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Desemprego cai para 6,4% puxado pela indústria – O Globo

Taxa é a menor para o trimestre e a segunda mais baixa desde 2012. Mais de 1 milhão de postos foram criados de julho a setembro. Massa salarial cresce 7,2% no ano, e o rendimento médio real, 3,7%

A taxa de desemprego caiu para 6,4% no trimestre encerrado em setembro, a menor taxa para o período e a segunda mais baixa da série histórica iniciada em 2012, segundo dados divulgados ontem pelo IBGE. A indústria liderou a geração de empregos no trimestre respondendo por 34,9% dos novos postos, com  o acréscimo de 418 mil profissionais. A massa salarial mensal, soma dos rendimentos dos trabalhadores, atingiu R$ 327,7 bilhões, aumento de 72% frente a setembro do ano passado.

O número de desempregados caiu mais uma vez. Eram 7 milhões em busca de uma oportunidade em setembro, o menor número desde o trimestre encerrado em janeiro de 2015, uma queda de mais de meio milhão de trabalhadores nessa condição (541 mil). Para especialistas, a situação é reflexo de uma atividade econômica que tem crescido mais do que o esperado este ano. A expectativa é que o desemprego encerre o ano no menor nível da série histórica.

— O Brasil está crescendo mais que o esperado, e não há política mais eficaz para emprego que crescimento econômico — afirma Fernando de Holanda, pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do Ibre/FGV.

O mercado renovou o recorde de pessoas ocupadas, com 103 milhões de trabalhadores. A expansão das vagas no trimestre foi puxada pela indústria e comércio, que abriram mais de 700 mil postos de trabalho no terceiro trimestre.

— Em particular, a indústria registrou aumento do emprego com carteira assinada. Já no comércio, embora a carteira assinada também tenha crescido, predominou o emprego sem carteira — explica Adriana Beringuy, gerente de pesquisa.

O rendimento que vinha subindo desde março de 2022, recuou levemente 0,4%, a R$ 3.227, mas subiu 3,7% frente ao ano passado.

Formalização

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), explica que a geração de emprego vinha sendo sustentada pelos serviços, mas a configuração ao longo deste ano mudou, com aumento do emprego com carteira assinada na indústria e no comércio.

— Há uma migração para atividades formais, com os postos com carteira de trabalho crescendo acima do total da ocupação. E isso é bom não só do ponto de vista do empregado, mas do dinamismo econômico.

O emprego com carteira cresceu 1,5% com mais 582 mil trabalhadores formais.

Segundo Cagnin, o aumento da renda das famílias, que impulsiona o consumo e retroalimenta o emprego nas fábricas e no varejo, explica o dinamismo no mercado de trabalho. Ele afirma que o consumidor ainda sente os benefícios do ciclo anterior de queda da taxa de juros pelo seu efeito defasado (a taxa básica de juros caiu 13,75% em agosto do ano passado para 10,5% ao ano em maio, depois voltou a subir e atualmente está em 10,75%), o que torna mais favorável as condições de crédito e consumo. Outro elemento é a própria geração de emprego com carteira assinada, que gera um fluxo de renda regular, diz o economista.

Cagnin aponta que 72% dos ramos da indústria de transformação estão crescendo este ano. Especialmente nos meses de julho e agosto, a produção dos segmentos de vestuário, têxtil, couro e calçados têm crescido, o que explica a alta de postos no setor fabril:

— Temos um dinamismo agora dessas atividades que são mais empregadoras.

O presidente da Fator Tower, de incorporação e construção civil, Vasco Rodrigues, contou que contratou 210 pessoas este ano. Destas, 39 admissões foram feitas só no terceiro trimestre. De acordo com a empresa, a maioria das contratações foi na construção civil e reforços  administrativos.

Apesar do quadro positivo, analistas alertam que o aquecimento do mercado de trabalho mantém os preços pressionados, principalmente de serviços, o que dificulta o controle da inflação pelo Banco Central. A autoridade monetária tem sinalizado que o mercado de trabalho está apertado, e economistas esperam aumento da Selic na próxima reunião do Comitê  de Política Monetária (Copom), na semana que vem.

— A inflação vai fechar acima do teto da meta, de 4.5% e o BC está aumentando os juros para frear a economia que dá sinais de estar acima do “pleno emprego”. — explica Holanda, do Ibre/FGV.

Alta menor à frente

Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria, observa que o mercado de trabalho surpreendeu positivamente este ano, com uma taxa de desemprego abaixo das expectativas e um aumento da ocupação superior ao projetado. No entanto, ele acredita que, a partir de 2025, após uma alta em torno de 7% este ano.

— Até o fim desse ano, é possível que haja uma desaceleração importante, mas ainda deve manter um ritmo de crescimento do emprego considerável. É um cenário ainda de sustentação da massa salarial. Não há perspectiva de reversão de tendência de curto prazo. A renda ainda tem espaço pra crescimento.