafios a esse setor. 

Sobre a queda do dólar e a questão fiscal, Campos Neto diz que, a princípio, é um ano que tende a ser marcado por uma desaceleração gradual da economia, especialmente no primeiro semestre, em virtude do aperto grande de condições financeiras, com o foco, obviamente, no controle da inflação.

E olhando um pouco mais à frente, para o segundo semestre, A Tendências tem uma expectativa de alguma contração do PIB na margem, tanto no terceiro como no quarto trimestre.

Campos Neto explica que existem algumas questões em aberto, como o fator Trump, que é algo muito imprevisível. É importante ficar de olho até onde ele vai com essas políticas sinalizadas, seja na questão tarifária ou outras também, em termos de cortes de impostos e desregulamentação dos setores.

Falando da questão fiscal, Campos Neto diz que os mercados estão acompanhando como o governo, o mundo político de forma mais ampla, tem lidado com os desafios. Esse talvez seja, e vai continuar sendo, um tema central não só no acompanhamento do ambiente econômico, mas também nos impactos para variáveis de mercado, como taxa de juros e o  próprio câmbio, que pelo menos até nessas primeiras semanas do ano, corrigiu um pouco da pressão mais aguda sofrida em dezembro.

“A priori, eu diria que esses pontos citados, que são muito importantes, eles não devem ser suficientes para reverter essa expectativa de uma perda de fôlego ao longo do ano, principalmente no segundo semestre, diante de todo o aperto que estamos observando nas condições financeiras.”, explica Campos Neto.

Sobre a meta fiscal, Campos Neto diz que, de fato, o governo a cumpriu, mas com algumas excepcionalidades, que fazem com que, inclusive, a reação não tenha sido das mais animadoras.

Ele explica que, no fundo, há toda uma preocupação ainda do ponto de vista estrutural, porque foram retomadas algumas regras nos últimos anos que já contrataram um aumento importante de gastos obrigatórios para os próximos anos. E no fundo, isso que preocupa. 

“Vai exigir mudanças à frente. A gente sabe que essas mudanças não devem vir até as eleições do ano que vem. E, nesse contexto, a nossa relação dívida/PIB continuará subindo nos próximos anos. Então, esse é um tema que continuará em aberto. É importante reconhecer que o governo tem feito alguns esforços no sentido de minimizar essas pressões, essas tensões mais agudas em relação ao tema. Mas o fato é: as políticas seguidas já contrataram esse aumento de gastos e criaram todo um ambiente de insegurança em relação ao tema. O aumento da dívida é mais um complicador, que faz com que os mercados não fiquem tranquilos em relação ao tema fiscal, e continuará assim por muito tempo.”, finaliza Campos Neto.

Confira a entrevista completa abaixo!