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Dólar sobe e Ibovespa cai após confirmação de Gleisi – CNN Brasil

Em entrevista para a CNN Brasil, Rafael Cortez, economista da Tendências Consultoria, fala sobre a alta do dólar e a queda do Ibovespa após a confirmação de Gleisi Hoffmann.

O mercado brasileiro piorou bastante depois da confirmação deste nome para assumir a articulação do governo. O Ibovespa acelerou a trajetória de queda e o dólar passou a subir com muito mais força, ganhando quase 1%. 

Quando questionado se a indicação de Hoffmann surpreende e qual deve ser o papel dela dentro do Palácio do Planalto, Cortez diz que a surpresa não é nem tanto pela indicação, mas, sim, a pasta que abrigaria a atual presidente do PT.

As especulações iniciais diziam que ela iria para algo na Secretaria Geral da Presidência, uma pasta, a grosso modo, que faz articulação do governo com os movimentos sociais. Isto até foi repercutido pelos próprios governistas lá atrás.

Nesse sentido, a escolha de Hoffmann para substituir o Ministro Alexandre de Padilha no coração das negociações políticas e da articulação do governo com o Congresso é uma surpresa.

Cortez reforça que uma articulação dessas não é qualquer uma. Nessa metade final do governo Lula, a articulação política com o Congresso é quase sinônimo de construção de coalizão do projeto de reeleição Lula em 2026.

Dado o peso do nome de Hoffmann, no sentido de ser uma líder política com bastante exposição e um nível de rejeição elevado, e, sobretudo, uma escolha que mantém a articulação política no PT, há uma ideia de que, não só do ponto de vista dos agentes econômicos, mas da leitura política, o governo Lula pensa em reeleição e pensa nela aos modos do petismo tradicional – de uma ideia de que é o PT a bandeira que vai carregar e lutar pela reeleição do projeto Lula.

Sobre como será a segunda metade do governo Lula, dada a queda de sua popularidade, Cortez diz que, quando falamos em PT da moda antiga, ele é um cenário de um modelo de sucesso, pelo menos no tocante a vencer as eleições presidenciais.

Cortez pontua que a questão aqui é com quem que ele vai se articular e se esse modelo de sucesso no passado é replicável pensando lá em 2026. E por que existe alguma desconfiança de que esse seja o caso? Porque já temos evidências não só da perda de popularidade, mas da fraqueza do governo em tocar a sua própria agenda, principalmente na agenda que ele apostou, pelo menos, na primeira metade do seu mandato, sobretudo na perna da política econômica, na questão fiscal em particular.

Então, quando a gente olhamos a escolha, olhamos pensando nessa ideia de que o capital político do presidente Lula é suficiente para simplesmente seguir esse modelo, seja em termos de política, seja em termos de lideranças no comando do governo ou não. Entretanto, por hora, não parece ser suficiente.

O governo Lula corre o risco de ter, em 2026, um quadro de inflação razoavelmente alta, sobretudo em alguns preços de alimentos, que acabam ajudando a fazer com que esse debate e a imagem do governo se torne mais negativa e eventualmente até com uma desaceleração econômica justamente no ano de 2026. 

Cortez acredita que todo esse barulho em cima do nome de Gleisi Hoffmann tem um pouco a ver com essa perda expressiva de popularidade do presidente Lula. E, para quem acompanha do ponto de vista da agenda econômica, tem a ver também com as críticas cada vez mais ácidas ao ministro Fernando Haddad.

Ao ser questionado sobre como deve ser o tratamento à agenda econômica defendida por Fernando Haddad – a agenda econômica do ajuste das contas públicas – com um nome como Gleisi Hoffmann, Cortez diz que já existem alguns sinais de limites políticos à agenda que a gente personifica no ministro Haddad, mas que, na verdade, é uma agenda do governo.

É o governo que, quando faz o Marco Fiscal, prevê expansão real de gastos. É ele também que faz a estratégia de cobrir esse gasto adicional através de incrementos em arrecadação, algo que o ministro Haddad tentou convencer congressistas e a sociedade ao longo dos dois primeiros anos.

Cortez diz que esse é o dado preocupante, porque nós não estamos falando de uma agenda Haddad como se fosse excessivamente fiscalista ou que fosse algo ortodoxo em meio a governos heterodoxos.

Na verdade, estamos falando de um alinhamento do ministro Haddad com o que o governo e o presidente Lula desenharam lá atrás. Então, quando vemos agora críticas adicionais ao ministro Haddad, na verdade, são críticas mais amplas ao governo Lula.

O que fica difícil de saber, em termos de política econômica, é o que o governo vai fazer. Vai deixar de lutar por um superávit primário, ou, pelo menos, por uma política fiscal que se aproxime um pouco mais do azul? Vai tomar esse risco? Qual é a saída que teríamos agora com essa substituição?

Sobre como pode ser, a partir da posse da nova ministra, a relação do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional, Cortez acredita que um ganho de governabilidade não deve vir, então não consegue imaginar um caminho que, a partir da substituição na Secretaria das Relações Institucionais, se ganhe governabilidade. Cortez diz que parece ser muito mais uma decisão pensando dentro do PT, com a sucessão presidencial do partido esse ano e também pensando na correlação de forças dentro do governo.

E, se não vai trazer governabilidade, o governo vai enviar seus projetos e “vai depender” das preferências dos parlamentares em relação aos temas que for tratar. Já sabemos, por exemplo, que provavelmente virá um projeto e uma proposta de tributação na renda. Que, eventualmente, virá algo voltado para o crédito consignado. Se fala agora na PEC da Segurança Pública.

Mas, se não houver mais governabilidade e força do presidente Lula com o Congresso, vai ser o que essa maioria de centro-direita quer. Aí Cortez diz que existem dois caminhos possíveis e, em alguma medida, ambos geram algum tipo de turbulência nas expectativas econômicas.

O primeiro caminho é o governo, a Câmara e o Senado barrarem as iniciativas do governo, e o segundo é que irão aprová-las. E os dois vão gerar algum barulho.

Cortez explica que é uma combinação difícil de leitura, porque não sabemos bem o que o Planalto quer e qual a capacidade dele de aprovar a sua agenda. Então, é um ambiente, por hora, muito desafiador. A ministra Gleisi, quando assumir, terá o desafio, inclusive, de “limpar” a sua personagem política enquanto presidente do PT.

A interpretação de Cortez é de que Lula está tomando riscos com essa estratégia de repetir uma fórmula pensando na reeleição à luz da atual conjuntura. Entretanto, os dilemas da direita, que também está muito bagunçada, de alguma maneira tira um pouco as consequências mais claras nesse curto prazo. Enquanto isso, o governo navega sua agenda em meio a essas incertezas.

Ao ser questionado sobre essa primeira camada da reforma ser uma “Reforma Lula” para depois termos a reforma da governabilidade com o Centrão, e aí sim, com a partilha dos ministérios para uma segunda etapa, Cortez diz que é uma chave interpretativa interessante.

Cortez explica que, de alguma maneira, faz-se ali uma espécie de varejo na alocação dos recursos dessas emendas. Então, de fato, não é uma escolha fácil tirar essa pasta do PT, que obviamente é o partido que vai dar a cara para o projeto de reeleição, e colocá-la em outra legenda, especialmente no mundo em que, possivelmente, vamos ver divisão dentro dos partidos de centro-direita.

Então, em alguma medida, Cortez diz que se entende até a ideia de ficar nas mãos do PT mais uma vez. Mas, onde está essa ligação com esse partido se não está na Casa Civil, se não está na Secretaria de Relações Institucionais? Vai estar no tipo de política que o governo vai enviar.

Cortez acredita que o governo, quando for enviar projetos, vai dar um pouco uma outra cara e vai se aproximar da centro-direita e trazer figuras expressivas do campo, como o ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco, o ex-presidente da Câmara Arthur Lira… Algum nome que dê um choque e traga essa mensagem de que existem figuras relevantes do campo da direita que acreditam tanto no governo, a ponto de entrarem nessa administração numa fase de perda de popularidade.

Então, se não vai acontecer agora, Cortez diz que fica a questão: onde vai acontecer, caso o governo não tenha sucesso? Aí, de fato, vai ter muito mais a cara de uma coalizão para a reeleição, que vai lembrar muito qual era a coalizão do Lula no primeiro turno de 2022.

O problema é que, lá atrás, a gente tinha uma administração muito rejeitada, que era o governo Bolsonaro. O PT conseguiu vencer. Agora, quem provavelmente vai chegar com um nível de rejeição alto é o próprio presidente Lula e o seu governo.

Confira a entrevista completa no vídeo abaixo!